14/12/2008 - 13h55
REUTERS
MIANYANG, China (Reuters) - As nações ricas devem ter cuidado para não causar mais sofrimento ao mundo em desenvolvimento ao tomar medidas mais ousadas para fortalecer suas economias fragilizadas, disse o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, neste domingo.
Zoellick alertou que os países mais pobres, que já enfrentam grande perda de empregos, estão vulneráveis às conseqüências indiretas das políticas criadas para socorrer os mercados financeiros.
"Os países desenvolvidos garantiram muitos débitos bancários. Isso tornou difícil para os países em desenvolvimento, com bons programas orçamentários, conseguir lançar títulos no mercado", disse Zoellick em uma entrevista enquanto visitava a província chinesa de Sichuan, devastada por um terremoto em maio.
"É importante para os países em desenvolvimento reconhecer que em algum momento vão precisar de estratégias de saída para essas garantias ou ser capazes de discipliná-las", disse ele. "Não estou dizendo que devem tomar essa atitude agora, mas de outra forma os países em desenvolvimento vão arcar com o impacto disso".
O Banco Mundial disse na semana passada que o derretimento financeiro global está pesando muito nas economias em desenvolvimento, prevendo um crescimento de 4,5 por cento para o próximo ano diante dos 6,3 de 2008.
"Esta crise financeira virou uma crise econômica, e no ano que vem será uma crise de desemprego", disse Zoellick. "Será uma fase extremamente difícil".
Ele disse que a recuperação pode ser dificultada se os países se voltarem para si mesmos na tentativa de salvar suas economias, com pouca atenção para os outros.
"Estou preocupado que o desemprego, especialmente se combinado com os descontos nos preços, possa levar a ondas de protecionismo", disse ele.
Embora elogiando a expansão monetária e o estímulo fiscal nos EUA e em outras partes, Zoellick disse que tais políticas podem conter as sementes de futuros problemas econômicos, acrescentando que seria necessário disciplina para freá-las no longo prazo.
(Reportagem de Simon Rabinovitch)
domingo, 14 de dezembro de 2008
ENTREVISTA COM KENNTH ROGOFF
O ESTADO DE SÃO PAULO
Domingo, 14 de Dezembro de 2008 | Versão Impressa
''Crescimento zero será bom resultado para o Brasil em 2009''
Professor de Harvard diz que País está mais bem preparado para enfrentar a crise, mas não tem como escapar de seus efeitos
Leandro Modé
O americano Kenneth Rogoff, de 55 anos, é um dos mais respeitados economistas do mundo hoje, o que não significa que seja unanimidade. Suas posições ortodoxas, muitas vezes expressas de uma forma contundente, nem sempre agradam ao interlocutor. Em 2002, quando era economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), envolveu-se em uma polêmica pública com o ex-economista-chefe do Banco Mundial e ganhador do Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz. O tema da contenda era globalização. Talvez pelo cargo que tenha ocupado, Rogoff procura manter-se atualizado sobre a economia de vários países. Esse conhecimento dá a ele a certeza de que o mundo está em meio à pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Por isso, avisa: o Brasil deve dar-se por satisfeito se não enfrentar recessão em 2009. Rogoff, que hoje leciona na Universidade Harvard, conversou com o Estado, por telefone, durante uma viagem de trem de Boston para Nova York.
Leia a íntegra da entrevista
Em artigo publicado há duas semanas, o sr. disse que o maior problema dos países ricos é a recessão. Por isso, devem deixar os juros em segundo plano. O que dizer de países emergentes, como o Brasil?
Os países emergentes têm muito menos espaço para políticas contracíclicas do que os Estados Unidos e os efeitos da inflação são mais danosos. Nos EUA, a inflação reduz o valor real das dívidas e pode ser parte da solução dos atuais problemas. O Brasil não tem esse problema. Além disso, como a inflação no Brasil já é elevada, o Banco Central está entre a cruz e a espada.
Como assim?
A economia global está apenas entrando na pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. As commodities estão despencando e o mercado de crédito secou. Ou seja, é uma situação extremamente difícil e perigosa. O crescimento no Brasil certamente vai desacelerar. Mas, ao mesmo tempo, a inflação permanece elevada. Isso deixa ao Banco Central um espaço menor para responder como gostaria (à desaceleração). Além disso, o real depreciou-se fortemente. Reduzir a taxa de juros desvaloriza o real à frente. Mas, como os juros estão caindo rapidamente mundo afora, o BC brasileiro acabará reduzindo a taxa.
Quando?
Em breve (risos). Ainda que o Brasil esteja às voltas com preocupações inflacionárias, a economia global enfrenta o risco de deflação. Isso ocorre nos EUA, na China e na Europa. Os preços das commodities estão despencando e a produção industrial está caindo. O Brasil sentirá tudo isso logo. Quaisquer que sejam as pressões inflacionárias, serão revertidas em breve.
O sr. vê risco de recessão no País?
Há grande chance de o Brasil experimentar uma recessão suave. É quase impossível escapar disso, uma vez que se espera uma profunda recessão no mundo. O Brasil vai sofrer como todos os outros, mas não acho que sofrerá mais do que os outros. Todas as mudanças que o Brasil implementou nos últimos anos vão permitir que a reação seja muito melhor do que há 10 anos. É uma situação desastrosa, mas, em termos relativos, o Brasil está melhor do que muitos outros países.
Qual sua projeção para o crescimento do Brasil em 2009?
Crescimento zero será um bom resultado, levando-se em conta o ambiente global.
Mas as pessoas aqui falam algo entre 2% e 3%.
Elas são otimistas. A economia global está afundando muito rapidamente.
Qual o seu cenário principal para a economia mundial em 2009?
Como já disse, será a pior recessão desde a Segunda Guerra, mas nada que se assemelhe à Depressão dos anos 30.
O que o sr. espera especificamente para os EUA?
Uma recessão que dure 2009 inteiro. Em 2010 e 2011, o crescimento ainda permanecerá lento, abaixo de 2%. Os preços das residências continuarão a cair e o desemprego, a subir. Os emergentes também terão uma queda em 2009, mas se recuperarão mais fortemente em 2010 e 2011.
E o PIB (Produto Interno Bruto) americano em 2009?
Crescimento negativo entre 3% e 4%.
Com essa retração nos EUA, como fica o PIB mundial?
Pode ficar negativo, especialmente se a China desacelerar mais do que se espera. Isso ocorrerá certamente em um ou dois trimestres. Para o ano todo, espero um crescimento na faixa de 1%.
E a China?
A China também está sofrendo. Já esperava que a China poderia crescer no máximo 6% no ano que vem. Agora, não ficaria surpreso se o país crescesse menos ainda do que isso. Temos de cruzar os dedos para que a China não tenha uma ruptura econômico-social, porque isso poderia aprofundar ainda mais a recessão global.
Alguns países estão sofrendo mais que os outros, como, por exemplo, a Hungria e a Rússia. Por quê?
A Hungria teria uma crise financeira de qualquer maneira. Eles tinham um endividamento instável, uma situação fiscal ruim. A Rússia é outro assunto. É basicamente uma economia de commodity (petróleo). O sistema russo não estava preparado para um petróleo a US$ 40. Eles nunca permitiram que a economia se diversificasse. O Brasil, por exemplo, tem uma economia muito mais diversificada.
Qual sua expectativa em relação à administração Barack Obama?
Ele montou uma grande equipe, incluindo (Timothy) Geithner (que será secretário do Tesouro), (Larry) Summers (que será diretor do Conselho Econômico da Casa Branca) e (Paul) Volcker (ex-presidente do BC americano, Fed, indicado para dirigir um conselho destinado a propor soluções para a crise). Por si só, isso já inspira confiança. Obama fará um serviço muito melhor do que (George W.) Bush no que se refere às pessoas se sentirem assistidas, e isso vai melhorar o humor da população. A administração atual já está em férias. Mas não deve haver dúvidas: mesmo os melhores e mais brilhantes não serão capazes de resolver o problema da noite para o dia.
Domingo, 14 de Dezembro de 2008 | Versão Impressa
''Crescimento zero será bom resultado para o Brasil em 2009''
Professor de Harvard diz que País está mais bem preparado para enfrentar a crise, mas não tem como escapar de seus efeitos
Leandro Modé
O americano Kenneth Rogoff, de 55 anos, é um dos mais respeitados economistas do mundo hoje, o que não significa que seja unanimidade. Suas posições ortodoxas, muitas vezes expressas de uma forma contundente, nem sempre agradam ao interlocutor. Em 2002, quando era economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), envolveu-se em uma polêmica pública com o ex-economista-chefe do Banco Mundial e ganhador do Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz. O tema da contenda era globalização. Talvez pelo cargo que tenha ocupado, Rogoff procura manter-se atualizado sobre a economia de vários países. Esse conhecimento dá a ele a certeza de que o mundo está em meio à pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Por isso, avisa: o Brasil deve dar-se por satisfeito se não enfrentar recessão em 2009. Rogoff, que hoje leciona na Universidade Harvard, conversou com o Estado, por telefone, durante uma viagem de trem de Boston para Nova York.
Leia a íntegra da entrevista
Em artigo publicado há duas semanas, o sr. disse que o maior problema dos países ricos é a recessão. Por isso, devem deixar os juros em segundo plano. O que dizer de países emergentes, como o Brasil?
Os países emergentes têm muito menos espaço para políticas contracíclicas do que os Estados Unidos e os efeitos da inflação são mais danosos. Nos EUA, a inflação reduz o valor real das dívidas e pode ser parte da solução dos atuais problemas. O Brasil não tem esse problema. Além disso, como a inflação no Brasil já é elevada, o Banco Central está entre a cruz e a espada.
Como assim?
A economia global está apenas entrando na pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. As commodities estão despencando e o mercado de crédito secou. Ou seja, é uma situação extremamente difícil e perigosa. O crescimento no Brasil certamente vai desacelerar. Mas, ao mesmo tempo, a inflação permanece elevada. Isso deixa ao Banco Central um espaço menor para responder como gostaria (à desaceleração). Além disso, o real depreciou-se fortemente. Reduzir a taxa de juros desvaloriza o real à frente. Mas, como os juros estão caindo rapidamente mundo afora, o BC brasileiro acabará reduzindo a taxa.
Quando?
Em breve (risos). Ainda que o Brasil esteja às voltas com preocupações inflacionárias, a economia global enfrenta o risco de deflação. Isso ocorre nos EUA, na China e na Europa. Os preços das commodities estão despencando e a produção industrial está caindo. O Brasil sentirá tudo isso logo. Quaisquer que sejam as pressões inflacionárias, serão revertidas em breve.
O sr. vê risco de recessão no País?
Há grande chance de o Brasil experimentar uma recessão suave. É quase impossível escapar disso, uma vez que se espera uma profunda recessão no mundo. O Brasil vai sofrer como todos os outros, mas não acho que sofrerá mais do que os outros. Todas as mudanças que o Brasil implementou nos últimos anos vão permitir que a reação seja muito melhor do que há 10 anos. É uma situação desastrosa, mas, em termos relativos, o Brasil está melhor do que muitos outros países.
Qual sua projeção para o crescimento do Brasil em 2009?
Crescimento zero será um bom resultado, levando-se em conta o ambiente global.
Mas as pessoas aqui falam algo entre 2% e 3%.
Elas são otimistas. A economia global está afundando muito rapidamente.
Qual o seu cenário principal para a economia mundial em 2009?
Como já disse, será a pior recessão desde a Segunda Guerra, mas nada que se assemelhe à Depressão dos anos 30.
O que o sr. espera especificamente para os EUA?
Uma recessão que dure 2009 inteiro. Em 2010 e 2011, o crescimento ainda permanecerá lento, abaixo de 2%. Os preços das residências continuarão a cair e o desemprego, a subir. Os emergentes também terão uma queda em 2009, mas se recuperarão mais fortemente em 2010 e 2011.
E o PIB (Produto Interno Bruto) americano em 2009?
Crescimento negativo entre 3% e 4%.
Com essa retração nos EUA, como fica o PIB mundial?
Pode ficar negativo, especialmente se a China desacelerar mais do que se espera. Isso ocorrerá certamente em um ou dois trimestres. Para o ano todo, espero um crescimento na faixa de 1%.
E a China?
A China também está sofrendo. Já esperava que a China poderia crescer no máximo 6% no ano que vem. Agora, não ficaria surpreso se o país crescesse menos ainda do que isso. Temos de cruzar os dedos para que a China não tenha uma ruptura econômico-social, porque isso poderia aprofundar ainda mais a recessão global.
Alguns países estão sofrendo mais que os outros, como, por exemplo, a Hungria e a Rússia. Por quê?
A Hungria teria uma crise financeira de qualquer maneira. Eles tinham um endividamento instável, uma situação fiscal ruim. A Rússia é outro assunto. É basicamente uma economia de commodity (petróleo). O sistema russo não estava preparado para um petróleo a US$ 40. Eles nunca permitiram que a economia se diversificasse. O Brasil, por exemplo, tem uma economia muito mais diversificada.
Qual sua expectativa em relação à administração Barack Obama?
Ele montou uma grande equipe, incluindo (Timothy) Geithner (que será secretário do Tesouro), (Larry) Summers (que será diretor do Conselho Econômico da Casa Branca) e (Paul) Volcker (ex-presidente do BC americano, Fed, indicado para dirigir um conselho destinado a propor soluções para a crise). Por si só, isso já inspira confiança. Obama fará um serviço muito melhor do que (George W.) Bush no que se refere às pessoas se sentirem assistidas, e isso vai melhorar o humor da população. A administração atual já está em férias. Mas não deve haver dúvidas: mesmo os melhores e mais brilhantes não serão capazes de resolver o problema da noite para o dia.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
FALA MENDONÇA DE BARROS – EM QUEM A CRISE VAI DOER MAIS
FALA MENDONÇA DE BARROS – EM QUEM A CRISE VAI DOER MAIS
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo FHC, é hoje economista-chefe da Quest Investimentos. Dentro do governo ou fora dele — já há muitos anos —, sua capacidade de antecipar cenários, com impressionante dose de acerto, é reconhecida por admiradores e adversários. Na entrevista abaixo, concedida com exclusividade a este blog, ele diz qual é a fatia dos brasileiros que vai sentir primeiro os efeitos da crise global — que já chegou ao Brasil, incomodando bem mais do que uma simples marolinha. Com base em dados colhidos pela MB Consultores Econômicos, ele afirma que “haverá uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos”. Pois é, leitor amigo...
Uma das características de Mendonça de Barros é pensar as implicações políticas da economia. Não havendo um agravamento da crise, ele antevê: “O presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos (...). Eles devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida.”
O país crescerá os 4% antevistos pelo ministro Guido Mantega (Fazenda)? “Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano”, afirma Mendonça de Barros.
Na conversa abaixo, ele lembra que os economistas esperavam há tempos uma drástica desaceleração da economia mundial. A crise que chegou, diz, traz características que já tinham sido antevistas, mas também surpreende em muitos aspectos. Segue a entrevista:
Há alguns anos, economistas falam do risco do “The Big One” na economia, aquela que seria realmente uma crise grave, com terríveis efeitos globais. Queria que o senhor caracterizasse a crise que se esperava então.
Há muitos anos vivemos um grande desequilíbrio macroeconômico no mundo, representado pelo excesso de consumo privado nos EUA e de poupança em parte importante do mundo, principalmente na Ásia. Mais recentemente, durante a era Bush, o governo passou a incorrer também em grandes déficits fiscais. Em outras palavras: a taxa de poupança americana ficou ainda mais negativa, o que levou os EUA a ter déficits crescentes em seu comércio com o mundo exterior, como ensina qualquer livro-texto de economia.
Como os EUA emitem a moeda internacional, que é o dólar, esse desequilíbrio se transformou em uma fonte de instabilidade cambial, com um processo continuado de desvalorização da moeda americana. Criou também uma situação de excessiva liquidez no sistema bancário mundial, provocando uma expansão desordenada do crédito em vários países do mundo, principalmente nos próprios EUA, à medida que os dólares exportados voltavam para Wall Street. Essa dinâmica atingiu um estagio gravíssimo nos últimos dois anos, com um aumento brutal da liquidez financeira.
Um dos resultados deste processo de expansão do consumo americano foi o crescimento vigoroso de um grupo de economias emergentes – liderados pela China – por meio do comércio exterior e do investimento privado no setor industrial exportador. Os recursos gerados pelo crescimento de suas exportações passaram a ser reciclados para os EUA por intermédio de aplicações financeiras, fechando o ciclo de desequilíbrios e financiando o déficit externo americano. Vale dizer: governos como o chinês e os dos países exportadores de petróleo equilibravam a balança de pagamentos americana por intermédio da compra maciça de títulos emitidos por Washington.
A correção desses desequilíbrios era uma questão de tempo e viria necessariamente por uma redução do consumo nos EUA e de um aumento da poupança privada – principalmente das famílias – da ordem de 7% a 10% do PIB. A esse movimento tectônico, os economistas passaram a chamar de “The Big One”, expressão tomada emprestada do grande terremoto que se espera na região de Los Angeles.
Mas a crise parece não ter chegado por onde se esperava, não é? O que nela surpreende e o que já estava previsto?
Os defensores da inevitabilidade do The Big One econômico acreditavam que ele seria provocado por uma recusa dos investidores internacionais em continuar a financiar os EUA e receber uma moeda – o dólar – em processo acelerado de perda de valor. Seria essa recusa a origem desse grande ajuste macro na maior economia do mundo.
Mas The Big One teve seu início de forma diferente, com o colapso do sistema bancário americano em função do estouro da bolha imobiliária e da crise de confiança que se seguiu. E o resultado desse ajuste inesperado provocou uma valorização da moeda americana em relação às principais moedas do mundo, com exceção do iene japonês, movimento contrário ao das previsões.
Mas o ponto central era que, em determinado momento, a dependência do consumidor do crédito ilimitado chegaria ao fim, o que resultaria numa redução brusca do consumo e numa situação de recessão profunda na maior economia do mundo. Essa parada brusca nos EUA teria reflexos imediatos no resto do mundo, levando a uma situação de recessão mundial. E isso está realmente acontecendo.
A crise começou no mercado imobiliário, pegou os bancos, que financiavam a farra, e chegou às empresas. Ainda há espaço para surpresas?
Até agora, vivemos os efeitos do terremoto financeiro iniciado com a realização de enormes prejuízos no sistema bancário americano e europeu e uma fuga generalizada para investimentos mais seguros, principalmente títulos públicos dos governos americano e europeus. Esse clima de pânico entre os investidores espalhados pelo mundo provocou um processo brutal de venda de títulos de crédito privado e de ações, gerando uma perda incalculável de riqueza financeira ao redor do mundo.
Agora, vivemos os efeitos de um processo generalizado e profundo de queda da atividade econômica, com redução dos lucros das empresas, do emprego e do salário. O quarto trimestre deste ano deve apresentar números assustadores de crescimento, principalmente nos EUA. O PIB americano deve cair 4% em relação ao do mesmo período de 2007. Essa etapa é mais perigosa que a primeira, pois pode levar o mundo a uma situação de depressão sem paralelo nas últimas décadas.
As medidas tomadas até agora, por exemplo, pelos países do G 20 foram inúteis?
As ações mais vigorosas dos Bancos Centrais do G 20 podem ter estancado o pânico financeiro dos últimos meses, mas entramos agora em uma nova fase da crise em função doe risco real de depressão econômica. O único instrumento de ação conhecido para essa situação é a expansão vigorosa dos gastos públicos nos moldes do pensamento keynesiano tradicional. Mas não se sabe, com certeza, como realizar este movimento depois de décadas de desmontagem dos instrumentos públicos de ação sobre a economia privada. Para mim, essa é a grande fonte de incertezas que vivemos hoje e que vai marcar o inicio do mandato do presidente Obama.
O senhor acredita que o presidente Lula, o Lírico da Marolinha, se deu conta do tamanho da crise?
Nosso presidente já mostrou que tem uma intuição muito forte para identificar riscos para seu governo. Embora a crise só tenha chegado ao Brasil em outubro, as informações já disponíveis — e certamente de conhecimento de Lula — são suficientes para que ele se arrependa da imagem da marolinha. Basta ver a intensidade das ações do governo na tentativa de preservar o crédito bancário no Brasil. Não tenho dúvida de que Lula sabe hoje que a imagem inicial da marolinha foi um grande erro de comunicação. Ele está agora fazendo um movimento de opinião pública para preparar os brasileiros menos informados para uma realidade bem mais difícil. Para ele, será fundamental preservar o Natal e deixar que os dias piores na economia apareçam apenas depois da virada do ano. Minha intuição me diz, entretanto, que o governo não acordou ainda para a verdadeira dimensão das mudanças que vão ocorrer na economia brasileira em 2009. Isso vai acontecer depois de um período mais longo, talvez apenas na Quarta–Feira de Cinzas ....
A crise pega a economia brasileira com os índices no pico. O senhor acredita que as medidas tomadas pelo governo federal, seguidas por outras de São Paulo e Minas, que tentam manter elevado o consumo, são uma boa resposta para a crise? Por quê?
São medidas para amortecer no tempo os efeitos que estão chegando ao lado real da economia. Como já disse, o Natal está próximo, e o presidente já prometeu varias vezes que o brasileiro vai ter um período de festas muito favorável. É fundamental para a sua credibilidade que as empresas deixem para o inicio de 2009 o processo de ajustes — emprego e produção — que necessariamente vão ocorrer. Nesse sentido, eu diria que as medidas são eficientes e devem manter o bom momento para o consumidor por mais algum tempo. A massa salarial deve se estabilizar com os primeiros sinais de redução do emprego muito localizado em regiões como São Paulo.
Mas, na sua opinião, o país cresce, em 2009, os 4% previstos por Guido Mantega?
As medidas adotadas não vão impedir que o próximo ano seja muito menos brilhante do que o período 2006-2008. As previsões dos analistas apontam para um crescimento do PIB, em 2009, da ordem de 2,5%, sendo, que na primeira metade do ano, o número deve ser pouco inferior a 2% ao ano. Não se prevê nenhum desastre, mas apenas uma dinâmica menos brilhante.
O crédito secou. Temos sinais claros de desaceleração, mas a crise ainda não chegou às classes C e D. Vai chegar?
Inicialmente, a crise vai ser mais sentida nas classes de renda mais alta e na região Sudesete. A MB Consultores Econômicos prevê, para 2009, uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos. Para os que ganham até cinco mínimos, a renda do trabalho deve ser igual à de 2008, sem crescimento.
Esse cenário foi construído assumindo-se que a crise internacional não se aprofunde e que a economia americana já se mostre em recuperação no quarto trimestre do próximo ano. Nesse caso, o presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos. Os brasileiros de renda mais baixa devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida. O efeito maior sobre esses brasileiros virá de uma menor disponibilidade de credito e, portanto, da capacidade de consumir bens industriais.
Mas é importante ressaltar que esse cenário depende de uma recuperação da economia mundial ainda em 2009. Se isto não acontecer, poderemos ter uma situação bem menos confortável para o presidente Lula na segunda metade do próximo ano.
Até quando a China resiste como uma espécie de esperança dos emergentes?
O crescimento econômico chinês para 2009 é hoje um das questões mais importantes para o mundo emergente, principalmente para países exportadores de commodities, como é o Brasil. Foi a demanda chinesa a peça chave na melhora expressiva dos preços destes produtos entre 2002 e 2007, permitindo que o Brasil aumentasse o valor de suas exportações. Esse movimento permitiu que nossas importações tivessem um crescimento intenso ao longo do período 2006-2007. Foi essa maior disponibilidade de produtos importados que permitiu que se multiplicasse por dois a taxa de crescimento do PIB sem que voltasse a inflação do passado.
Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano.
As melhores previsões para o crescimento chinês em 2009 apontam para uma redução expressiva, algo na faixa dos 7% ao ano. Mas a China terá, no próximo ano, uma liberdade maior que outras economias para acelerar seu crescimento por intermédio dos gastos do governo. Poderemos ter, já nos últimos meses de 2009, uma volta a taxas mais elevadas de crescimento econômico. Se isso acontecer, poderemos ter uma melhora nos preços das commodities e uma folga maior em nosso comercio exterior.
Lula deverá, em 2009, fixar um olho no gato – a economia americana – e outro no peixe chinês.
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo FHC, é hoje economista-chefe da Quest Investimentos. Dentro do governo ou fora dele — já há muitos anos —, sua capacidade de antecipar cenários, com impressionante dose de acerto, é reconhecida por admiradores e adversários. Na entrevista abaixo, concedida com exclusividade a este blog, ele diz qual é a fatia dos brasileiros que vai sentir primeiro os efeitos da crise global — que já chegou ao Brasil, incomodando bem mais do que uma simples marolinha. Com base em dados colhidos pela MB Consultores Econômicos, ele afirma que “haverá uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos”. Pois é, leitor amigo...
Uma das características de Mendonça de Barros é pensar as implicações políticas da economia. Não havendo um agravamento da crise, ele antevê: “O presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos (...). Eles devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida.”
O país crescerá os 4% antevistos pelo ministro Guido Mantega (Fazenda)? “Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano”, afirma Mendonça de Barros.
Na conversa abaixo, ele lembra que os economistas esperavam há tempos uma drástica desaceleração da economia mundial. A crise que chegou, diz, traz características que já tinham sido antevistas, mas também surpreende em muitos aspectos. Segue a entrevista:
Há alguns anos, economistas falam do risco do “The Big One” na economia, aquela que seria realmente uma crise grave, com terríveis efeitos globais. Queria que o senhor caracterizasse a crise que se esperava então.
Há muitos anos vivemos um grande desequilíbrio macroeconômico no mundo, representado pelo excesso de consumo privado nos EUA e de poupança em parte importante do mundo, principalmente na Ásia. Mais recentemente, durante a era Bush, o governo passou a incorrer também em grandes déficits fiscais. Em outras palavras: a taxa de poupança americana ficou ainda mais negativa, o que levou os EUA a ter déficits crescentes em seu comércio com o mundo exterior, como ensina qualquer livro-texto de economia.
Como os EUA emitem a moeda internacional, que é o dólar, esse desequilíbrio se transformou em uma fonte de instabilidade cambial, com um processo continuado de desvalorização da moeda americana. Criou também uma situação de excessiva liquidez no sistema bancário mundial, provocando uma expansão desordenada do crédito em vários países do mundo, principalmente nos próprios EUA, à medida que os dólares exportados voltavam para Wall Street. Essa dinâmica atingiu um estagio gravíssimo nos últimos dois anos, com um aumento brutal da liquidez financeira.
Um dos resultados deste processo de expansão do consumo americano foi o crescimento vigoroso de um grupo de economias emergentes – liderados pela China – por meio do comércio exterior e do investimento privado no setor industrial exportador. Os recursos gerados pelo crescimento de suas exportações passaram a ser reciclados para os EUA por intermédio de aplicações financeiras, fechando o ciclo de desequilíbrios e financiando o déficit externo americano. Vale dizer: governos como o chinês e os dos países exportadores de petróleo equilibravam a balança de pagamentos americana por intermédio da compra maciça de títulos emitidos por Washington.
A correção desses desequilíbrios era uma questão de tempo e viria necessariamente por uma redução do consumo nos EUA e de um aumento da poupança privada – principalmente das famílias – da ordem de 7% a 10% do PIB. A esse movimento tectônico, os economistas passaram a chamar de “The Big One”, expressão tomada emprestada do grande terremoto que se espera na região de Los Angeles.
Mas a crise parece não ter chegado por onde se esperava, não é? O que nela surpreende e o que já estava previsto?
Os defensores da inevitabilidade do The Big One econômico acreditavam que ele seria provocado por uma recusa dos investidores internacionais em continuar a financiar os EUA e receber uma moeda – o dólar – em processo acelerado de perda de valor. Seria essa recusa a origem desse grande ajuste macro na maior economia do mundo.
Mas The Big One teve seu início de forma diferente, com o colapso do sistema bancário americano em função do estouro da bolha imobiliária e da crise de confiança que se seguiu. E o resultado desse ajuste inesperado provocou uma valorização da moeda americana em relação às principais moedas do mundo, com exceção do iene japonês, movimento contrário ao das previsões.
Mas o ponto central era que, em determinado momento, a dependência do consumidor do crédito ilimitado chegaria ao fim, o que resultaria numa redução brusca do consumo e numa situação de recessão profunda na maior economia do mundo. Essa parada brusca nos EUA teria reflexos imediatos no resto do mundo, levando a uma situação de recessão mundial. E isso está realmente acontecendo.
A crise começou no mercado imobiliário, pegou os bancos, que financiavam a farra, e chegou às empresas. Ainda há espaço para surpresas?
Até agora, vivemos os efeitos do terremoto financeiro iniciado com a realização de enormes prejuízos no sistema bancário americano e europeu e uma fuga generalizada para investimentos mais seguros, principalmente títulos públicos dos governos americano e europeus. Esse clima de pânico entre os investidores espalhados pelo mundo provocou um processo brutal de venda de títulos de crédito privado e de ações, gerando uma perda incalculável de riqueza financeira ao redor do mundo.
Agora, vivemos os efeitos de um processo generalizado e profundo de queda da atividade econômica, com redução dos lucros das empresas, do emprego e do salário. O quarto trimestre deste ano deve apresentar números assustadores de crescimento, principalmente nos EUA. O PIB americano deve cair 4% em relação ao do mesmo período de 2007. Essa etapa é mais perigosa que a primeira, pois pode levar o mundo a uma situação de depressão sem paralelo nas últimas décadas.
As medidas tomadas até agora, por exemplo, pelos países do G 20 foram inúteis?
As ações mais vigorosas dos Bancos Centrais do G 20 podem ter estancado o pânico financeiro dos últimos meses, mas entramos agora em uma nova fase da crise em função doe risco real de depressão econômica. O único instrumento de ação conhecido para essa situação é a expansão vigorosa dos gastos públicos nos moldes do pensamento keynesiano tradicional. Mas não se sabe, com certeza, como realizar este movimento depois de décadas de desmontagem dos instrumentos públicos de ação sobre a economia privada. Para mim, essa é a grande fonte de incertezas que vivemos hoje e que vai marcar o inicio do mandato do presidente Obama.
O senhor acredita que o presidente Lula, o Lírico da Marolinha, se deu conta do tamanho da crise?
Nosso presidente já mostrou que tem uma intuição muito forte para identificar riscos para seu governo. Embora a crise só tenha chegado ao Brasil em outubro, as informações já disponíveis — e certamente de conhecimento de Lula — são suficientes para que ele se arrependa da imagem da marolinha. Basta ver a intensidade das ações do governo na tentativa de preservar o crédito bancário no Brasil. Não tenho dúvida de que Lula sabe hoje que a imagem inicial da marolinha foi um grande erro de comunicação. Ele está agora fazendo um movimento de opinião pública para preparar os brasileiros menos informados para uma realidade bem mais difícil. Para ele, será fundamental preservar o Natal e deixar que os dias piores na economia apareçam apenas depois da virada do ano. Minha intuição me diz, entretanto, que o governo não acordou ainda para a verdadeira dimensão das mudanças que vão ocorrer na economia brasileira em 2009. Isso vai acontecer depois de um período mais longo, talvez apenas na Quarta–Feira de Cinzas ....
A crise pega a economia brasileira com os índices no pico. O senhor acredita que as medidas tomadas pelo governo federal, seguidas por outras de São Paulo e Minas, que tentam manter elevado o consumo, são uma boa resposta para a crise? Por quê?
São medidas para amortecer no tempo os efeitos que estão chegando ao lado real da economia. Como já disse, o Natal está próximo, e o presidente já prometeu varias vezes que o brasileiro vai ter um período de festas muito favorável. É fundamental para a sua credibilidade que as empresas deixem para o inicio de 2009 o processo de ajustes — emprego e produção — que necessariamente vão ocorrer. Nesse sentido, eu diria que as medidas são eficientes e devem manter o bom momento para o consumidor por mais algum tempo. A massa salarial deve se estabilizar com os primeiros sinais de redução do emprego muito localizado em regiões como São Paulo.
Mas, na sua opinião, o país cresce, em 2009, os 4% previstos por Guido Mantega?
As medidas adotadas não vão impedir que o próximo ano seja muito menos brilhante do que o período 2006-2008. As previsões dos analistas apontam para um crescimento do PIB, em 2009, da ordem de 2,5%, sendo, que na primeira metade do ano, o número deve ser pouco inferior a 2% ao ano. Não se prevê nenhum desastre, mas apenas uma dinâmica menos brilhante.
O crédito secou. Temos sinais claros de desaceleração, mas a crise ainda não chegou às classes C e D. Vai chegar?
Inicialmente, a crise vai ser mais sentida nas classes de renda mais alta e na região Sudesete. A MB Consultores Econômicos prevê, para 2009, uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos. Para os que ganham até cinco mínimos, a renda do trabalho deve ser igual à de 2008, sem crescimento.
Esse cenário foi construído assumindo-se que a crise internacional não se aprofunde e que a economia americana já se mostre em recuperação no quarto trimestre do próximo ano. Nesse caso, o presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos. Os brasileiros de renda mais baixa devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida. O efeito maior sobre esses brasileiros virá de uma menor disponibilidade de credito e, portanto, da capacidade de consumir bens industriais.
Mas é importante ressaltar que esse cenário depende de uma recuperação da economia mundial ainda em 2009. Se isto não acontecer, poderemos ter uma situação bem menos confortável para o presidente Lula na segunda metade do próximo ano.
Até quando a China resiste como uma espécie de esperança dos emergentes?
O crescimento econômico chinês para 2009 é hoje um das questões mais importantes para o mundo emergente, principalmente para países exportadores de commodities, como é o Brasil. Foi a demanda chinesa a peça chave na melhora expressiva dos preços destes produtos entre 2002 e 2007, permitindo que o Brasil aumentasse o valor de suas exportações. Esse movimento permitiu que nossas importações tivessem um crescimento intenso ao longo do período 2006-2007. Foi essa maior disponibilidade de produtos importados que permitiu que se multiplicasse por dois a taxa de crescimento do PIB sem que voltasse a inflação do passado.
Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano.
As melhores previsões para o crescimento chinês em 2009 apontam para uma redução expressiva, algo na faixa dos 7% ao ano. Mas a China terá, no próximo ano, uma liberdade maior que outras economias para acelerar seu crescimento por intermédio dos gastos do governo. Poderemos ter, já nos últimos meses de 2009, uma volta a taxas mais elevadas de crescimento econômico. Se isso acontecer, poderemos ter uma melhora nos preços das commodities e uma folga maior em nosso comercio exterior.
Lula deverá, em 2009, fixar um olho no gato – a economia americana – e outro no peixe chinês.
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blog do Reinaldo Azevedo
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
A PETROBRAS E O BRASIL
Comentário do Dia » 14.11.08
WWW.INSTITUTOLIBERAL.ORG.BR
A Petrobras é bem um modelo reduzido do Brasil. Quando o mundo crescia a taxas extremamente elevadas e o Brasil a taxas iguais à média, Lulla ampliou de forma extraordinária o número de funcionários públicos, o número de cargos de confiança – leiam-se: petistas e sindicalistas – e aumentou os salários em generosas percentagens. O mundo mudou, a arrecadação certamente cairá, mas o Presidente, especialmente em ano eleitoral, não vai reduzir os reajustes. Obviamente vamos ter uma combinação de dois fatores:
· Aumento nos impostos e taxas
· Redução no volume de investimentos
O último balanço da Petrobras, uma caixa preta de difícil acesso, mostra que a empresa teve um aumento de mais R$2,4 bilhões em despesas operacionais no terceiro trimestre**. Tal como o País, a Petrobras pensou um mundo com preços de petróleo perto dos US$200/barril. Esta empresa que, por vários anos, destinou volumosos recursos para cobrir os déficits de seu generoso fundo de pensão, ignorando os acionistas privados, agora anuncia que vai adiar os investimentos no pré-sal.
Se tivéssemos tido menos empáfia, o Tesouro teria recebido um volume bem maior de royalties porque, àquela altura, os investidores estrangeiros iriam brigar para perfurar o pré-sal. A mudança nas regras do jogo sugeridas envolvia, até mesmo, a criação de uma empresa 100% estatal para administrar as jazidas do novo sheik do petróleo.
É preciso prudência para não criar ou elevar despesas fixas quando o negócio está indo bem. A Petrobras e o Brasil incorreram no mesmo erro: o de avaliar um negócio pelo seu melhor momento. As ações da Petrobras caíram, em um só dia, 13,75% do seu valor.
** Folha de S. Paulo / Dinheiro, p. 4B, 13.11.08.
* Presidente do Instituto Liberal
WWW.INSTITUTOLIBERAL.ORG.BR
Arthur Chagas Diniz*
A Petrobras é bem um modelo reduzido do Brasil. Quando o mundo crescia a taxas extremamente elevadas e o Brasil a taxas iguais à média, Lulla ampliou de forma extraordinária o número de funcionários públicos, o número de cargos de confiança – leiam-se: petistas e sindicalistas – e aumentou os salários em generosas percentagens. O mundo mudou, a arrecadação certamente cairá, mas o Presidente, especialmente em ano eleitoral, não vai reduzir os reajustes. Obviamente vamos ter uma combinação de dois fatores:
· Aumento nos impostos e taxas
· Redução no volume de investimentos
O último balanço da Petrobras, uma caixa preta de difícil acesso, mostra que a empresa teve um aumento de mais R$2,4 bilhões em despesas operacionais no terceiro trimestre**. Tal como o País, a Petrobras pensou um mundo com preços de petróleo perto dos US$200/barril. Esta empresa que, por vários anos, destinou volumosos recursos para cobrir os déficits de seu generoso fundo de pensão, ignorando os acionistas privados, agora anuncia que vai adiar os investimentos no pré-sal.
Se tivéssemos tido menos empáfia, o Tesouro teria recebido um volume bem maior de royalties porque, àquela altura, os investidores estrangeiros iriam brigar para perfurar o pré-sal. A mudança nas regras do jogo sugeridas envolvia, até mesmo, a criação de uma empresa 100% estatal para administrar as jazidas do novo sheik do petróleo.
É preciso prudência para não criar ou elevar despesas fixas quando o negócio está indo bem. A Petrobras e o Brasil incorreram no mesmo erro: o de avaliar um negócio pelo seu melhor momento. As ações da Petrobras caíram, em um só dia, 13,75% do seu valor.
** Folha de S. Paulo / Dinheiro, p. 4B, 13.11.08.
* Presidente do Instituto Liberal
"Big One" finalmente chegou
São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROSO
ECONOMISTAS importantes vêm há muito tempo -alguns há mais de oito anos- alertando para uma grande correção na economia norte-americana em razão de seus déficits externos crescentes. Alguns chamaram esse movimento de "The Big One", em homenagem ao grande terremoto previsto para acontecer na região de Los Angeles. Esse abalo sísmico econômico seria a conseqüência de um vigoroso e inevitável aumento na taxa de poupança do consumidor, única forma conhecida para ajustar a conta corrente norte-americana. Os medos foram crescendo nos últimos anos por causa da verdadeira orgia de crédito ocorrida nos Estados Unidos, que aumentou progressivamente a armadilha financeira. Nesse período, a relação entre o endividamento das famílias e o PIB chegou ao número incrível de 130%. Não por outra razão, o déficit na conta corrente atingiu quase US$ 800 bilhões, cerca de 6% do PIB. Esses números representam o outro lado da moeda da expansão descontrolada do crédito ao consumidor.
Muito embora o "Big One" tenha sido antecipado, sua ocorrência agora não tem nada a ver com as previsões de uns poucos iluminados. Para esses, seria a desconfiança dos mercados e dos investidores em relação ao dólar que provocaria um movimento tectônico na economia norte-americana, a partir do colapso de sua moeda. Entretanto a correção macroeconômica está ocorrendo com o dólar forte e em processo continuado de valorização em relação a todas as moedas do mundo, com exceção do iene japonês. Esqueceram de que a moeda reserva não é facilmente substituível, especialmente em um mundo em recessão. Mas o que interessa ao analista econômico de hoje não são as causas desse movimento, mas suas conseqüências sobre a economia global. E elas serão dramáticas nos próximos anos. Segundo algumas avaliações, o processo de correção do comportamento do consumidor americano só deve se estabilizar quando a taxa de poupança chegar a algo como 7% do PIB. A velocidade desse ajuste dependerá das condições do crédito bancário ao longo dos próximos meses. Até o novo equilíbrio, a redução dos gastos dos americanos deverá subtrair cerca de 4% do crescimento da maior economia do mundo.
Isso implica dizer que os Estados Unidos devem crescer a taxas menores do que 1% ao ano, se esse processo se realizar ao longo dos próximos três anos. Se ele ocorrer em prazo mais curto, devido à recuperação mais lenta do crédito, a recessão pode se espalhar por 2009 e por um bom pedaço de 2010. A política fiscal também será um elemento importante para definir o perfil do ajuste.
Essa nova dinâmica dos Estados Unidos terá repercussão muito importante no mundo emergente e principalmente no Brasil. No cenário de uma recessão mais prolongada, os preços das commodities devem permanecer deprimidos, reduzindo os termos de troca de nossa economia. Os preços das commodities já regrediram aos níveis de 2002, eliminando todos os ganhos dos últimos anos. Em outras palavras, ficamos mais pobres e perdemos a possibilidade de continuar importando bens industriais de consumo e investimentos na intensidade atual.
Essa nova situação nos obriga a repensar nossa política econômica e a deixar a euforia dos últimos anos para trás. No terceiro trimestre deste ano, a economia brasileira cresceu cerca de 6% em termos anualizados. Temos de nos preparar para números bem mais baixos para os próximos anos.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 65, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).lcmb2@terra.com.br
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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROSO
ECONOMISTAS importantes vêm há muito tempo -alguns há mais de oito anos- alertando para uma grande correção na economia norte-americana em razão de seus déficits externos crescentes. Alguns chamaram esse movimento de "The Big One", em homenagem ao grande terremoto previsto para acontecer na região de Los Angeles. Esse abalo sísmico econômico seria a conseqüência de um vigoroso e inevitável aumento na taxa de poupança do consumidor, única forma conhecida para ajustar a conta corrente norte-americana. Os medos foram crescendo nos últimos anos por causa da verdadeira orgia de crédito ocorrida nos Estados Unidos, que aumentou progressivamente a armadilha financeira. Nesse período, a relação entre o endividamento das famílias e o PIB chegou ao número incrível de 130%. Não por outra razão, o déficit na conta corrente atingiu quase US$ 800 bilhões, cerca de 6% do PIB. Esses números representam o outro lado da moeda da expansão descontrolada do crédito ao consumidor.
Muito embora o "Big One" tenha sido antecipado, sua ocorrência agora não tem nada a ver com as previsões de uns poucos iluminados. Para esses, seria a desconfiança dos mercados e dos investidores em relação ao dólar que provocaria um movimento tectônico na economia norte-americana, a partir do colapso de sua moeda. Entretanto a correção macroeconômica está ocorrendo com o dólar forte e em processo continuado de valorização em relação a todas as moedas do mundo, com exceção do iene japonês. Esqueceram de que a moeda reserva não é facilmente substituível, especialmente em um mundo em recessão. Mas o que interessa ao analista econômico de hoje não são as causas desse movimento, mas suas conseqüências sobre a economia global. E elas serão dramáticas nos próximos anos. Segundo algumas avaliações, o processo de correção do comportamento do consumidor americano só deve se estabilizar quando a taxa de poupança chegar a algo como 7% do PIB. A velocidade desse ajuste dependerá das condições do crédito bancário ao longo dos próximos meses. Até o novo equilíbrio, a redução dos gastos dos americanos deverá subtrair cerca de 4% do crescimento da maior economia do mundo.
Isso implica dizer que os Estados Unidos devem crescer a taxas menores do que 1% ao ano, se esse processo se realizar ao longo dos próximos três anos. Se ele ocorrer em prazo mais curto, devido à recuperação mais lenta do crédito, a recessão pode se espalhar por 2009 e por um bom pedaço de 2010. A política fiscal também será um elemento importante para definir o perfil do ajuste.
Essa nova dinâmica dos Estados Unidos terá repercussão muito importante no mundo emergente e principalmente no Brasil. No cenário de uma recessão mais prolongada, os preços das commodities devem permanecer deprimidos, reduzindo os termos de troca de nossa economia. Os preços das commodities já regrediram aos níveis de 2002, eliminando todos os ganhos dos últimos anos. Em outras palavras, ficamos mais pobres e perdemos a possibilidade de continuar importando bens industriais de consumo e investimentos na intensidade atual.
Essa nova situação nos obriga a repensar nossa política econômica e a deixar a euforia dos últimos anos para trás. No terceiro trimestre deste ano, a economia brasileira cresceu cerca de 6% em termos anualizados. Temos de nos preparar para números bem mais baixos para os próximos anos.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 65, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).lcmb2@terra.com.br
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
A CRISE, O ESTADO, O MERCADO E SECTARISMOS
A crise financeira global abriu as portas para o besteirol. Um leitor manda uma questão interessante. Leiam. Volto depois:
Sou assíduo leitor deste blog e confesso que o grau de concordância com suas opiniões gira em torno de 50%. Desta forma gostaria que você comentasse o texto reproduzido abaixo, extraído do livro Globalização e Socialismo, de Osvaldo Coggiola e outros autores, lançado em abril de 1977:
"A tendência ao socialismo é particularmente perceptível em períodos de crise, quando as companhias e os bancos falidos são resgatados através da sua estatização. Nessas circunstâncias, todos os princípios da economia de mercado se tornam vulneráveis e o conjunto da sociedade financia a reconstituição dos capitais atingidos pela depressão."
Luiz A. Marcolin Conceição
Comento
Caro Luiz, quando falei em "besteirol", não me referia a você, mas a essa leitura de que as medidas adotadas para conter a crise financeira têm, quando menos, parentesco com o chamado "socialismo". O texto a que você se refere, de 1977, evidencia que a bobagem não é nova. Só isso.
Comecemos pela autoria. Osvaldo Coggiola é um professor de história alinhado com o trotskismo. Se ainda não se aposentou, não pesquisei, é professor da Universidade de São Paulo, onde há mais socialistas do que em Pequim — afinal, em Pequim, as pessoas se ocupam de enriquecer, de ganhar dinheiro, você sabe... A informação é importante porque as esquerdas socialistas nunca admitiram que foram derrotadas pela história e que o modelo de economia planificada que defendem naufragou. O livro, que não conheço, conforme corrigiu um leitor, é de 1997, não 1977. Pior ainda. Há mais de 30 anos, o professor teria ao menos uma desculpa: ainda não se sonhava com o fim da União Soviética, e Coggiola alimentava um sonho duplo: a) a viabilidade do socialismo; b) a viabilidade de um socialismo não-stalinista. Sonho duplamente frustrado.
Já dá para saber que a crise que aí está é a maior desde a dos anos 1930. Se, agora, pode-se dizer que os governos demoraram para agir, há quase oito décadas, demorou-se muito mais, daí os seus efeitos dramáticos, inclusive na política. A grande depressão mundial foi fermento de regimes totalitários na Europa, por exemplo, e reforçou, na intelectualidade ocidental, a suposição de que o horror comunista poderia mesmo ser uma modelo alternativo.
Agora, o estado age bem mais cedo, não é? Mas você está atento e certamente pode me indagar: "Nem tão cedo, não é, Reinaldo? Ou não teria havido a crise". A questão tem uma lógica apenas aparente porque descolada da história. Um mercado "excessivamente regulado" — e ninguém sabe quão regulado —, sob permanente ingerência estatal, teria produzido a fantástica riqueza das últimas, sei lá, duas décadas? Quer dizer que esse modelo, de que se anuncia agora a "falência", deixou atrás de si apenas destruição, desordem e inadimplência? Ora, isso é uma mentira escandalosa. Boa parte do capital que financiou pesquisas, inovações tecnológicas e, sim, casas foi gerado por isso que chamam "especulação" — e note que, nessas horas, chama-se "especulação" nada menos do que o funcionamento do mercado.
Sim, é verdade: o socialismo não conhecia essas crises — elas são próprias do capitalismo. Como aquele modelo não tinha mercado para acusar o desequilíbrio, quando este veio para valer, liquidou o modelo. Pode parecer estranho, mas a crise, Luiz, acaba sendo uma parte do próprio jogo: ajusta o modelo e corrige falhas. Até a próxima síndrome. O regime de mercado não é o da paz perpétua. Este era o socialista, com os resultados conhecidos.
O que vai acontecer agora? Haverá um período de excesso de regulação, muito mais, certamente, do que seria o necessário, porque se vai legislar sob o peso do susto, do pânico. Até que, sei lá, se passe uma década e se perceba que é preciso voltar a correr riscos; que os riscos também são virtuosos e geram riquezas. E se fará, então, a opção da desregulação. Até a crise seguinte.
No ano 2100, haverá economistas a lembrar — e alguns críticos lastimando — que o livre mercado precisara de uma correção do estado naqueles primitivos anos 1930, 2008, 2050... E em nenhum dos casos terá havido qualquer flerte com estatismo, socialismo ou bobagem congênere. É que o estado existe e deve existir para isto mesmo: não atrapalhar os indivíduos nos tempos virtuosos e intervir quando as regras do jogo não bastam para garantir a continuidade do... jogo!
Afinal, Luiz, "nós" sustentamos o estado. E ele deve servir para alguma coisa, não é?, além de tolher a nossa liberdade e encher o nosso saco.Sei que há alguns a defender, em nome do que chamam de "fundamentos" do liberalismo, o "deixa quebrar". Será isso mesmo liberalismo? Eu não tenho nenhuma saudade intelectual (já que nasci em 1961) dos efeitos políticos da quebradeira de 1930. Tampouco gostaria de ver o país que ainda é o maior fiador da democracia ocidental mergulhado na depressão.
Coggiola certamente cobraria de "nós", os liberais, o mesmo que defendem os mal chamados "fundamentalistas" (*): "Deixa quebrar". Sua utopia, num mundo convulsionado, em depressão, lhe pareceria mais próxima...(*) Escrevo "mal chamados fundamentalistas" porque um "fundamentalista" tem de recorrer ao fundamento. E o fundamento principal é fazer funcionar a economia de mercado. Defender, pois, a quebradeira geral em nome do suposto fundamento é só uma estupidez sectária.
Post alterado às 17h41
FONTE: WWW.REINALDOAZEVEDO.COM.BR
Sou assíduo leitor deste blog e confesso que o grau de concordância com suas opiniões gira em torno de 50%. Desta forma gostaria que você comentasse o texto reproduzido abaixo, extraído do livro Globalização e Socialismo, de Osvaldo Coggiola e outros autores, lançado em abril de 1977:
"A tendência ao socialismo é particularmente perceptível em períodos de crise, quando as companhias e os bancos falidos são resgatados através da sua estatização. Nessas circunstâncias, todos os princípios da economia de mercado se tornam vulneráveis e o conjunto da sociedade financia a reconstituição dos capitais atingidos pela depressão."
Luiz A. Marcolin Conceição
Comento
Caro Luiz, quando falei em "besteirol", não me referia a você, mas a essa leitura de que as medidas adotadas para conter a crise financeira têm, quando menos, parentesco com o chamado "socialismo". O texto a que você se refere, de 1977, evidencia que a bobagem não é nova. Só isso.
Comecemos pela autoria. Osvaldo Coggiola é um professor de história alinhado com o trotskismo. Se ainda não se aposentou, não pesquisei, é professor da Universidade de São Paulo, onde há mais socialistas do que em Pequim — afinal, em Pequim, as pessoas se ocupam de enriquecer, de ganhar dinheiro, você sabe... A informação é importante porque as esquerdas socialistas nunca admitiram que foram derrotadas pela história e que o modelo de economia planificada que defendem naufragou. O livro, que não conheço, conforme corrigiu um leitor, é de 1997, não 1977. Pior ainda. Há mais de 30 anos, o professor teria ao menos uma desculpa: ainda não se sonhava com o fim da União Soviética, e Coggiola alimentava um sonho duplo: a) a viabilidade do socialismo; b) a viabilidade de um socialismo não-stalinista. Sonho duplamente frustrado.
Já dá para saber que a crise que aí está é a maior desde a dos anos 1930. Se, agora, pode-se dizer que os governos demoraram para agir, há quase oito décadas, demorou-se muito mais, daí os seus efeitos dramáticos, inclusive na política. A grande depressão mundial foi fermento de regimes totalitários na Europa, por exemplo, e reforçou, na intelectualidade ocidental, a suposição de que o horror comunista poderia mesmo ser uma modelo alternativo.
Agora, o estado age bem mais cedo, não é? Mas você está atento e certamente pode me indagar: "Nem tão cedo, não é, Reinaldo? Ou não teria havido a crise". A questão tem uma lógica apenas aparente porque descolada da história. Um mercado "excessivamente regulado" — e ninguém sabe quão regulado —, sob permanente ingerência estatal, teria produzido a fantástica riqueza das últimas, sei lá, duas décadas? Quer dizer que esse modelo, de que se anuncia agora a "falência", deixou atrás de si apenas destruição, desordem e inadimplência? Ora, isso é uma mentira escandalosa. Boa parte do capital que financiou pesquisas, inovações tecnológicas e, sim, casas foi gerado por isso que chamam "especulação" — e note que, nessas horas, chama-se "especulação" nada menos do que o funcionamento do mercado.
Sim, é verdade: o socialismo não conhecia essas crises — elas são próprias do capitalismo. Como aquele modelo não tinha mercado para acusar o desequilíbrio, quando este veio para valer, liquidou o modelo. Pode parecer estranho, mas a crise, Luiz, acaba sendo uma parte do próprio jogo: ajusta o modelo e corrige falhas. Até a próxima síndrome. O regime de mercado não é o da paz perpétua. Este era o socialista, com os resultados conhecidos.
O que vai acontecer agora? Haverá um período de excesso de regulação, muito mais, certamente, do que seria o necessário, porque se vai legislar sob o peso do susto, do pânico. Até que, sei lá, se passe uma década e se perceba que é preciso voltar a correr riscos; que os riscos também são virtuosos e geram riquezas. E se fará, então, a opção da desregulação. Até a crise seguinte.
No ano 2100, haverá economistas a lembrar — e alguns críticos lastimando — que o livre mercado precisara de uma correção do estado naqueles primitivos anos 1930, 2008, 2050... E em nenhum dos casos terá havido qualquer flerte com estatismo, socialismo ou bobagem congênere. É que o estado existe e deve existir para isto mesmo: não atrapalhar os indivíduos nos tempos virtuosos e intervir quando as regras do jogo não bastam para garantir a continuidade do... jogo!
Afinal, Luiz, "nós" sustentamos o estado. E ele deve servir para alguma coisa, não é?, além de tolher a nossa liberdade e encher o nosso saco.Sei que há alguns a defender, em nome do que chamam de "fundamentos" do liberalismo, o "deixa quebrar". Será isso mesmo liberalismo? Eu não tenho nenhuma saudade intelectual (já que nasci em 1961) dos efeitos políticos da quebradeira de 1930. Tampouco gostaria de ver o país que ainda é o maior fiador da democracia ocidental mergulhado na depressão.
Coggiola certamente cobraria de "nós", os liberais, o mesmo que defendem os mal chamados "fundamentalistas" (*): "Deixa quebrar". Sua utopia, num mundo convulsionado, em depressão, lhe pareceria mais próxima...(*) Escrevo "mal chamados fundamentalistas" porque um "fundamentalista" tem de recorrer ao fundamento. E o fundamento principal é fazer funcionar a economia de mercado. Defender, pois, a quebradeira geral em nome do suposto fundamento é só uma estupidez sectária.
Post alterado às 17h41
FONTE: WWW.REINALDOAZEVEDO.COM.BR
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sábado, 25 de outubro de 2008
Preço do petróleo caiu pela metade em um mês; entenda por quê
UOL ECONOMIA, 24/10/2008 - 08h04
Ana Carolina LourençonEm São Paulo
O preço do petróleo caiu pela metade em um mês, indo de US$ 120 para US$ 66,75 na Bolsa de Nova York. O motivo que levou a essa mudança brusca divide a opinião de especialistas.
Segundo um estudo feito pelo analista do setor de petróleo da Corretora Souza Barros Clodoir Vieira, no momento que o barril de petróleo atingiu o pico de pontuação, em torno de US$ 140 (em junho), a cada dez contratos, apenas um tinha a liquidação física realizada.
"Isto significa que na época havia uma especulação muito forte, todo mundo achava que o preço do barril iria explodir", afirma.
A opinião é compartilhada pelo analista da corretora Agora Sênior Luiz Otávio Broad.
"A subida do petróleo para US$ 140 certamente foi especulação, até porque, quando começou essa escalada, já existia um cenário de provável desaquecimento da economia e redução da demanda e mesmo assim o barril subia forte. Com o agravamento da crise, a procura passou a cair efetivamente e as posições especulativas em cima do petróleo foram desmontadas", afirma.
Mas, para o analista da consultoria Tendências Walter de Vitto, existiram outras forças maiores que levaram o petróleo do "céu ao inferno" nas últimas semanas.
"Sempre existiram pessoas apostando no petróleo, mas não dá para dizer que a disparada ou o desabamento dos preços foi uma conseqüência da especulação. Acredito que quem especula pode apenas acelerar o movimento de flutuação dos preços, para cima ou para baixo, mas não ser o causador desse fenômeno", diz.
Vitto avalia que houve dois principais fatores que contribuíram para que a cotação do barril despencasse à metade em um período de tempo tão curto.
A demanda por petróleo é muito sensível ao desempenho da economia. Como houve uma deterioração no quadro de crescimento mundial, com a escassez de crédito e queda da intenção de consumo, algumas indústrias já reduziram seus investimentos e cortaram parte da demanda por petróleo, pressionando os preços para baixo.
Na outra ponta, a valorização expressiva do dólar frente às demais moedas também contribuiu para o abrandamento nos preços do petróleo.
"O petróleo é vendido em dólar, e, quando a moeda se valoriza, o produto fica mais caro para quem opera com outras divisas e, por isso, é preciso que o barril fique mais barato para haver um equilíbrio"
Na opinião da analista da corretora Ativa Mônica Araújo, existe uma terceira causa responsável por reduzir os preços do petróleo, que é a sensação de insegurança que se proliferou entre os investidores.
"Todas as commodities têm seus negócios baseados em perspectivas de crescimento da economia. Como esse cenário hoje é uma incógnita, os investidores optam por tirar seus recursos do mercado de petróleo, no caso, para alocá-los em aplicações consideradas mais seguras em momentos de crise, como os títulos do Tesouro norte-americano", diz.
Preços
Se a recessão nos Estados Unidos se concretizar, o preço do petróleo pode cair a preços mais baixos do que os que estão sendo observados nos últimos dias, por conta de uma desaceleração mais profunda da demanda, explicam analistas do setor de energia.
Segundo Luiz Otávio Broad, os Estados Unidos correspondem a 25% da demanda total por petróleo e derivados no mundo. Portanto, qualquer problema mais grave na economia norte-americana, sobretudo uma recessão, deverá causar impactos importantes na cotação da commodity.
"Sempre diziam que o preço do petróleo era ditado pelo consumo na China. Mas a demanda chinesa equivale a apenas 10% de todo o mercado, portanto, não é tão representativa como a dos Estados Unidos e não deve ser responsável por manter um preço muito alto", afirma Broad.
"Os países emergentes devem continuar sustentando o mercado de petróleo, mas, se as economias desenvolvidas pararem de crescer como está sendo previsto, a demanda será afetada de forma incisiva e vai causar queda nos preços, porque esses países têm um peso importante", diz o analista do setor de petróleo da Consultoria Tendências, Walter de Vito.
Com a redução no nível de atividade econômica mundial,a projeção é que os preços do petróleo continuem abaixo de US$ 100, a menos que haja um problema de oferta muito grande, como uma explosão em dutos, que seja capaz de causar nova alta nos preços.
"Vejo o preço do petróleo entre US$ 70 e US$ 80 até o fim do primeiro semestre, pelo menos. Acima disso, já é caro", diz Vieira.
FONTE: UOL ECONOMIA
Ana Carolina LourençonEm São Paulo
O preço do petróleo caiu pela metade em um mês, indo de US$ 120 para US$ 66,75 na Bolsa de Nova York. O motivo que levou a essa mudança brusca divide a opinião de especialistas.
Segundo um estudo feito pelo analista do setor de petróleo da Corretora Souza Barros Clodoir Vieira, no momento que o barril de petróleo atingiu o pico de pontuação, em torno de US$ 140 (em junho), a cada dez contratos, apenas um tinha a liquidação física realizada.
"Isto significa que na época havia uma especulação muito forte, todo mundo achava que o preço do barril iria explodir", afirma.
A opinião é compartilhada pelo analista da corretora Agora Sênior Luiz Otávio Broad.
"A subida do petróleo para US$ 140 certamente foi especulação, até porque, quando começou essa escalada, já existia um cenário de provável desaquecimento da economia e redução da demanda e mesmo assim o barril subia forte. Com o agravamento da crise, a procura passou a cair efetivamente e as posições especulativas em cima do petróleo foram desmontadas", afirma.
Mas, para o analista da consultoria Tendências Walter de Vitto, existiram outras forças maiores que levaram o petróleo do "céu ao inferno" nas últimas semanas.
"Sempre existiram pessoas apostando no petróleo, mas não dá para dizer que a disparada ou o desabamento dos preços foi uma conseqüência da especulação. Acredito que quem especula pode apenas acelerar o movimento de flutuação dos preços, para cima ou para baixo, mas não ser o causador desse fenômeno", diz.
Vitto avalia que houve dois principais fatores que contribuíram para que a cotação do barril despencasse à metade em um período de tempo tão curto.
A demanda por petróleo é muito sensível ao desempenho da economia. Como houve uma deterioração no quadro de crescimento mundial, com a escassez de crédito e queda da intenção de consumo, algumas indústrias já reduziram seus investimentos e cortaram parte da demanda por petróleo, pressionando os preços para baixo.
Na outra ponta, a valorização expressiva do dólar frente às demais moedas também contribuiu para o abrandamento nos preços do petróleo.
"O petróleo é vendido em dólar, e, quando a moeda se valoriza, o produto fica mais caro para quem opera com outras divisas e, por isso, é preciso que o barril fique mais barato para haver um equilíbrio"
Na opinião da analista da corretora Ativa Mônica Araújo, existe uma terceira causa responsável por reduzir os preços do petróleo, que é a sensação de insegurança que se proliferou entre os investidores.
"Todas as commodities têm seus negócios baseados em perspectivas de crescimento da economia. Como esse cenário hoje é uma incógnita, os investidores optam por tirar seus recursos do mercado de petróleo, no caso, para alocá-los em aplicações consideradas mais seguras em momentos de crise, como os títulos do Tesouro norte-americano", diz.
Preços
Se a recessão nos Estados Unidos se concretizar, o preço do petróleo pode cair a preços mais baixos do que os que estão sendo observados nos últimos dias, por conta de uma desaceleração mais profunda da demanda, explicam analistas do setor de energia.
Segundo Luiz Otávio Broad, os Estados Unidos correspondem a 25% da demanda total por petróleo e derivados no mundo. Portanto, qualquer problema mais grave na economia norte-americana, sobretudo uma recessão, deverá causar impactos importantes na cotação da commodity.
"Sempre diziam que o preço do petróleo era ditado pelo consumo na China. Mas a demanda chinesa equivale a apenas 10% de todo o mercado, portanto, não é tão representativa como a dos Estados Unidos e não deve ser responsável por manter um preço muito alto", afirma Broad.
"Os países emergentes devem continuar sustentando o mercado de petróleo, mas, se as economias desenvolvidas pararem de crescer como está sendo previsto, a demanda será afetada de forma incisiva e vai causar queda nos preços, porque esses países têm um peso importante", diz o analista do setor de petróleo da Consultoria Tendências, Walter de Vito.
Com a redução no nível de atividade econômica mundial,a projeção é que os preços do petróleo continuem abaixo de US$ 100, a menos que haja um problema de oferta muito grande, como uma explosão em dutos, que seja capaz de causar nova alta nos preços.
"Vejo o preço do petróleo entre US$ 70 e US$ 80 até o fim do primeiro semestre, pelo menos. Acima disso, já é caro", diz Vieira.
FONTE: UOL ECONOMIA
EUA VÃO CONTINUAR A SER SUPERPOTÊNCIA, DIZ COLUNISTA DO 'WSJ'
Os Estados Unidos vão continuar a ser uma superpotência e não vão perder a liderança mundial apesar da crise financeira, afirma o colunista Bret Stephens, do Wall Street Journal, na edição publicada nesta terça-feira.
“Constantinopla caiu na mão dos otomanos depois de dois séculos de retiradas e declínio. Foram necessárias duas guerras mundiais, uma depressão global e o início da Guerra Fria para acabar com o Império Britânico”, diz o colunista.
Para ele, “é seguro apostar” que a dominação americana não vai chegar ao fim por causa de problemas no mercado financeiro.
“Não que faltem convites para se acreditar no contrário”, diz ele, “Quase em coro, o ministro das Finanças alemão, o primeiro-ministro da Rússia e o presidente do Irã previram o fim da ‘hegemonia’ americana, financeira ou de outro tipo”, diz Stephens, que ainda cita editoriais internacionais prevendo o fim do status de superpotência dos Estados Unidos.
“Muito disso é dito, ou escrito, com mal-disfarçada alegria”, comenta o colunista do WSJ, para quem, na verdade, os Estados Unidos ainda estão em posição muito melhor do que diversos países.
“Antes da alta de ontem, o índice Dow Jones (da Bolsa de Nova York) havia caído 25% em três meses. Mas isso apenas significa que ele teve desempenho melhor do que quase todos os outros mercados de ações, incluindo o XETRADAX da Alemanha (que teve queda de 28%), a Bolsa chinesa de Xangai (queda de 30%), o índice NIKK225 do Japão (queda de 37%), o Bovespa do Brasil (queda de 41%) e o RSTI da Rússia (queda de 61%). Esses contrastes mostram que as feridas financeiras dos EUA não são ganho para ninguém.”
O artigo cita ainda que os Estados Unidos estão, provavelmente, melhor preparados para financiar um plano de ajuda aos bancos. “O pacote de US$ 700 bilhões anunciado no mês passado parece surpreendentemente grande, mas ele equivale a pouco mais do que 5% do PIB americano. Compare isso com os US$ 400 bilhões a US$ 536 bilhões do pacote de resgate da Alemanha (entre 12% e 16% de seu PIB), ou o plano britânico de US$ 835 bilhões (30%).”
“Também ajuda o fato de os Estados Unidos continuarem a ter o maior fluxo de investimento estrangeiro direto; ser o terceiro no ranking mundial (depois de Cingapura e Nova Zelândia) de facilidade de se fazer negócios, segundo o Banco Mundial; e de que suas tendências demográficas não caminham para um precipício – como ocorre na UE, Rússia, Japão e China.” Mas para o colunista, acima de tudo, os Estados Unidos continuam tendendo à transparência financeira, o que manteria o país em boa posição diante do resto do mundo.
“Uma das ironias não comentadas da presente crise é que as vulnerabilidades financeiras dos Estados Unidos vieram à tona meses antes das da Europa (ou das do resto do mundo). Essa é uma das razões pelas quais o dólar subiu nos últimos meses. É por isso também que os EUA devem sair da crise muito mais rápido do que o Japão, por exemplo, que passou a melhor parte dos anos 90 escondendo sua crise bancária de si mesmo.”
Para o colunista, o próximo presidente deve ajudar o mercado a se curar, deixar a recessão seguir seu curso e fazer o que for possível para preservar intacto “um sistema financeiro que nos serviu esplendidamente”.
“Constantinopla caiu na mão dos otomanos depois de dois séculos de retiradas e declínio. Foram necessárias duas guerras mundiais, uma depressão global e o início da Guerra Fria para acabar com o Império Britânico”, diz o colunista.
Para ele, “é seguro apostar” que a dominação americana não vai chegar ao fim por causa de problemas no mercado financeiro.
“Não que faltem convites para se acreditar no contrário”, diz ele, “Quase em coro, o ministro das Finanças alemão, o primeiro-ministro da Rússia e o presidente do Irã previram o fim da ‘hegemonia’ americana, financeira ou de outro tipo”, diz Stephens, que ainda cita editoriais internacionais prevendo o fim do status de superpotência dos Estados Unidos.
“Muito disso é dito, ou escrito, com mal-disfarçada alegria”, comenta o colunista do WSJ, para quem, na verdade, os Estados Unidos ainda estão em posição muito melhor do que diversos países.
“Antes da alta de ontem, o índice Dow Jones (da Bolsa de Nova York) havia caído 25% em três meses. Mas isso apenas significa que ele teve desempenho melhor do que quase todos os outros mercados de ações, incluindo o XETRADAX da Alemanha (que teve queda de 28%), a Bolsa chinesa de Xangai (queda de 30%), o índice NIKK225 do Japão (queda de 37%), o Bovespa do Brasil (queda de 41%) e o RSTI da Rússia (queda de 61%). Esses contrastes mostram que as feridas financeiras dos EUA não são ganho para ninguém.”
O artigo cita ainda que os Estados Unidos estão, provavelmente, melhor preparados para financiar um plano de ajuda aos bancos. “O pacote de US$ 700 bilhões anunciado no mês passado parece surpreendentemente grande, mas ele equivale a pouco mais do que 5% do PIB americano. Compare isso com os US$ 400 bilhões a US$ 536 bilhões do pacote de resgate da Alemanha (entre 12% e 16% de seu PIB), ou o plano britânico de US$ 835 bilhões (30%).”
“Também ajuda o fato de os Estados Unidos continuarem a ter o maior fluxo de investimento estrangeiro direto; ser o terceiro no ranking mundial (depois de Cingapura e Nova Zelândia) de facilidade de se fazer negócios, segundo o Banco Mundial; e de que suas tendências demográficas não caminham para um precipício – como ocorre na UE, Rússia, Japão e China.” Mas para o colunista, acima de tudo, os Estados Unidos continuam tendendo à transparência financeira, o que manteria o país em boa posição diante do resto do mundo.
“Uma das ironias não comentadas da presente crise é que as vulnerabilidades financeiras dos Estados Unidos vieram à tona meses antes das da Europa (ou das do resto do mundo). Essa é uma das razões pelas quais o dólar subiu nos últimos meses. É por isso também que os EUA devem sair da crise muito mais rápido do que o Japão, por exemplo, que passou a melhor parte dos anos 90 escondendo sua crise bancária de si mesmo.”
Para o colunista, o próximo presidente deve ajudar o mercado a se curar, deixar a recessão seguir seu curso e fazer o que for possível para preservar intacto “um sistema financeiro que nos serviu esplendidamente”.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Preço do petróleo caiu pela metade em um mês; entenda por quê
24/10/2008 - 08h04
Ana Carolina LourençonEm São Paulo
O preço do petróleo caiu pela metade em um mês, indo de US$ 120 para US$ 66,75 na Bolsa de Nova York. O motivo que levou a essa mudança brusca divide a opinião de especialistas.Segundo um estudo feito pelo analista do setor de petróleo da Corretora Souza Barros Clodoir Vieira, no momento que o barril de petróleo atingiu o pico máximo de pontuação, de US$ 140 (em junho), a cada dez contratos, apenas um tinha a liquidação física realizada.
"Isto significa que na época havia uma especulação muito forte, todo mundo achava que o preço do barril iria explodir", afirma.A opinião é compartilhada pelo analista da corretora Agora Sênior Luiz Otávio Broad.
"A subida do petróleo para US$ 140 certamente foi especulação, até porque, quando começou essa escalada, já existia um cenário de provável desaquecimento da economia e redução da demanda e mesmo assim o barril subia forte. Com o agravamento da crise, a procura passou a cair efetivamente e as posições especulativas em cima do petróleo foram desmontadas", afirma.
Mas, para o analista da consultoria Tendências Walter de Vitto, existiram outras forças maiores que levaram o petróleo do "céu ao inferno" nas últimas semanas."Sempre existiram pessoas apostando no petróleo, mas não dá para dizer que a disparada ou o desabamento dos preços foi uma conseqüência da especulação. Acredito que quem especula pode apenas acelerar o movimento de flutuação dos preços, para cima ou para baixo, mas não ser o causador desse fenômeno", diz.
Vitto avalia que houve dois principais fatores que contribuíram para que a cotação do barril despencasse à metade em um período de tempo tão curto.A demanda por petróleo é muito sensível ao desempenho da economia. Como houve uma deterioração no quadro de crescimento mundial, com a escassez de crédito e queda da intenção de consumo, algumas indústrias já reduziram seus investimentos e cortaram parte da demanda por petróleo, pressionando os preços para baixo.
Na outra ponta, a valorização expressiva do dólar frente às demais moedas também contribuiu para o abrandamento nos preços do petróleo."O petróleo é vendido em dólar, e, quando a moeda se valoriza, o produto fica mais caro para quem opera com outras divisas e, por isso, é preciso que o barril fique mais barato para haver um equilíbrio"Na opinião da analista da corretora Ativa Mônica Araújo, existe uma terceira causa responsável por reduzir os preços do petróleo, que é a sensação de insegurança que se proliferou entre os investidores.
"Todas as commodities têm seus negócios baseados em perspectivas de crescimento da economia. Como esse cenário hoje é uma incógnita, os investidores optam por tirar seus recursos do mercado de petróleo, no caso, para alocá-los em aplicações consideradas mais seguras em momentos de crise, como os títulos do Tesouro norte-americano", diz.PreçosSe a recessão nos Estados Unidos se concretizar, o preço do petróleo pode cair a preços mais baixos do que os que estão sendo observados nos últimos dias, por conta de uma desaceleração mais profunda da demanda, explicam analistas do setor de energia.
Segundo Luiz Otávio Broad, os Estados Unidos correspondem a 25% da demanda total por petróleo e derivados no mundo. Portanto, qualquer problema mais grave na economia norte-americana, sobretudo uma recessão, deverá causar impactos importantes na cotação da commodity."Sempre diziam que o preço do petróleo era ditado pelo consumo na China. Mas a demanda chinesa equivale a apenas 10% de todo o mercado, portanto, não é tão representativa como a dos Estados Unidos e não deve ser responsável por manter um preço muito alto", afirma.
Broad."Os países emergentes devem continuar sustentando o mercado de petróleo, mas, se as economias desenvolvidas pararem de crescer como está sendo previsto, a demanda será afetada de forma incisiva e vai causar queda nos preços, porque esses países têm um peso importante", diz o analista do setor de petróleo da Consultoria Tendências, Walter de Vito.
Com a redução no nível de atividade econômica mundial,a projeção é que os preços do petróleo continuem abaixo de US$ 100, a menos que haja um problema de oferta muito grande, como uma explosão em dutos, que seja capaz de causar nova alta nos preços."Vejo o preço do petróleo entre US$ 70 e US$ 80 até o fim do primeiro semestre, pelo menos. Acima disso, já é caro", diz Vieira.
Ana Carolina LourençonEm São Paulo
O preço do petróleo caiu pela metade em um mês, indo de US$ 120 para US$ 66,75 na Bolsa de Nova York. O motivo que levou a essa mudança brusca divide a opinião de especialistas.Segundo um estudo feito pelo analista do setor de petróleo da Corretora Souza Barros Clodoir Vieira, no momento que o barril de petróleo atingiu o pico máximo de pontuação, de US$ 140 (em junho), a cada dez contratos, apenas um tinha a liquidação física realizada.
"Isto significa que na época havia uma especulação muito forte, todo mundo achava que o preço do barril iria explodir", afirma.A opinião é compartilhada pelo analista da corretora Agora Sênior Luiz Otávio Broad.
"A subida do petróleo para US$ 140 certamente foi especulação, até porque, quando começou essa escalada, já existia um cenário de provável desaquecimento da economia e redução da demanda e mesmo assim o barril subia forte. Com o agravamento da crise, a procura passou a cair efetivamente e as posições especulativas em cima do petróleo foram desmontadas", afirma.
Mas, para o analista da consultoria Tendências Walter de Vitto, existiram outras forças maiores que levaram o petróleo do "céu ao inferno" nas últimas semanas."Sempre existiram pessoas apostando no petróleo, mas não dá para dizer que a disparada ou o desabamento dos preços foi uma conseqüência da especulação. Acredito que quem especula pode apenas acelerar o movimento de flutuação dos preços, para cima ou para baixo, mas não ser o causador desse fenômeno", diz.
Vitto avalia que houve dois principais fatores que contribuíram para que a cotação do barril despencasse à metade em um período de tempo tão curto.A demanda por petróleo é muito sensível ao desempenho da economia. Como houve uma deterioração no quadro de crescimento mundial, com a escassez de crédito e queda da intenção de consumo, algumas indústrias já reduziram seus investimentos e cortaram parte da demanda por petróleo, pressionando os preços para baixo.
Na outra ponta, a valorização expressiva do dólar frente às demais moedas também contribuiu para o abrandamento nos preços do petróleo."O petróleo é vendido em dólar, e, quando a moeda se valoriza, o produto fica mais caro para quem opera com outras divisas e, por isso, é preciso que o barril fique mais barato para haver um equilíbrio"Na opinião da analista da corretora Ativa Mônica Araújo, existe uma terceira causa responsável por reduzir os preços do petróleo, que é a sensação de insegurança que se proliferou entre os investidores.
"Todas as commodities têm seus negócios baseados em perspectivas de crescimento da economia. Como esse cenário hoje é uma incógnita, os investidores optam por tirar seus recursos do mercado de petróleo, no caso, para alocá-los em aplicações consideradas mais seguras em momentos de crise, como os títulos do Tesouro norte-americano", diz.PreçosSe a recessão nos Estados Unidos se concretizar, o preço do petróleo pode cair a preços mais baixos do que os que estão sendo observados nos últimos dias, por conta de uma desaceleração mais profunda da demanda, explicam analistas do setor de energia.
Segundo Luiz Otávio Broad, os Estados Unidos correspondem a 25% da demanda total por petróleo e derivados no mundo. Portanto, qualquer problema mais grave na economia norte-americana, sobretudo uma recessão, deverá causar impactos importantes na cotação da commodity."Sempre diziam que o preço do petróleo era ditado pelo consumo na China. Mas a demanda chinesa equivale a apenas 10% de todo o mercado, portanto, não é tão representativa como a dos Estados Unidos e não deve ser responsável por manter um preço muito alto", afirma.
Broad."Os países emergentes devem continuar sustentando o mercado de petróleo, mas, se as economias desenvolvidas pararem de crescer como está sendo previsto, a demanda será afetada de forma incisiva e vai causar queda nos preços, porque esses países têm um peso importante", diz o analista do setor de petróleo da Consultoria Tendências, Walter de Vito.
Com a redução no nível de atividade econômica mundial,a projeção é que os preços do petróleo continuem abaixo de US$ 100, a menos que haja um problema de oferta muito grande, como uma explosão em dutos, que seja capaz de causar nova alta nos preços."Vejo o preço do petróleo entre US$ 70 e US$ 80 até o fim do primeiro semestre, pelo menos. Acima disso, já é caro", diz Vieira.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
AS VIUVAS DE STÁLIN E A CRISE AMARICANA
Cezar Cauduro Roedel, em 08/10/2008.
Longe de ser uma "falha de mercado", o que estamos vivenciando é o resultado de uma política muito antiga de intervenção na economia. Enquanto alguns saem dizendo que o capitalismo falhou, não percebem que a falha veio do governo, de uma política redistributivista e socialista.
Não demorou para que as "Viúvas de Stalin" fossem propalando suas análises embusteiras sobre a "crise" do subprime americano. Com muita felicidade estampada no rosto davam gargalhadas e seus veredictos intelectualescos, comentando a derrocada do capitalismo, o fim do livre mercado, o modelo americano ruindo em suas próprias contradições...Portanto é necessário fazer alguns esclarecimentos sobre esta crise do mercado imobiliário, que de longe não é nada recente. A pergunta que devemos responder é a seguinte: Esta crise foi realmente gerada por uma "falha de mercado"? Segue o argumento:
1- A origem da crise está ligada com a criação das gigantes hipotecárias, Fannie Mae e Freddie Mac, que recentemente reberam grandes verbas do governo americano. A Fannie Mae foi criada em 1938 pelo governo de Franklin Delano Roosevelt, dentro dos objetivos da política do New Deal.
2- O New Deal previa o acesso de todos os cidadão americanos a casa própria. Mesmo àqueles sem capacidade creditícia, um plano de reestruturação com forte intervenção na economia. Assim, a gigante hipotecária forneceria liquidez ao mercado de hipotecas de alto risco, com a verba do contribuinte americano.
3- As gigantes hipotecárias são instituições paraestatais, não são eminentemente privadas, por isso não estão "a prova do mercado", no sentido puro da expressão.
4- O Governo americano sempre injetou muito dinheiro nestas instituições, que compram as hipotecas de alto risco do bancos americanos, dando assim, acesso aos cidadãos a sua casa própria.
5- Em uma situação de economia de mercado, os Bancos não cederiam empréstimos para pessoas com histórico creditício duvidoso. A economia de mercado prevê que só pode emprestar dinheiro para pessoa que pode honrar a dívida. Então porque os banqueiros cediam estes empréstimos? Veja abaixo:
6- Em 1977, então governo Carter, foi criado o decreto federal (Community Reivestment Act - Decreto de Reinvestimento Comunitário) que "obrigava" os bancos a fazerem os empréstimos aos cidadãos sem capacidade de honrar suas dividas com o aval das gigantes hipotecárias, a juros mais baixos, justamente para que todos tivessem acesso a casa própria. Os bancos que não se adaptassem as essas regras não poderiam fazer fusões, aquisições e novas linhas de negócio, até que provassem ao governo um certo número de empréstimos a estes "maus pagadores".
Longe de ser uma "falha de mercado", o que estamos vivenciando é o resultado de uma política muito antiga de intervenção na economia. Enquanto alguns saem dizendo que o capitalismo falhou, não percebem que a falha veio do governo, de uma política redistributivista e socialista.
Longe de ser uma "falha de mercado", o que estamos vivenciando é o resultado de uma política muito antiga de intervenção na economia. Enquanto alguns saem dizendo que o capitalismo falhou, não percebem que a falha veio do governo, de uma política redistributivista e socialista.
Não demorou para que as "Viúvas de Stalin" fossem propalando suas análises embusteiras sobre a "crise" do subprime americano. Com muita felicidade estampada no rosto davam gargalhadas e seus veredictos intelectualescos, comentando a derrocada do capitalismo, o fim do livre mercado, o modelo americano ruindo em suas próprias contradições...Portanto é necessário fazer alguns esclarecimentos sobre esta crise do mercado imobiliário, que de longe não é nada recente. A pergunta que devemos responder é a seguinte: Esta crise foi realmente gerada por uma "falha de mercado"? Segue o argumento:
1- A origem da crise está ligada com a criação das gigantes hipotecárias, Fannie Mae e Freddie Mac, que recentemente reberam grandes verbas do governo americano. A Fannie Mae foi criada em 1938 pelo governo de Franklin Delano Roosevelt, dentro dos objetivos da política do New Deal.
2- O New Deal previa o acesso de todos os cidadão americanos a casa própria. Mesmo àqueles sem capacidade creditícia, um plano de reestruturação com forte intervenção na economia. Assim, a gigante hipotecária forneceria liquidez ao mercado de hipotecas de alto risco, com a verba do contribuinte americano.
3- As gigantes hipotecárias são instituições paraestatais, não são eminentemente privadas, por isso não estão "a prova do mercado", no sentido puro da expressão.
4- O Governo americano sempre injetou muito dinheiro nestas instituições, que compram as hipotecas de alto risco do bancos americanos, dando assim, acesso aos cidadãos a sua casa própria.
5- Em uma situação de economia de mercado, os Bancos não cederiam empréstimos para pessoas com histórico creditício duvidoso. A economia de mercado prevê que só pode emprestar dinheiro para pessoa que pode honrar a dívida. Então porque os banqueiros cediam estes empréstimos? Veja abaixo:
6- Em 1977, então governo Carter, foi criado o decreto federal (Community Reivestment Act - Decreto de Reinvestimento Comunitário) que "obrigava" os bancos a fazerem os empréstimos aos cidadãos sem capacidade de honrar suas dividas com o aval das gigantes hipotecárias, a juros mais baixos, justamente para que todos tivessem acesso a casa própria. Os bancos que não se adaptassem as essas regras não poderiam fazer fusões, aquisições e novas linhas de negócio, até que provassem ao governo um certo número de empréstimos a estes "maus pagadores".
Longe de ser uma "falha de mercado", o que estamos vivenciando é o resultado de uma política muito antiga de intervenção na economia. Enquanto alguns saem dizendo que o capitalismo falhou, não percebem que a falha veio do governo, de uma política redistributivista e socialista.
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terça-feira, 21 de outubro de 2008
AS BOBAGENS DE HOBSBAWM
Por Reinaldo Azevedo
O britânico Eric Hobsbawm, que deve ser o intelectual marxista vivo mais importante — ou, vá lá, mais famoso ao menos — concedeu uma entrevista à BBC. Estou aqui às gargalhadas. Vocês acreditam que ele decretou o fim de mais uma era? Só falta agora escrever o livro correspondente. Que tal “A Era da Conversa Mole e do Papo Furado”? Não deixou de falar as besteiras que as esquerdas vêm repetindo mundo afora sobre a crise — e confessou satisfação com a crise. Mas fiquei contente: segundo ele, sabem quem será beneficiado pela crise mundial? A direita!!!
Hobsbawm é marxista, né? E isso quer dizer que ele é dialético. Um dialético pode afirmar uma coisa e o seu contrário ao mesmo tempo, sem que elas conversem entre si, na suspeita de que o interlocutor se encarregará de estabelecer as ligações entre uma coisa e outra. O homem está feliz com o fim de mais uma era, com a crise do capital, mas a direita — capitalista, suponho — sairá ganhando, ele garante. Então tá bom. Vou ficar na torcida. Embora, adverte o mestre, o estado vá ter uma importância maior do que teve nos últimos 30 anos. Como o conjunto se explica? Ora, dialética, gente! Agora prestem atenção a esta pergunta e a esta resposta:
O senhor sente um pouco recuperado depois de anos em que a opinião intelectual ia de encontro ao que o senhor pensava?
Bem, obviamente há um pouco a sensação de schadenfreude (regozijo pela desgraça alheia). Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado. O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados. Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos. Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média. Sobretudo, nos últimos 30 anos, os benefíciários deste grande crescimento têm sido nós, no Ocidente, que vivemos uma vida imensuravelvelmente superior a qualquer outro lugar do mundo. E me surpreende muito que o Financial Times diga que o que se espera que aconteça agora é que este novo tipo de globalização controlada beneficie a quem realmente precisa, que se reduza a enorme diferença entre nós, que vivemos como príncipes, e a enorme maioria dos pobres.
Comento
É uma coleção de asneiras do "grande" Hobsbawm. Sabem onde estão os maiores beneficiários do “neoliberalismo” dos últimos 30 anos? Na China, na Coréia do Sul, na Índia... Deve ser o que ele chama “nós, no Ocidente”, que vivemos como príncipes. Impressionante! A bobagem é dita e, claro, como ele é um autoridade no próprio pensamento, ninguém solta um pio para contestá-lo.
O britânico Eric Hobsbawm, que deve ser o intelectual marxista vivo mais importante — ou, vá lá, mais famoso ao menos — concedeu uma entrevista à BBC. Estou aqui às gargalhadas. Vocês acreditam que ele decretou o fim de mais uma era? Só falta agora escrever o livro correspondente. Que tal “A Era da Conversa Mole e do Papo Furado”? Não deixou de falar as besteiras que as esquerdas vêm repetindo mundo afora sobre a crise — e confessou satisfação com a crise. Mas fiquei contente: segundo ele, sabem quem será beneficiado pela crise mundial? A direita!!!
Hobsbawm é marxista, né? E isso quer dizer que ele é dialético. Um dialético pode afirmar uma coisa e o seu contrário ao mesmo tempo, sem que elas conversem entre si, na suspeita de que o interlocutor se encarregará de estabelecer as ligações entre uma coisa e outra. O homem está feliz com o fim de mais uma era, com a crise do capital, mas a direita — capitalista, suponho — sairá ganhando, ele garante. Então tá bom. Vou ficar na torcida. Embora, adverte o mestre, o estado vá ter uma importância maior do que teve nos últimos 30 anos. Como o conjunto se explica? Ora, dialética, gente! Agora prestem atenção a esta pergunta e a esta resposta:
O senhor sente um pouco recuperado depois de anos em que a opinião intelectual ia de encontro ao que o senhor pensava?
Bem, obviamente há um pouco a sensação de schadenfreude (regozijo pela desgraça alheia). Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado. O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados. Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos. Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média. Sobretudo, nos últimos 30 anos, os benefíciários deste grande crescimento têm sido nós, no Ocidente, que vivemos uma vida imensuravelvelmente superior a qualquer outro lugar do mundo. E me surpreende muito que o Financial Times diga que o que se espera que aconteça agora é que este novo tipo de globalização controlada beneficie a quem realmente precisa, que se reduza a enorme diferença entre nós, que vivemos como príncipes, e a enorme maioria dos pobres.
Comento
É uma coleção de asneiras do "grande" Hobsbawm. Sabem onde estão os maiores beneficiários do “neoliberalismo” dos últimos 30 anos? Na China, na Coréia do Sul, na Índia... Deve ser o que ele chama “nós, no Ocidente”, que vivemos como príncipes. Impressionante! A bobagem é dita e, claro, como ele é um autoridade no próprio pensamento, ninguém solta um pio para contestá-lo.
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domingo, 19 de outubro de 2008
Sistema financeiro: por que salvar; como não regular
http://veja.abril.com.br/221008/p_092.shtml Edição 208322 de outubro de 2008
Maílson da Nóbrega
Três afirmações podem ser feitas em meio à atual crise. Primeira, governos responsáveis não permitem o colapso do sistema financeiro, como se viu na recente ação coordenada dos países ricos para capitalizar seus bancos. Segunda, as hipotecas subprime não serão a causa da próxima crise financeira. Terceira, a regulação será revista e melhorada, mas não parece exeqüível criar uma "autoridade monetária internacional".
A crise mostrou a dificuldade de entender o sistema financeiro. Não é de hoje. Há tempos os banqueiros são vistos com suspeita e antipatia. Na Idade Média, os pensadores escolásticos e a Igreja Católica condenavam os juros. Nas obras de Shakespeare e Émile Zola, os banqueiros ocupam um plano bem inferior ao das prostitutas.
Os bancos não emprestam o seu dinheiro, mas o dos outros. Captam os recursos dos poupadores e os repassam aos que deles precisam. Ganham a diferença entre essas duas operações (o spread) e comissões por outros serviços. São intermediários financeiros. Ao contrário do senso comum, os bancos preferem que o Banco Central possa manter os juros baixos, pois isso reduz o risco de inadimplência. Melhor para eles é um ambiente institucional que diminua os riscos. Isso aumenta a pontualidade e faz cair o spread.
Oito séculos depois que o atual sistema financeiro começou a tomar forma nas cidades-estado italianas, a atividade ainda é vista como parasitária. As operações e os lucros estariam desconectados da economia real. Na crise, essa percepção equivocada se acentuou. Políticos aqui e lá fora conseguiram juntar ignorância e demagogia.
Surpreendeu o grau de desinformação nos Estados Unidos. Os americanos exigiram punição severa para Wall Street. O governo deveria deixar os bancos quebrar. Apenas 30% eram favoráveis à aprovação do pacote de 700 bilhões de dólares, cujo objetivo era evitar o colapso do sistema.
A revolta tinha seus motivos. Muitos perderam as residências hipotecadas. Outros não se conformavam com os polpudos salários e bônus nos bancos que contribuíram para a crise. Na rejeição inicial do pacote, metade dos democratas e republicanos da Califórnia votou contra, com um olho nas urnas. Não era para menos. O preço dos imóveis naquele estado caiu 40% em um ano.
Mesmo diante da impopularidade do pacote, os dois senadores que disputam a Presidência da República compareceram para votar a favor e assim convencer os seus pares da necessidade de aprovação. Nenhum deles gostaria de administrar os escombros da implosão da economia real. Ambos sabem que não há capitalismo nem prosperidade sem sistema financeiro.
O sistema capitalista contemporâneo começou a surgir na Europa Ocidental no século XVII na esteira de dois grandes acontecimentos: (1) os avanços institucionais que aboliram o arbítrio dos reis, asseguraram direitos de propriedade e lançaram as bases das finanças modernas; (2) a derrubada de certos dogmas da Igreja Católica, o que permitiu o desenvolvimento da ciência e deu status moral à atividade de emprestar dinheiro.
Até o advento dessa revolução, a economia européia precisara de quinze séculos para quadruplicar. Em 1820, o capitalismo havia gerado o mesmo desempenho em apenas 320 anos. Daí até o fim do século XX, 180 anos depois, o PIB europeu multiplicou-se por 47. Nesses 500 anos, a economia americana se expandiu 634 vezes. Nos tempos atuais, a economia chinesa tem dobrado a cada seis ou sete anos.
Uma das principais contribuições para esses resultados e para os correspondentes ganhos de bem-estar foi a do sistema financeiro. Dele dependeram a Revolução Industrial iniciada no século XVIII e o novo impulso à economia no fim do século XIX, derivado das inovações que fizeram nascer o crédito ao consumo e ampliaram as fontes de financiamento do investimento e do progresso tecnológico.
Estudos recentes mostram que os países detentores de bons sistemas financeiros tendem a crescer mais rapidamente. O processo se intensifica quando se dispõe de adequados mercados de capitais e de grandes bancos privados. Criam-se incentivos à elevação da taxa de poupança e os recursos são mais bem alocados. A produtividade aumenta, acelerando o ritmo do crescimento.
Além do crédito, os bancos provêem o sistema de pagamentos, pelo qual se asseguram o uso de cartões de crédito, as transferências bancárias, os saques em dinheiro e a miríade de atividades relativas a pagar salários, adquirir matérias-primas, quitar impostos, fazer compras, viajar, cuidar da saúde e por aí afora.
Na Idade Média, os bancos quebravam quando os reis não pagavam os empréstimos para financiar guerras. A atividade econômica sofria pouco. Hoje, uma quebra generalizada de bancos pode vir de uma crise de confiança que os torne insolventes. A ausência de crédito e o colapso do sistema de pagamentos levariam a economia à depressão, com catastróficos efeitos econômicos, sociais e políticos.
Para conter esse risco, os governos usam todos os instrumentos, inclusive a estatização dos bancos ou a injeção de recursos públicos para capitalizá-los, como agora. Ao contrário do que comemora a esquerda, não se está diante de uma guinada ideológica, mas da necessidade de enfrentar uma realidade inescapável. As ações dos bancos reverterão ao setor privado tão logo se domine a crise.
Tem-se atribuído grande parte da crise à desregulação dos mercados. Ocorre que as hipotecas subprime – o seu epicentro – se expandiram depois que o Congresso americano criou regras para induzir as semi-estatais Fannie Mae e Freddie Mac a atuar em favor da população de menor renda. O mercado de subprime explodiu a partir de 2004, quando as duas empresas passaram a comprar montanhas dessas operações.
No outro extremo, faltou regulação para o mercado de derivativos. A falha teria decorrido da resistência de Alan Greenspan, então presidente do Federal Reserve. Para ele, a regulação prejudicaria o uso de um bom instrumento para distribuir os riscos do sistema. A auto-regulação resolveria. Assim, os derivativos saltaram de US$ 75 trilhões em 1997 para US$ 600 trilhões em 2007 (de 2,5 para onze vezes o PIB mundial).
É certo que a regulação será revista, incluindo a modernização do confuso aparato regulatório americano e a criação de câmaras de compensação para os derivativos. Uma boa regulação aumentará a transparência, manterá a capacidade de inovação dos bancos e preservará sua contribuição ao aumento da produtividade e ao desenvolvimento. Não se pode regular pensando apenas em controles. Isso tornaria o sistema menos arriscado, mas a economia cresceria menos.
Felizmente, haverá tempo para refletir sobre o assunto. Dificilmente haverá açodamento na feitura da nova regulação. Exageros poderão ser evitados. As autoridades americanas deverão exercer influência decisiva na definição das novas regras. Diferentemente do que se tem dito nestes dias, os Estados Unidos ainda serão hegemônicos por muitas décadas.
O governo brasileiro defende a criação de uma "autoridade monetária internacional". Por aí, burocratas baseados em um determinado país ditariam regras para bancos do mundo inteiro, do Iraque às nações ricas. É uma idéia sem futuro. A União Européia discute o estabelecimento de uma Comissão Bancária regional, que dificilmente teria o status supranacional do Banco Central Europeu. Os bancos centrais dos países-membros seriam mantidos com a tarefa operacional de supervisionar os bancos locais.
Mesmo que a nova regulação elimine as falhas que contribuíram para a atual situação, o que é desejável, dentro de alguns anos haverá uma nova crise. Isso porque os reguladores não conseguem acompanhar as inovações e a criatividade do mercado nem detectar todos os seus riscos. Explicação: os bancos têm maior capacidade de recrutar talentos e de melhor remunerá-los do que os governos.
Como aconteceu em outras oportunidades, o sistema financeiro se fortalecerá. As crises costumam gerar mudanças institucionais que melhoram o seu funcionamento. Esta não é, pois, a crise terminal do capitalismo, que Marx previu (e errou) há mais de um século, nem o ressurgimento do intervencionismo estatal de outros tempos. Nos países em que a re-regulação for bem feita, os bancos aumentarão sua contribuição para a geração de riqueza e bem-estar
Maílson da Nóbrega
Três afirmações podem ser feitas em meio à atual crise. Primeira, governos responsáveis não permitem o colapso do sistema financeiro, como se viu na recente ação coordenada dos países ricos para capitalizar seus bancos. Segunda, as hipotecas subprime não serão a causa da próxima crise financeira. Terceira, a regulação será revista e melhorada, mas não parece exeqüível criar uma "autoridade monetária internacional".
A crise mostrou a dificuldade de entender o sistema financeiro. Não é de hoje. Há tempos os banqueiros são vistos com suspeita e antipatia. Na Idade Média, os pensadores escolásticos e a Igreja Católica condenavam os juros. Nas obras de Shakespeare e Émile Zola, os banqueiros ocupam um plano bem inferior ao das prostitutas.
Os bancos não emprestam o seu dinheiro, mas o dos outros. Captam os recursos dos poupadores e os repassam aos que deles precisam. Ganham a diferença entre essas duas operações (o spread) e comissões por outros serviços. São intermediários financeiros. Ao contrário do senso comum, os bancos preferem que o Banco Central possa manter os juros baixos, pois isso reduz o risco de inadimplência. Melhor para eles é um ambiente institucional que diminua os riscos. Isso aumenta a pontualidade e faz cair o spread.
Oito séculos depois que o atual sistema financeiro começou a tomar forma nas cidades-estado italianas, a atividade ainda é vista como parasitária. As operações e os lucros estariam desconectados da economia real. Na crise, essa percepção equivocada se acentuou. Políticos aqui e lá fora conseguiram juntar ignorância e demagogia.
Surpreendeu o grau de desinformação nos Estados Unidos. Os americanos exigiram punição severa para Wall Street. O governo deveria deixar os bancos quebrar. Apenas 30% eram favoráveis à aprovação do pacote de 700 bilhões de dólares, cujo objetivo era evitar o colapso do sistema.
A revolta tinha seus motivos. Muitos perderam as residências hipotecadas. Outros não se conformavam com os polpudos salários e bônus nos bancos que contribuíram para a crise. Na rejeição inicial do pacote, metade dos democratas e republicanos da Califórnia votou contra, com um olho nas urnas. Não era para menos. O preço dos imóveis naquele estado caiu 40% em um ano.
Mesmo diante da impopularidade do pacote, os dois senadores que disputam a Presidência da República compareceram para votar a favor e assim convencer os seus pares da necessidade de aprovação. Nenhum deles gostaria de administrar os escombros da implosão da economia real. Ambos sabem que não há capitalismo nem prosperidade sem sistema financeiro.
O sistema capitalista contemporâneo começou a surgir na Europa Ocidental no século XVII na esteira de dois grandes acontecimentos: (1) os avanços institucionais que aboliram o arbítrio dos reis, asseguraram direitos de propriedade e lançaram as bases das finanças modernas; (2) a derrubada de certos dogmas da Igreja Católica, o que permitiu o desenvolvimento da ciência e deu status moral à atividade de emprestar dinheiro.
Até o advento dessa revolução, a economia européia precisara de quinze séculos para quadruplicar. Em 1820, o capitalismo havia gerado o mesmo desempenho em apenas 320 anos. Daí até o fim do século XX, 180 anos depois, o PIB europeu multiplicou-se por 47. Nesses 500 anos, a economia americana se expandiu 634 vezes. Nos tempos atuais, a economia chinesa tem dobrado a cada seis ou sete anos.
Uma das principais contribuições para esses resultados e para os correspondentes ganhos de bem-estar foi a do sistema financeiro. Dele dependeram a Revolução Industrial iniciada no século XVIII e o novo impulso à economia no fim do século XIX, derivado das inovações que fizeram nascer o crédito ao consumo e ampliaram as fontes de financiamento do investimento e do progresso tecnológico.
Estudos recentes mostram que os países detentores de bons sistemas financeiros tendem a crescer mais rapidamente. O processo se intensifica quando se dispõe de adequados mercados de capitais e de grandes bancos privados. Criam-se incentivos à elevação da taxa de poupança e os recursos são mais bem alocados. A produtividade aumenta, acelerando o ritmo do crescimento.
Além do crédito, os bancos provêem o sistema de pagamentos, pelo qual se asseguram o uso de cartões de crédito, as transferências bancárias, os saques em dinheiro e a miríade de atividades relativas a pagar salários, adquirir matérias-primas, quitar impostos, fazer compras, viajar, cuidar da saúde e por aí afora.
Na Idade Média, os bancos quebravam quando os reis não pagavam os empréstimos para financiar guerras. A atividade econômica sofria pouco. Hoje, uma quebra generalizada de bancos pode vir de uma crise de confiança que os torne insolventes. A ausência de crédito e o colapso do sistema de pagamentos levariam a economia à depressão, com catastróficos efeitos econômicos, sociais e políticos.
Para conter esse risco, os governos usam todos os instrumentos, inclusive a estatização dos bancos ou a injeção de recursos públicos para capitalizá-los, como agora. Ao contrário do que comemora a esquerda, não se está diante de uma guinada ideológica, mas da necessidade de enfrentar uma realidade inescapável. As ações dos bancos reverterão ao setor privado tão logo se domine a crise.
Tem-se atribuído grande parte da crise à desregulação dos mercados. Ocorre que as hipotecas subprime – o seu epicentro – se expandiram depois que o Congresso americano criou regras para induzir as semi-estatais Fannie Mae e Freddie Mac a atuar em favor da população de menor renda. O mercado de subprime explodiu a partir de 2004, quando as duas empresas passaram a comprar montanhas dessas operações.
No outro extremo, faltou regulação para o mercado de derivativos. A falha teria decorrido da resistência de Alan Greenspan, então presidente do Federal Reserve. Para ele, a regulação prejudicaria o uso de um bom instrumento para distribuir os riscos do sistema. A auto-regulação resolveria. Assim, os derivativos saltaram de US$ 75 trilhões em 1997 para US$ 600 trilhões em 2007 (de 2,5 para onze vezes o PIB mundial).
É certo que a regulação será revista, incluindo a modernização do confuso aparato regulatório americano e a criação de câmaras de compensação para os derivativos. Uma boa regulação aumentará a transparência, manterá a capacidade de inovação dos bancos e preservará sua contribuição ao aumento da produtividade e ao desenvolvimento. Não se pode regular pensando apenas em controles. Isso tornaria o sistema menos arriscado, mas a economia cresceria menos.
Felizmente, haverá tempo para refletir sobre o assunto. Dificilmente haverá açodamento na feitura da nova regulação. Exageros poderão ser evitados. As autoridades americanas deverão exercer influência decisiva na definição das novas regras. Diferentemente do que se tem dito nestes dias, os Estados Unidos ainda serão hegemônicos por muitas décadas.
O governo brasileiro defende a criação de uma "autoridade monetária internacional". Por aí, burocratas baseados em um determinado país ditariam regras para bancos do mundo inteiro, do Iraque às nações ricas. É uma idéia sem futuro. A União Européia discute o estabelecimento de uma Comissão Bancária regional, que dificilmente teria o status supranacional do Banco Central Europeu. Os bancos centrais dos países-membros seriam mantidos com a tarefa operacional de supervisionar os bancos locais.
Mesmo que a nova regulação elimine as falhas que contribuíram para a atual situação, o que é desejável, dentro de alguns anos haverá uma nova crise. Isso porque os reguladores não conseguem acompanhar as inovações e a criatividade do mercado nem detectar todos os seus riscos. Explicação: os bancos têm maior capacidade de recrutar talentos e de melhor remunerá-los do que os governos.
Como aconteceu em outras oportunidades, o sistema financeiro se fortalecerá. As crises costumam gerar mudanças institucionais que melhoram o seu funcionamento. Esta não é, pois, a crise terminal do capitalismo, que Marx previu (e errou) há mais de um século, nem o ressurgimento do intervencionismo estatal de outros tempos. Nos países em que a re-regulação for bem feita, os bancos aumentarão sua contribuição para a geração de riqueza e bem-estar
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
ABC das finançasO dicionário da crise
Cláudio Gradilone
Alavancagem – É a operação em que bancos de investimento fazem apostas no mercado cujo valor é até quarenta vezes seu patrimônio – quando o limite máximo de segurança recomendado internacionalmente é doze vezes (12:1). A fórmula mais simples de medi-la é L = D / E, em que L é leverage (alavancagem), D é debt (dívida) e E é equity (patrimônio).
Bail-out – Pronuncia-se "beil aut". É o socorro financeiro que o governo dá a empresas falidas ou a setores inteiros da economia – no caso atual, o financeiro. Começou a ser usado em economia nos anos 50. Antes se referia principalmente ao ato de o piloto de caça acionar os foguetes que ejetam seu assento quando o avião é abatido (foto abaixo)– ele se salva, mas Deus sabe onde cairão os destroços em chamas. O paralelo com o pacote de salvação do governo americano é imediato: os ousados pilotos financeiros vão se salvar, mas os destroços cairão na cabeça dos contribuintes mais sensatos e que se recusaram a entrar na ciranda de Wall Street.
Banco comercial – Sua atividade básica é captar dinheiro mais barato de quem tem, emprestar mais caro para quem precisa e ainda cobrar uma taxa pela operação. É mais seguro, mais controlado e mais tedioso, e paga aos seus ases bônus anuais muito menores do que os pagos pelos bancos de investimento. Morgan Stanley e Goldman Sachs, os dois mais reputados bancos de investimento dos Estados Unidos, viraram bancos comerciais para tentar escapar da crise.
Banco de investimento – É a variedade selvagem do banco comercial. Capta dinheiro de pessoas e empresas, mas ganha dinheiro mesmo fazendo investimentos ousados no mercado. É alavancado (veja o verbete alavancagem) e, por isso, mais arriscado. Não deve sobreviver ao terremoto de Wall Street. Um banqueiro de investimento com quinze anos de casa e salário de 300 000 dólares por ano podia ganhar bônus anuais de 3 milhões de dólares.
Bankruptcy – Em português, é falência ou bancarrota, e seu significado é o mesmo. Refere-se à incapacidade de um banco ou uma empresa de pagar seus credores, o que leva à interrupção das atividades. Bankruptcy e bancarrota têm origem comum nas palavras latinas bancus (banco) e ruptus (quebrado) e se referiam ao hábito dos comerciantes da Idade Média de quebrar a loja do comerciante que dava o cano no mercado.
Credit Default Swap (CDS) – Instrumento financeiro muito arriscado lançado pelos bancos americanos e europeus para se proteger da inadimplência. Um banco que emprestou muito dinheiro para uma empresa recorre a outro banco e "troca" (swap, em inglês) parte do seu direito de receber por uma garantia. O duro é descobrir que essa garantia também se evaporou, como agora nos Estados Unidos.
Chapter 11 – É o capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos, cujo equivalente no Brasil é a recuperação judicial. Menos grave que a falência, permite que a empresa (ou pessoa física) se recupere e pague os credores. O processo de recuperação é supervisionado por um dos tribunais de falências.
Depressão – Situação de grave crise econômica, em que o crédito desaparece, o desemprego explode, as falências se multiplicam, o comércio internacional e o investimento encolhem e as moedas se desvalorizam por longos períodos. Uma depressão é uma forma grave de recessão.
Derivativos – Instrumentos financeiros que servem para diluir o risco de um investidor. É mais ou menos como pagar alguém (um especulador) para correr riscos em seu lugar em troca de uma remuneração. Tornaram-se tão complexos a ponto de ninguém saber exatamente com quem está o risco. Difícil mentalizar? Imagine uma família tão heterodoxa a ponto de alguém descobrir que é seu próprio avô.
Desalavancagem – É o processo de diminuir a relação D / E, em geral aumentando o patrimônio (E), mas também diminuindo a dívida (D) –
Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) – Seguradora Federal de Depósitos. É uma estatal americana encarregada de defender o dinheiro dos pequenos poupadores das peraltices dos banqueiros. Quando um banco quebra, os depósitos até 250 000 dólares estão protegidos.
Federal Reserve (Fed) – O Sistema Federal de Reservas (Federal Reserve System, mais conhecido como Fed) é o banco central dos Estados Unidos. Seu dever principal é garantir o valor do dólar controlando a inflação, mas nas duas últimas semanas o Fed concentrou-se em salvar o sistema bancário.
Foreclosure – É o despejo de um comprador inadimplente de imóvel, algo muito mais fácil nos Estados Unidos que no Brasil. O vendedor encerra unilateralmente o contrato de compra e venda antes do prazo (foreclose) e despeja o morador.
Bennie Davis/Erin Siega/Reuters
Hedge funds – São fundos que diversificam investimentos e fazem pesadas apostas em ações, títulos de dívida, matérias-primas básicas, as commodities, moedas e até ouro, jóias e obras de arte de modo a ganhar com as oscilações relativas de preços. O nome é quase uma ironia porque quem busca hedge (proteção, em inglês) quer segurança, algo que esses fundos têm estado muito longe de oferecer.
Mortgage – É a hipoteca, um empréstimo garantido por um imóvel. As hipotecas foram o principal produtor de riqueza financeira dos Estados Unidos. Com 1 trilhão de dólares de hipotecas, os bancos criaram, por meio de derivativos e outros instrumentos financeiros, cerca de 10 trilhões de dólares (mais ou menos dez PIBs do Brasil) por ano.
Panic selling – É o movimento irracional de venda que ocorre quando os investidores entram em pânico e acham que as cotações vão cair muito. Por isso vendem o que possuem a qualquer preço. Bom momento para os grandes investidores (carinhosamente chamados de "tubarões") ganharem dinheiro comprando ações de boas empresas muito barato. O movimento contrário é chamado de panic buying, a compra irracional.
Recessão – Uma situação em que a atividade econômica diminui seu ritmo por um período (para alguns economistas, mais de três trimestres consecutivos). Uma recessão é menos grave do que uma depressão.
Securitização – Emissão de títulos garantidos por um fluxo de pagamentos que ainda será recebido –.ou seja, uma dívida. O emissor desses títulos (em inglês, securities, daí o termo securitization) antecipa os recursos vendendo os papéis para investidores. A crise explodiu quando muitas dívidas não foram pagas e o sistema se convenceu de que muitas outras também não seriam.
Subprime – A atual situação caótica dos mercados será conhecida para sempre como a Crise do Subprime. Prime (pronuncia-se "praime" é o título emitido por um devedor com vontade e capacidade de pagar sua dívida. Subprime é o contrário. A malandragem que deu a confusão toda foi justamente empacotar títulos prime junto com subprime e usá-los no processo de securitização com ajuda de derivativos – uma versão de alta tecnologia da venda de gato por lebre.
Istockphoto.com
Tesouro – O Departamento do Tesouro é o órgão encarregado de administrar as finanças públicas dos Estados Unidos, mais ou menos a atribuição do Ministério da Fazenda no Brasil. Mais recentemente, virou também o responsável por tributar os pobres para ajudar os bancos
Alavancagem – É a operação em que bancos de investimento fazem apostas no mercado cujo valor é até quarenta vezes seu patrimônio – quando o limite máximo de segurança recomendado internacionalmente é doze vezes (12:1). A fórmula mais simples de medi-la é L = D / E, em que L é leverage (alavancagem), D é debt (dívida) e E é equity (patrimônio).
Bail-out – Pronuncia-se "beil aut". É o socorro financeiro que o governo dá a empresas falidas ou a setores inteiros da economia – no caso atual, o financeiro. Começou a ser usado em economia nos anos 50. Antes se referia principalmente ao ato de o piloto de caça acionar os foguetes que ejetam seu assento quando o avião é abatido (foto abaixo)– ele se salva, mas Deus sabe onde cairão os destroços em chamas. O paralelo com o pacote de salvação do governo americano é imediato: os ousados pilotos financeiros vão se salvar, mas os destroços cairão na cabeça dos contribuintes mais sensatos e que se recusaram a entrar na ciranda de Wall Street.
Banco comercial – Sua atividade básica é captar dinheiro mais barato de quem tem, emprestar mais caro para quem precisa e ainda cobrar uma taxa pela operação. É mais seguro, mais controlado e mais tedioso, e paga aos seus ases bônus anuais muito menores do que os pagos pelos bancos de investimento. Morgan Stanley e Goldman Sachs, os dois mais reputados bancos de investimento dos Estados Unidos, viraram bancos comerciais para tentar escapar da crise.
Banco de investimento – É a variedade selvagem do banco comercial. Capta dinheiro de pessoas e empresas, mas ganha dinheiro mesmo fazendo investimentos ousados no mercado. É alavancado (veja o verbete alavancagem) e, por isso, mais arriscado. Não deve sobreviver ao terremoto de Wall Street. Um banqueiro de investimento com quinze anos de casa e salário de 300 000 dólares por ano podia ganhar bônus anuais de 3 milhões de dólares.
Bankruptcy – Em português, é falência ou bancarrota, e seu significado é o mesmo. Refere-se à incapacidade de um banco ou uma empresa de pagar seus credores, o que leva à interrupção das atividades. Bankruptcy e bancarrota têm origem comum nas palavras latinas bancus (banco) e ruptus (quebrado) e se referiam ao hábito dos comerciantes da Idade Média de quebrar a loja do comerciante que dava o cano no mercado.
Credit Default Swap (CDS) – Instrumento financeiro muito arriscado lançado pelos bancos americanos e europeus para se proteger da inadimplência. Um banco que emprestou muito dinheiro para uma empresa recorre a outro banco e "troca" (swap, em inglês) parte do seu direito de receber por uma garantia. O duro é descobrir que essa garantia também se evaporou, como agora nos Estados Unidos.
Chapter 11 – É o capítulo 11 do Código de Falência dos Estados Unidos, cujo equivalente no Brasil é a recuperação judicial. Menos grave que a falência, permite que a empresa (ou pessoa física) se recupere e pague os credores. O processo de recuperação é supervisionado por um dos tribunais de falências.
Depressão – Situação de grave crise econômica, em que o crédito desaparece, o desemprego explode, as falências se multiplicam, o comércio internacional e o investimento encolhem e as moedas se desvalorizam por longos períodos. Uma depressão é uma forma grave de recessão.
Derivativos – Instrumentos financeiros que servem para diluir o risco de um investidor. É mais ou menos como pagar alguém (um especulador) para correr riscos em seu lugar em troca de uma remuneração. Tornaram-se tão complexos a ponto de ninguém saber exatamente com quem está o risco. Difícil mentalizar? Imagine uma família tão heterodoxa a ponto de alguém descobrir que é seu próprio avô.
Desalavancagem – É o processo de diminuir a relação D / E, em geral aumentando o patrimônio (E), mas também diminuindo a dívida (D) –
Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) – Seguradora Federal de Depósitos. É uma estatal americana encarregada de defender o dinheiro dos pequenos poupadores das peraltices dos banqueiros. Quando um banco quebra, os depósitos até 250 000 dólares estão protegidos.
Federal Reserve (Fed) – O Sistema Federal de Reservas (Federal Reserve System, mais conhecido como Fed) é o banco central dos Estados Unidos. Seu dever principal é garantir o valor do dólar controlando a inflação, mas nas duas últimas semanas o Fed concentrou-se em salvar o sistema bancário.
Foreclosure – É o despejo de um comprador inadimplente de imóvel, algo muito mais fácil nos Estados Unidos que no Brasil. O vendedor encerra unilateralmente o contrato de compra e venda antes do prazo (foreclose) e despeja o morador.
Bennie Davis/Erin Siega/Reuters
Hedge funds – São fundos que diversificam investimentos e fazem pesadas apostas em ações, títulos de dívida, matérias-primas básicas, as commodities, moedas e até ouro, jóias e obras de arte de modo a ganhar com as oscilações relativas de preços. O nome é quase uma ironia porque quem busca hedge (proteção, em inglês) quer segurança, algo que esses fundos têm estado muito longe de oferecer.
Mortgage – É a hipoteca, um empréstimo garantido por um imóvel. As hipotecas foram o principal produtor de riqueza financeira dos Estados Unidos. Com 1 trilhão de dólares de hipotecas, os bancos criaram, por meio de derivativos e outros instrumentos financeiros, cerca de 10 trilhões de dólares (mais ou menos dez PIBs do Brasil) por ano.
Panic selling – É o movimento irracional de venda que ocorre quando os investidores entram em pânico e acham que as cotações vão cair muito. Por isso vendem o que possuem a qualquer preço. Bom momento para os grandes investidores (carinhosamente chamados de "tubarões") ganharem dinheiro comprando ações de boas empresas muito barato. O movimento contrário é chamado de panic buying, a compra irracional.
Recessão – Uma situação em que a atividade econômica diminui seu ritmo por um período (para alguns economistas, mais de três trimestres consecutivos). Uma recessão é menos grave do que uma depressão.
Securitização – Emissão de títulos garantidos por um fluxo de pagamentos que ainda será recebido –.ou seja, uma dívida. O emissor desses títulos (em inglês, securities, daí o termo securitization) antecipa os recursos vendendo os papéis para investidores. A crise explodiu quando muitas dívidas não foram pagas e o sistema se convenceu de que muitas outras também não seriam.
Subprime – A atual situação caótica dos mercados será conhecida para sempre como a Crise do Subprime. Prime (pronuncia-se "praime" é o título emitido por um devedor com vontade e capacidade de pagar sua dívida. Subprime é o contrário. A malandragem que deu a confusão toda foi justamente empacotar títulos prime junto com subprime e usá-los no processo de securitização com ajuda de derivativos – uma versão de alta tecnologia da venda de gato por lebre.
Istockphoto.com
Tesouro – O Departamento do Tesouro é o órgão encarregado de administrar as finanças públicas dos Estados Unidos, mais ou menos a atribuição do Ministério da Fazenda no Brasil. Mais recentemente, virou também o responsável por tributar os pobres para ajudar os bancos
Pacote eleva dívida dos EUA para US$ 11,3 tri
21/09/2008 - 08h29
da Folha Online
O pacote de ajuda ao setor financeiro que o governo americano tenta aprovar, de US$ 700 bilhões, prevê um aumento do limite de endividamento público do país de US$ 10,6 trilhões para US$ 11,3 trilhões, informa Sérgio Dávila em reportagem da Folha deste domingo (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Espera-se que o projeto entre em discussão já no fim-de-semana, diz o texto. "A intenção do governo é que ele seja votado antes do recesso eleitoral do Congresso, previsto para começar na sexta-feira."
O valor da dívida hoje é de US$ 9,6 trilhões, com um limite estabelecido em US$ 10,6 trilhões. "O documento, de duas páginas e meia, foi enviado aos líderes dos comitês financeiros do Congresso na noite de sexta. Nele, o Tesouro norte-americano pede que seja autorizado a comprar papéis relacionados a hipotecas que tenham sido emitidos até 18 de setembro de 2008 de toda instituição financeira que tenha sede nos EUA."
O presidente dos EUA, George W. Bush, declarou ontem que o plano de seu governo para pôr fim à crise financeira é "grande porque o problema é grande". "Direi a nossos cidadãos e continuarei lembrando a eles que o risco de não fazer nada é muito maior que o risco do pacote", acrescentou Bush.
O projeto estimula a compra de ativos apenas de empresas norte-americanas e dá ao Departamento do Tesouro imunidade legal contra processos judiciais. Não ficou claro como o governo administrará os ativos adquiridos, mas o secretário do Tesouro, Henry Paulson, terá a autoridade de intervir em instituições financeiras privadas para executar a operação ou de criar outras instâncias para adquirir ativos hipotecários e emitir dívida.
O Departamento do Tesouro, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) e o Congresso dos EUA decidiram lançar o pacote na quinta-feira (18).
O estopim da crise financeira ocorreu na segunda-feira (15) com a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers; a instituição pediu concordata, devido à falta de crédito junto a outras instituições bancárias e à recusa do governo em destinar recursos para reforçar seu caixa. Além disso, o Merrill Lynch foi vendido ao Bank of America e a seguradora AIG recebeu ajuda de US$ 85 bilhões do Fed. Tal seqüência de eventos deixou os investidores assustados durante toda a semana.
O banco de poupança e investimentos ("savings & loans") Washington Mutual também foi alvo de atenção dos investidores: o banco estaria sendo objeto de consultas da parte do governo a outras instituições financeiras sobre uma eventual aquisição. O Morgan Stanley também pode ser o próximo a ser absorvido --Wachovia (quarto maior banco dos EUA), Citigroup e HSBC já teria mostrado algum interesse na fusão.
Seis dos principais bancos centrais do mundo anunciaram nesta semana uma ação coordenada para enfrentar a crise; o Banco do Japão, o Fed, o BCE (Banco Central Europeu), o Banco da Inglaterra (BC do Reino Unido), o SNB (Suíça) e o Banco do Canadá injetaram na economia mais de US$ 200 bilhões.
No início deste mês já havia sido anunciado um pacote de US$ 200 bilhões do Tesouro em ajuda à Fannie Mae e à Freddie Mac, que corriam o risco de quebrar.
da Folha Online
O pacote de ajuda ao setor financeiro que o governo americano tenta aprovar, de US$ 700 bilhões, prevê um aumento do limite de endividamento público do país de US$ 10,6 trilhões para US$ 11,3 trilhões, informa Sérgio Dávila em reportagem da Folha deste domingo (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).
Espera-se que o projeto entre em discussão já no fim-de-semana, diz o texto. "A intenção do governo é que ele seja votado antes do recesso eleitoral do Congresso, previsto para começar na sexta-feira."
O valor da dívida hoje é de US$ 9,6 trilhões, com um limite estabelecido em US$ 10,6 trilhões. "O documento, de duas páginas e meia, foi enviado aos líderes dos comitês financeiros do Congresso na noite de sexta. Nele, o Tesouro norte-americano pede que seja autorizado a comprar papéis relacionados a hipotecas que tenham sido emitidos até 18 de setembro de 2008 de toda instituição financeira que tenha sede nos EUA."
O presidente dos EUA, George W. Bush, declarou ontem que o plano de seu governo para pôr fim à crise financeira é "grande porque o problema é grande". "Direi a nossos cidadãos e continuarei lembrando a eles que o risco de não fazer nada é muito maior que o risco do pacote", acrescentou Bush.
O projeto estimula a compra de ativos apenas de empresas norte-americanas e dá ao Departamento do Tesouro imunidade legal contra processos judiciais. Não ficou claro como o governo administrará os ativos adquiridos, mas o secretário do Tesouro, Henry Paulson, terá a autoridade de intervir em instituições financeiras privadas para executar a operação ou de criar outras instâncias para adquirir ativos hipotecários e emitir dívida.
O Departamento do Tesouro, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) e o Congresso dos EUA decidiram lançar o pacote na quinta-feira (18).
O estopim da crise financeira ocorreu na segunda-feira (15) com a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers; a instituição pediu concordata, devido à falta de crédito junto a outras instituições bancárias e à recusa do governo em destinar recursos para reforçar seu caixa. Além disso, o Merrill Lynch foi vendido ao Bank of America e a seguradora AIG recebeu ajuda de US$ 85 bilhões do Fed. Tal seqüência de eventos deixou os investidores assustados durante toda a semana.
O banco de poupança e investimentos ("savings & loans") Washington Mutual também foi alvo de atenção dos investidores: o banco estaria sendo objeto de consultas da parte do governo a outras instituições financeiras sobre uma eventual aquisição. O Morgan Stanley também pode ser o próximo a ser absorvido --Wachovia (quarto maior banco dos EUA), Citigroup e HSBC já teria mostrado algum interesse na fusão.
Seis dos principais bancos centrais do mundo anunciaram nesta semana uma ação coordenada para enfrentar a crise; o Banco do Japão, o Fed, o BCE (Banco Central Europeu), o Banco da Inglaterra (BC do Reino Unido), o SNB (Suíça) e o Banco do Canadá injetaram na economia mais de US$ 200 bilhões.
No início deste mês já havia sido anunciado um pacote de US$ 200 bilhões do Tesouro em ajuda à Fannie Mae e à Freddie Mac, que corriam o risco de quebrar.
A CEBOLA E AS LÁGRIMAS
Domingo, 20 janeiro de 2008 O Estado de São Paulo.
Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br
A economia é uma cebola com suas camadas. Quando se removem os problemas imediatos, aparecem os debaixo e, depois, os de mais abaixo ainda. Até chegar ao talo, há muito o que chorar.A concessão de crédito farto a clientes de risco foi uma barbeiragem dos bancos americanos. Depois se viu que eles só fizeram tudo isso porque os órgãos reguladores cederam na supervisão.Em seguida, vem a culpa atribuída à política monetária de 2001 até recentemente e a dose de culpa a ser descarregada sobre o presidente anterior do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o até agora louvadíssimo Alan Greenspan.
Nessa camada da cebola, de novembro de 2001 a junho de 2004, os juros básicos no país ficaram ao redor de 1% ao ano, quando a inflação era de 2%. Para os críticos, Greenspan foi mão mole demais, deixou dinheiro a rodo zanzando pela economia e esse excesso de liquidez incentivou a leniência no crédito, a gastança, a propagação de bolhas - enfim, o porre consumista que desembocou na ressaca que o americano e o resto do mundo curtem agora.
Ocorre que os juros baixos e o excesso de liquidez não surgiram de graça. Tiveram lá suas causas que não podiam ser ignoradas por Greenspan. Foram determinados por duas forças que avançaram sobre a economia global.De repente, o mercado foi inundado por bens industrializados da Ásia vendidos por uma fração dos preços vigentes no mundo rico, pois são produzidos por mão-de-obra barata. A inflação global sofreu um golpe enorme.
Ao mesmo tempo, o aumento do uso da Tecnologia de Informação encurtou a distância e o tempo entre a produção e o consumo e dispensou parcelas crescentes de estoques, máquinas, instalações, capital de giro e pessoal. A redução de custos também ajudou a derrubar a inflação.
De repente, os bancos centrais se viram como os Estados Unidos após a queda do Muro de Berlim: sem inimigo a combater. Não havia inflação que exigisse a retirada de dinheiro do mercado e o aumento dos juros. A sobra de capital aumentou a busca por títulos do Tesouro americano (T-bonds). Os juros de longo prazo desabaram, o que levou o próprio Greenspan a supreender-se com o surgimento de um novo enigma na economia (conundrum).
Mas os juros permaneceram baixos não apenas por isso. O governo Clinton havia gerado um superávit nas contas públicas que projetavam sobra de US$ 3 trilhões nos dez anos seguintes. Greenspan temeu que a falta de um déficit a ser coberto com emissões de T-bonds deixaria o Fed sem estoque de títulos para quando quisesse enxugar o volume de dinheiro ou quando quisesse injetar mais liquidez. A situação parecia tão anômala que ele denunciou o risco de deflação, algo tão grave quanto a própria inflação.
E aí chegamos à camada mais profunda da cebola. Se a gênese da crise atual está na excessiva injeção de dinheiro na economia, é preciso reconhecer que a situação que gerou a abundância tem a ver com o salto dos emergentes, com a crescente incorporação de mão-de-obra marginalizada e com a criação de grandes mercados de consumo. Enfim, a crise tem a ver com as dores de parto de um novo ciclo da economia mundial, que um pacote eleitoral de Bush não será capaz de mudar.
Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br
A economia é uma cebola com suas camadas. Quando se removem os problemas imediatos, aparecem os debaixo e, depois, os de mais abaixo ainda. Até chegar ao talo, há muito o que chorar.A concessão de crédito farto a clientes de risco foi uma barbeiragem dos bancos americanos. Depois se viu que eles só fizeram tudo isso porque os órgãos reguladores cederam na supervisão.Em seguida, vem a culpa atribuída à política monetária de 2001 até recentemente e a dose de culpa a ser descarregada sobre o presidente anterior do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o até agora louvadíssimo Alan Greenspan.
Nessa camada da cebola, de novembro de 2001 a junho de 2004, os juros básicos no país ficaram ao redor de 1% ao ano, quando a inflação era de 2%. Para os críticos, Greenspan foi mão mole demais, deixou dinheiro a rodo zanzando pela economia e esse excesso de liquidez incentivou a leniência no crédito, a gastança, a propagação de bolhas - enfim, o porre consumista que desembocou na ressaca que o americano e o resto do mundo curtem agora.
Ocorre que os juros baixos e o excesso de liquidez não surgiram de graça. Tiveram lá suas causas que não podiam ser ignoradas por Greenspan. Foram determinados por duas forças que avançaram sobre a economia global.De repente, o mercado foi inundado por bens industrializados da Ásia vendidos por uma fração dos preços vigentes no mundo rico, pois são produzidos por mão-de-obra barata. A inflação global sofreu um golpe enorme.
Ao mesmo tempo, o aumento do uso da Tecnologia de Informação encurtou a distância e o tempo entre a produção e o consumo e dispensou parcelas crescentes de estoques, máquinas, instalações, capital de giro e pessoal. A redução de custos também ajudou a derrubar a inflação.
De repente, os bancos centrais se viram como os Estados Unidos após a queda do Muro de Berlim: sem inimigo a combater. Não havia inflação que exigisse a retirada de dinheiro do mercado e o aumento dos juros. A sobra de capital aumentou a busca por títulos do Tesouro americano (T-bonds). Os juros de longo prazo desabaram, o que levou o próprio Greenspan a supreender-se com o surgimento de um novo enigma na economia (conundrum).
Mas os juros permaneceram baixos não apenas por isso. O governo Clinton havia gerado um superávit nas contas públicas que projetavam sobra de US$ 3 trilhões nos dez anos seguintes. Greenspan temeu que a falta de um déficit a ser coberto com emissões de T-bonds deixaria o Fed sem estoque de títulos para quando quisesse enxugar o volume de dinheiro ou quando quisesse injetar mais liquidez. A situação parecia tão anômala que ele denunciou o risco de deflação, algo tão grave quanto a própria inflação.
E aí chegamos à camada mais profunda da cebola. Se a gênese da crise atual está na excessiva injeção de dinheiro na economia, é preciso reconhecer que a situação que gerou a abundância tem a ver com o salto dos emergentes, com a crescente incorporação de mão-de-obra marginalizada e com a criação de grandes mercados de consumo. Enfim, a crise tem a ver com as dores de parto de um novo ciclo da economia mundial, que um pacote eleitoral de Bush não será capaz de mudar.
Lehman Brothers, Marx & Sons.
Quinta-Feira, 16 de Outubro de 2008 http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081016/not_imp260704,0.php
Lehman Brothers, Marx & Sons.
Demétrio Magnoli
Quando o Lehman Brothers entrou em bancarrota, provocando a implosão de Wall Street, os filhos órfãos de Karl Marx começaram a disseminar uma narrativa ideológica da crise que é tão desonesta quanto reacionária. Essencialmente, eles dizem que o neoliberalismo faliu e que a causa da catástrofe é a desregulamentação do mercado financeiro. Neste mantra, convertido em senso comum, uma mentira factual fica protegida atrás da paliçada conceitual de uma fraude.O neoliberalismo não faliu porque não existe. A fraude conceitual ampara-se no ocultamento dos dados empíricos. Nos anos 20, tempos do liberalismo, os gastos públicos sociais nos EUA (pensões, educação, saúde e welfare) não alcançavam 5% do PIB. Depois, com o New Deal e os "30 anos gloriosos" do pós-guerra, criou-se o Estado de Bem-Estar e os gastos sociais cresceram até perto da linha de 20% do PIB. Segundo o teorema histórico que emoldura a noção de neoliberalismo, o Estado de Bem-Estar ruiu sob os golpes hayekianos de Ronald Reagan. Mas - surpresa! - os números contam outra história. A "era Reagan" não provocou contração dos gastos sociais, conseguindo apenas estabilizá-los temporariamente. Hoje, eles ultrapassam os 20% do PIB (veja o gráfico no blog http://www.terra.com.br/economia/blog/iconomia/index.htm, de Gilson Schwartz).
O Estado de Bem-Estar é um fruto da democracia de massas. O neoliberalismo só poderia existir com a restauração da democracia restrita dos tempos do liberalismo, quando o direito de voto era privilégio de uma minoria. Os filhos de Marx não entendem isso porque hostilizam o princípio democrático, que imaginam representar uma invenção "burguesa". Eis o motivo pelo qual suas análises econômicas se chocam com os dados empíricos.Na hipótese de desabamento de um viaduto condenado por erros de engenharia, deve-se culpar a lei da gravidade? É algo assim que fazem os filhos de Marx quando atribuem o colapso financeiro a uma combinação de ganância com livre mercado. A referência à "ganância" nada diz sobre esta crise específica, pois o imperativo do lucro é um traço estrutural da modernidade capitalista, mas diz muito acerca de um pensamento econômico contaminado pelos dogmas do cristianismo medieval. Quanto à desregulamentação, ela só existe no mundo imaginário dos ideólogos.
O economista Steven Horwitz escreveu uma carta aberta a seus "amigos da esquerda" identificando as diversas regulamentações políticas que incentivaram o tsunami especulativo no mercado imobiliário (o link está no blog de Gilson Schwartz). Ele prova factualmente que o mercado no qual se armou a tragédia nada tem de liberal, articulando-se sobre uma teia de regras, emanadas do Executivo e do Congresso, que pavimentaram o caminho rumo à concessão de empréstimos cada vez mais arriscados. Fannie Mae e Freddie Mac são corporações hipotecárias tecnicamente privadas, mas patrocinadas pelo poder público, que operavam sob garantia de resgate estatal em caso de falência. As agências reguladoras autorizaram-nas, em 1995, a entrar no mercado de subprime e exigiram dos bancos privados um aumento dos empréstimos imobiliários para devedores com poucos recursos. A "ganância" fez o resto, mas no ambiente de liquidez abundante, propício à especulação, gerado pela política monetária do banco central americano e pela política fiscal do governo Bush.Para salvar sua narrativa ideológica sobre os mercados desregulamentados os filhos de Marx erguem um Muro de Berlim metodológico entre as esferas da economia e da política. O conservador Horwitz é mais honesto, evidenciando a presença ubíqua da "mão visível" do Estado no financiamento privado do mercado imobiliário americano. Mas a sua honestidade tem limites, definidos por uma perspectiva ideológica. A utopia inviável de Horwitz é um retorno à idade de ouro liberal e ele prefere criticar a "mão visível" democrata à republicana. Por esse motivo, menciona só de passagem a política econômica da "era Bush" e, sobretudo, não a vincula à guerra no Iraque.Pela primeira vez na história, uma guerra de grandes proporções foi conduzida por um governo que não conclamou os cidadãos a fazerem sacrifícios, mas, explicitamente, a "irem às compras".
A mistura tóxica de juros baixos e cortes de impostos com um déficit orçamentário crescente formou o pano de fundo da ciranda especulativa num mercado intensamente regulamentado. A implosão das altas finanças nos EUA, contagiando os mercados internacionais e anunciando a recessão global, não é obra exclusiva do governo Bush, mas tem as digitais de uma "mão visível" disposta a tudo para assegurar apoio interno à política externa cruzadista dos neoconservadores.
A análise econômica reacionária dos filhos de Marx oculta tudo isso.Neoliberalismo é um signo que adquiriu diferentes significados desde o seu uso inicial, no fim do século 19. A partir das "revoluções" de Reagan e Margaret Thatcher, contudo, sua utilização se disseminou e seu significado deslizou rumo a um colapso. Depois da queda do Muro de Berlim, neoliberalismo sofreu um processo de redução fetichista, convertendo-se em senha de identificação coletiva de uma confraria dos derrotados - algo como um lenço de lapela pelo qual um nostálgico do "socialismo real" reconhece seus iguais. Não há problema nisso, com a condição de que a nostalgia de uma minoria não destrua a capacidade pública de decifrar o sentido das coisas.
Marx podia estar fundamentalmente errado, mas nunca deixou de buscar as articulações entre economia e política. Seus órfãos, traindo-o, inventaram uma economia "neoliberal" desregulamentada e denunciam uma "contradição" fatal quando os governos "neoliberais" se preparam para estatizar o núcleo do sistema financeiro. Eles não percebem que um padrão de regulamentação está sendo substituído por outro. Nem que a "mão visível" da política está presente nos dois. Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br
Lehman Brothers, Marx & Sons.
Demétrio Magnoli
Quando o Lehman Brothers entrou em bancarrota, provocando a implosão de Wall Street, os filhos órfãos de Karl Marx começaram a disseminar uma narrativa ideológica da crise que é tão desonesta quanto reacionária. Essencialmente, eles dizem que o neoliberalismo faliu e que a causa da catástrofe é a desregulamentação do mercado financeiro. Neste mantra, convertido em senso comum, uma mentira factual fica protegida atrás da paliçada conceitual de uma fraude.O neoliberalismo não faliu porque não existe. A fraude conceitual ampara-se no ocultamento dos dados empíricos. Nos anos 20, tempos do liberalismo, os gastos públicos sociais nos EUA (pensões, educação, saúde e welfare) não alcançavam 5% do PIB. Depois, com o New Deal e os "30 anos gloriosos" do pós-guerra, criou-se o Estado de Bem-Estar e os gastos sociais cresceram até perto da linha de 20% do PIB. Segundo o teorema histórico que emoldura a noção de neoliberalismo, o Estado de Bem-Estar ruiu sob os golpes hayekianos de Ronald Reagan. Mas - surpresa! - os números contam outra história. A "era Reagan" não provocou contração dos gastos sociais, conseguindo apenas estabilizá-los temporariamente. Hoje, eles ultrapassam os 20% do PIB (veja o gráfico no blog http://www.terra.com.br/economia/blog/iconomia/index.htm, de Gilson Schwartz).
O Estado de Bem-Estar é um fruto da democracia de massas. O neoliberalismo só poderia existir com a restauração da democracia restrita dos tempos do liberalismo, quando o direito de voto era privilégio de uma minoria. Os filhos de Marx não entendem isso porque hostilizam o princípio democrático, que imaginam representar uma invenção "burguesa". Eis o motivo pelo qual suas análises econômicas se chocam com os dados empíricos.Na hipótese de desabamento de um viaduto condenado por erros de engenharia, deve-se culpar a lei da gravidade? É algo assim que fazem os filhos de Marx quando atribuem o colapso financeiro a uma combinação de ganância com livre mercado. A referência à "ganância" nada diz sobre esta crise específica, pois o imperativo do lucro é um traço estrutural da modernidade capitalista, mas diz muito acerca de um pensamento econômico contaminado pelos dogmas do cristianismo medieval. Quanto à desregulamentação, ela só existe no mundo imaginário dos ideólogos.
O economista Steven Horwitz escreveu uma carta aberta a seus "amigos da esquerda" identificando as diversas regulamentações políticas que incentivaram o tsunami especulativo no mercado imobiliário (o link está no blog de Gilson Schwartz). Ele prova factualmente que o mercado no qual se armou a tragédia nada tem de liberal, articulando-se sobre uma teia de regras, emanadas do Executivo e do Congresso, que pavimentaram o caminho rumo à concessão de empréstimos cada vez mais arriscados. Fannie Mae e Freddie Mac são corporações hipotecárias tecnicamente privadas, mas patrocinadas pelo poder público, que operavam sob garantia de resgate estatal em caso de falência. As agências reguladoras autorizaram-nas, em 1995, a entrar no mercado de subprime e exigiram dos bancos privados um aumento dos empréstimos imobiliários para devedores com poucos recursos. A "ganância" fez o resto, mas no ambiente de liquidez abundante, propício à especulação, gerado pela política monetária do banco central americano e pela política fiscal do governo Bush.Para salvar sua narrativa ideológica sobre os mercados desregulamentados os filhos de Marx erguem um Muro de Berlim metodológico entre as esferas da economia e da política. O conservador Horwitz é mais honesto, evidenciando a presença ubíqua da "mão visível" do Estado no financiamento privado do mercado imobiliário americano. Mas a sua honestidade tem limites, definidos por uma perspectiva ideológica. A utopia inviável de Horwitz é um retorno à idade de ouro liberal e ele prefere criticar a "mão visível" democrata à republicana. Por esse motivo, menciona só de passagem a política econômica da "era Bush" e, sobretudo, não a vincula à guerra no Iraque.Pela primeira vez na história, uma guerra de grandes proporções foi conduzida por um governo que não conclamou os cidadãos a fazerem sacrifícios, mas, explicitamente, a "irem às compras".
A mistura tóxica de juros baixos e cortes de impostos com um déficit orçamentário crescente formou o pano de fundo da ciranda especulativa num mercado intensamente regulamentado. A implosão das altas finanças nos EUA, contagiando os mercados internacionais e anunciando a recessão global, não é obra exclusiva do governo Bush, mas tem as digitais de uma "mão visível" disposta a tudo para assegurar apoio interno à política externa cruzadista dos neoconservadores.
A análise econômica reacionária dos filhos de Marx oculta tudo isso.Neoliberalismo é um signo que adquiriu diferentes significados desde o seu uso inicial, no fim do século 19. A partir das "revoluções" de Reagan e Margaret Thatcher, contudo, sua utilização se disseminou e seu significado deslizou rumo a um colapso. Depois da queda do Muro de Berlim, neoliberalismo sofreu um processo de redução fetichista, convertendo-se em senha de identificação coletiva de uma confraria dos derrotados - algo como um lenço de lapela pelo qual um nostálgico do "socialismo real" reconhece seus iguais. Não há problema nisso, com a condição de que a nostalgia de uma minoria não destrua a capacidade pública de decifrar o sentido das coisas.
Marx podia estar fundamentalmente errado, mas nunca deixou de buscar as articulações entre economia e política. Seus órfãos, traindo-o, inventaram uma economia "neoliberal" desregulamentada e denunciam uma "contradição" fatal quando os governos "neoliberais" se preparam para estatizar o núcleo do sistema financeiro. Eles não percebem que um padrão de regulamentação está sendo substituído por outro. Nem que a "mão visível" da política está presente nos dois. Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP. E-mail: demetrio.magnoli@terra.com.br
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