14/12/2008 - 13h55
REUTERS
MIANYANG, China (Reuters) - As nações ricas devem ter cuidado para não causar mais sofrimento ao mundo em desenvolvimento ao tomar medidas mais ousadas para fortalecer suas economias fragilizadas, disse o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, neste domingo.
Zoellick alertou que os países mais pobres, que já enfrentam grande perda de empregos, estão vulneráveis às conseqüências indiretas das políticas criadas para socorrer os mercados financeiros.
"Os países desenvolvidos garantiram muitos débitos bancários. Isso tornou difícil para os países em desenvolvimento, com bons programas orçamentários, conseguir lançar títulos no mercado", disse Zoellick em uma entrevista enquanto visitava a província chinesa de Sichuan, devastada por um terremoto em maio.
"É importante para os países em desenvolvimento reconhecer que em algum momento vão precisar de estratégias de saída para essas garantias ou ser capazes de discipliná-las", disse ele. "Não estou dizendo que devem tomar essa atitude agora, mas de outra forma os países em desenvolvimento vão arcar com o impacto disso".
O Banco Mundial disse na semana passada que o derretimento financeiro global está pesando muito nas economias em desenvolvimento, prevendo um crescimento de 4,5 por cento para o próximo ano diante dos 6,3 de 2008.
"Esta crise financeira virou uma crise econômica, e no ano que vem será uma crise de desemprego", disse Zoellick. "Será uma fase extremamente difícil".
Ele disse que a recuperação pode ser dificultada se os países se voltarem para si mesmos na tentativa de salvar suas economias, com pouca atenção para os outros.
"Estou preocupado que o desemprego, especialmente se combinado com os descontos nos preços, possa levar a ondas de protecionismo", disse ele.
Embora elogiando a expansão monetária e o estímulo fiscal nos EUA e em outras partes, Zoellick disse que tais políticas podem conter as sementes de futuros problemas econômicos, acrescentando que seria necessário disciplina para freá-las no longo prazo.
(Reportagem de Simon Rabinovitch)
domingo, 14 de dezembro de 2008
ENTREVISTA COM KENNTH ROGOFF
O ESTADO DE SÃO PAULO
Domingo, 14 de Dezembro de 2008 | Versão Impressa
''Crescimento zero será bom resultado para o Brasil em 2009''
Professor de Harvard diz que País está mais bem preparado para enfrentar a crise, mas não tem como escapar de seus efeitos
Leandro Modé
O americano Kenneth Rogoff, de 55 anos, é um dos mais respeitados economistas do mundo hoje, o que não significa que seja unanimidade. Suas posições ortodoxas, muitas vezes expressas de uma forma contundente, nem sempre agradam ao interlocutor. Em 2002, quando era economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), envolveu-se em uma polêmica pública com o ex-economista-chefe do Banco Mundial e ganhador do Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz. O tema da contenda era globalização. Talvez pelo cargo que tenha ocupado, Rogoff procura manter-se atualizado sobre a economia de vários países. Esse conhecimento dá a ele a certeza de que o mundo está em meio à pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Por isso, avisa: o Brasil deve dar-se por satisfeito se não enfrentar recessão em 2009. Rogoff, que hoje leciona na Universidade Harvard, conversou com o Estado, por telefone, durante uma viagem de trem de Boston para Nova York.
Leia a íntegra da entrevista
Em artigo publicado há duas semanas, o sr. disse que o maior problema dos países ricos é a recessão. Por isso, devem deixar os juros em segundo plano. O que dizer de países emergentes, como o Brasil?
Os países emergentes têm muito menos espaço para políticas contracíclicas do que os Estados Unidos e os efeitos da inflação são mais danosos. Nos EUA, a inflação reduz o valor real das dívidas e pode ser parte da solução dos atuais problemas. O Brasil não tem esse problema. Além disso, como a inflação no Brasil já é elevada, o Banco Central está entre a cruz e a espada.
Como assim?
A economia global está apenas entrando na pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. As commodities estão despencando e o mercado de crédito secou. Ou seja, é uma situação extremamente difícil e perigosa. O crescimento no Brasil certamente vai desacelerar. Mas, ao mesmo tempo, a inflação permanece elevada. Isso deixa ao Banco Central um espaço menor para responder como gostaria (à desaceleração). Além disso, o real depreciou-se fortemente. Reduzir a taxa de juros desvaloriza o real à frente. Mas, como os juros estão caindo rapidamente mundo afora, o BC brasileiro acabará reduzindo a taxa.
Quando?
Em breve (risos). Ainda que o Brasil esteja às voltas com preocupações inflacionárias, a economia global enfrenta o risco de deflação. Isso ocorre nos EUA, na China e na Europa. Os preços das commodities estão despencando e a produção industrial está caindo. O Brasil sentirá tudo isso logo. Quaisquer que sejam as pressões inflacionárias, serão revertidas em breve.
O sr. vê risco de recessão no País?
Há grande chance de o Brasil experimentar uma recessão suave. É quase impossível escapar disso, uma vez que se espera uma profunda recessão no mundo. O Brasil vai sofrer como todos os outros, mas não acho que sofrerá mais do que os outros. Todas as mudanças que o Brasil implementou nos últimos anos vão permitir que a reação seja muito melhor do que há 10 anos. É uma situação desastrosa, mas, em termos relativos, o Brasil está melhor do que muitos outros países.
Qual sua projeção para o crescimento do Brasil em 2009?
Crescimento zero será um bom resultado, levando-se em conta o ambiente global.
Mas as pessoas aqui falam algo entre 2% e 3%.
Elas são otimistas. A economia global está afundando muito rapidamente.
Qual o seu cenário principal para a economia mundial em 2009?
Como já disse, será a pior recessão desde a Segunda Guerra, mas nada que se assemelhe à Depressão dos anos 30.
O que o sr. espera especificamente para os EUA?
Uma recessão que dure 2009 inteiro. Em 2010 e 2011, o crescimento ainda permanecerá lento, abaixo de 2%. Os preços das residências continuarão a cair e o desemprego, a subir. Os emergentes também terão uma queda em 2009, mas se recuperarão mais fortemente em 2010 e 2011.
E o PIB (Produto Interno Bruto) americano em 2009?
Crescimento negativo entre 3% e 4%.
Com essa retração nos EUA, como fica o PIB mundial?
Pode ficar negativo, especialmente se a China desacelerar mais do que se espera. Isso ocorrerá certamente em um ou dois trimestres. Para o ano todo, espero um crescimento na faixa de 1%.
E a China?
A China também está sofrendo. Já esperava que a China poderia crescer no máximo 6% no ano que vem. Agora, não ficaria surpreso se o país crescesse menos ainda do que isso. Temos de cruzar os dedos para que a China não tenha uma ruptura econômico-social, porque isso poderia aprofundar ainda mais a recessão global.
Alguns países estão sofrendo mais que os outros, como, por exemplo, a Hungria e a Rússia. Por quê?
A Hungria teria uma crise financeira de qualquer maneira. Eles tinham um endividamento instável, uma situação fiscal ruim. A Rússia é outro assunto. É basicamente uma economia de commodity (petróleo). O sistema russo não estava preparado para um petróleo a US$ 40. Eles nunca permitiram que a economia se diversificasse. O Brasil, por exemplo, tem uma economia muito mais diversificada.
Qual sua expectativa em relação à administração Barack Obama?
Ele montou uma grande equipe, incluindo (Timothy) Geithner (que será secretário do Tesouro), (Larry) Summers (que será diretor do Conselho Econômico da Casa Branca) e (Paul) Volcker (ex-presidente do BC americano, Fed, indicado para dirigir um conselho destinado a propor soluções para a crise). Por si só, isso já inspira confiança. Obama fará um serviço muito melhor do que (George W.) Bush no que se refere às pessoas se sentirem assistidas, e isso vai melhorar o humor da população. A administração atual já está em férias. Mas não deve haver dúvidas: mesmo os melhores e mais brilhantes não serão capazes de resolver o problema da noite para o dia.
Domingo, 14 de Dezembro de 2008 | Versão Impressa
''Crescimento zero será bom resultado para o Brasil em 2009''
Professor de Harvard diz que País está mais bem preparado para enfrentar a crise, mas não tem como escapar de seus efeitos
Leandro Modé
O americano Kenneth Rogoff, de 55 anos, é um dos mais respeitados economistas do mundo hoje, o que não significa que seja unanimidade. Suas posições ortodoxas, muitas vezes expressas de uma forma contundente, nem sempre agradam ao interlocutor. Em 2002, quando era economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), envolveu-se em uma polêmica pública com o ex-economista-chefe do Banco Mundial e ganhador do Prêmio Nobel, Joseph Stiglitz. O tema da contenda era globalização. Talvez pelo cargo que tenha ocupado, Rogoff procura manter-se atualizado sobre a economia de vários países. Esse conhecimento dá a ele a certeza de que o mundo está em meio à pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Por isso, avisa: o Brasil deve dar-se por satisfeito se não enfrentar recessão em 2009. Rogoff, que hoje leciona na Universidade Harvard, conversou com o Estado, por telefone, durante uma viagem de trem de Boston para Nova York.
Leia a íntegra da entrevista
Em artigo publicado há duas semanas, o sr. disse que o maior problema dos países ricos é a recessão. Por isso, devem deixar os juros em segundo plano. O que dizer de países emergentes, como o Brasil?
Os países emergentes têm muito menos espaço para políticas contracíclicas do que os Estados Unidos e os efeitos da inflação são mais danosos. Nos EUA, a inflação reduz o valor real das dívidas e pode ser parte da solução dos atuais problemas. O Brasil não tem esse problema. Além disso, como a inflação no Brasil já é elevada, o Banco Central está entre a cruz e a espada.
Como assim?
A economia global está apenas entrando na pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. As commodities estão despencando e o mercado de crédito secou. Ou seja, é uma situação extremamente difícil e perigosa. O crescimento no Brasil certamente vai desacelerar. Mas, ao mesmo tempo, a inflação permanece elevada. Isso deixa ao Banco Central um espaço menor para responder como gostaria (à desaceleração). Além disso, o real depreciou-se fortemente. Reduzir a taxa de juros desvaloriza o real à frente. Mas, como os juros estão caindo rapidamente mundo afora, o BC brasileiro acabará reduzindo a taxa.
Quando?
Em breve (risos). Ainda que o Brasil esteja às voltas com preocupações inflacionárias, a economia global enfrenta o risco de deflação. Isso ocorre nos EUA, na China e na Europa. Os preços das commodities estão despencando e a produção industrial está caindo. O Brasil sentirá tudo isso logo. Quaisquer que sejam as pressões inflacionárias, serão revertidas em breve.
O sr. vê risco de recessão no País?
Há grande chance de o Brasil experimentar uma recessão suave. É quase impossível escapar disso, uma vez que se espera uma profunda recessão no mundo. O Brasil vai sofrer como todos os outros, mas não acho que sofrerá mais do que os outros. Todas as mudanças que o Brasil implementou nos últimos anos vão permitir que a reação seja muito melhor do que há 10 anos. É uma situação desastrosa, mas, em termos relativos, o Brasil está melhor do que muitos outros países.
Qual sua projeção para o crescimento do Brasil em 2009?
Crescimento zero será um bom resultado, levando-se em conta o ambiente global.
Mas as pessoas aqui falam algo entre 2% e 3%.
Elas são otimistas. A economia global está afundando muito rapidamente.
Qual o seu cenário principal para a economia mundial em 2009?
Como já disse, será a pior recessão desde a Segunda Guerra, mas nada que se assemelhe à Depressão dos anos 30.
O que o sr. espera especificamente para os EUA?
Uma recessão que dure 2009 inteiro. Em 2010 e 2011, o crescimento ainda permanecerá lento, abaixo de 2%. Os preços das residências continuarão a cair e o desemprego, a subir. Os emergentes também terão uma queda em 2009, mas se recuperarão mais fortemente em 2010 e 2011.
E o PIB (Produto Interno Bruto) americano em 2009?
Crescimento negativo entre 3% e 4%.
Com essa retração nos EUA, como fica o PIB mundial?
Pode ficar negativo, especialmente se a China desacelerar mais do que se espera. Isso ocorrerá certamente em um ou dois trimestres. Para o ano todo, espero um crescimento na faixa de 1%.
E a China?
A China também está sofrendo. Já esperava que a China poderia crescer no máximo 6% no ano que vem. Agora, não ficaria surpreso se o país crescesse menos ainda do que isso. Temos de cruzar os dedos para que a China não tenha uma ruptura econômico-social, porque isso poderia aprofundar ainda mais a recessão global.
Alguns países estão sofrendo mais que os outros, como, por exemplo, a Hungria e a Rússia. Por quê?
A Hungria teria uma crise financeira de qualquer maneira. Eles tinham um endividamento instável, uma situação fiscal ruim. A Rússia é outro assunto. É basicamente uma economia de commodity (petróleo). O sistema russo não estava preparado para um petróleo a US$ 40. Eles nunca permitiram que a economia se diversificasse. O Brasil, por exemplo, tem uma economia muito mais diversificada.
Qual sua expectativa em relação à administração Barack Obama?
Ele montou uma grande equipe, incluindo (Timothy) Geithner (que será secretário do Tesouro), (Larry) Summers (que será diretor do Conselho Econômico da Casa Branca) e (Paul) Volcker (ex-presidente do BC americano, Fed, indicado para dirigir um conselho destinado a propor soluções para a crise). Por si só, isso já inspira confiança. Obama fará um serviço muito melhor do que (George W.) Bush no que se refere às pessoas se sentirem assistidas, e isso vai melhorar o humor da população. A administração atual já está em férias. Mas não deve haver dúvidas: mesmo os melhores e mais brilhantes não serão capazes de resolver o problema da noite para o dia.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
FALA MENDONÇA DE BARROS – EM QUEM A CRISE VAI DOER MAIS
FALA MENDONÇA DE BARROS – EM QUEM A CRISE VAI DOER MAIS
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo FHC, é hoje economista-chefe da Quest Investimentos. Dentro do governo ou fora dele — já há muitos anos —, sua capacidade de antecipar cenários, com impressionante dose de acerto, é reconhecida por admiradores e adversários. Na entrevista abaixo, concedida com exclusividade a este blog, ele diz qual é a fatia dos brasileiros que vai sentir primeiro os efeitos da crise global — que já chegou ao Brasil, incomodando bem mais do que uma simples marolinha. Com base em dados colhidos pela MB Consultores Econômicos, ele afirma que “haverá uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos”. Pois é, leitor amigo...
Uma das características de Mendonça de Barros é pensar as implicações políticas da economia. Não havendo um agravamento da crise, ele antevê: “O presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos (...). Eles devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida.”
O país crescerá os 4% antevistos pelo ministro Guido Mantega (Fazenda)? “Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano”, afirma Mendonça de Barros.
Na conversa abaixo, ele lembra que os economistas esperavam há tempos uma drástica desaceleração da economia mundial. A crise que chegou, diz, traz características que já tinham sido antevistas, mas também surpreende em muitos aspectos. Segue a entrevista:
Há alguns anos, economistas falam do risco do “The Big One” na economia, aquela que seria realmente uma crise grave, com terríveis efeitos globais. Queria que o senhor caracterizasse a crise que se esperava então.
Há muitos anos vivemos um grande desequilíbrio macroeconômico no mundo, representado pelo excesso de consumo privado nos EUA e de poupança em parte importante do mundo, principalmente na Ásia. Mais recentemente, durante a era Bush, o governo passou a incorrer também em grandes déficits fiscais. Em outras palavras: a taxa de poupança americana ficou ainda mais negativa, o que levou os EUA a ter déficits crescentes em seu comércio com o mundo exterior, como ensina qualquer livro-texto de economia.
Como os EUA emitem a moeda internacional, que é o dólar, esse desequilíbrio se transformou em uma fonte de instabilidade cambial, com um processo continuado de desvalorização da moeda americana. Criou também uma situação de excessiva liquidez no sistema bancário mundial, provocando uma expansão desordenada do crédito em vários países do mundo, principalmente nos próprios EUA, à medida que os dólares exportados voltavam para Wall Street. Essa dinâmica atingiu um estagio gravíssimo nos últimos dois anos, com um aumento brutal da liquidez financeira.
Um dos resultados deste processo de expansão do consumo americano foi o crescimento vigoroso de um grupo de economias emergentes – liderados pela China – por meio do comércio exterior e do investimento privado no setor industrial exportador. Os recursos gerados pelo crescimento de suas exportações passaram a ser reciclados para os EUA por intermédio de aplicações financeiras, fechando o ciclo de desequilíbrios e financiando o déficit externo americano. Vale dizer: governos como o chinês e os dos países exportadores de petróleo equilibravam a balança de pagamentos americana por intermédio da compra maciça de títulos emitidos por Washington.
A correção desses desequilíbrios era uma questão de tempo e viria necessariamente por uma redução do consumo nos EUA e de um aumento da poupança privada – principalmente das famílias – da ordem de 7% a 10% do PIB. A esse movimento tectônico, os economistas passaram a chamar de “The Big One”, expressão tomada emprestada do grande terremoto que se espera na região de Los Angeles.
Mas a crise parece não ter chegado por onde se esperava, não é? O que nela surpreende e o que já estava previsto?
Os defensores da inevitabilidade do The Big One econômico acreditavam que ele seria provocado por uma recusa dos investidores internacionais em continuar a financiar os EUA e receber uma moeda – o dólar – em processo acelerado de perda de valor. Seria essa recusa a origem desse grande ajuste macro na maior economia do mundo.
Mas The Big One teve seu início de forma diferente, com o colapso do sistema bancário americano em função do estouro da bolha imobiliária e da crise de confiança que se seguiu. E o resultado desse ajuste inesperado provocou uma valorização da moeda americana em relação às principais moedas do mundo, com exceção do iene japonês, movimento contrário ao das previsões.
Mas o ponto central era que, em determinado momento, a dependência do consumidor do crédito ilimitado chegaria ao fim, o que resultaria numa redução brusca do consumo e numa situação de recessão profunda na maior economia do mundo. Essa parada brusca nos EUA teria reflexos imediatos no resto do mundo, levando a uma situação de recessão mundial. E isso está realmente acontecendo.
A crise começou no mercado imobiliário, pegou os bancos, que financiavam a farra, e chegou às empresas. Ainda há espaço para surpresas?
Até agora, vivemos os efeitos do terremoto financeiro iniciado com a realização de enormes prejuízos no sistema bancário americano e europeu e uma fuga generalizada para investimentos mais seguros, principalmente títulos públicos dos governos americano e europeus. Esse clima de pânico entre os investidores espalhados pelo mundo provocou um processo brutal de venda de títulos de crédito privado e de ações, gerando uma perda incalculável de riqueza financeira ao redor do mundo.
Agora, vivemos os efeitos de um processo generalizado e profundo de queda da atividade econômica, com redução dos lucros das empresas, do emprego e do salário. O quarto trimestre deste ano deve apresentar números assustadores de crescimento, principalmente nos EUA. O PIB americano deve cair 4% em relação ao do mesmo período de 2007. Essa etapa é mais perigosa que a primeira, pois pode levar o mundo a uma situação de depressão sem paralelo nas últimas décadas.
As medidas tomadas até agora, por exemplo, pelos países do G 20 foram inúteis?
As ações mais vigorosas dos Bancos Centrais do G 20 podem ter estancado o pânico financeiro dos últimos meses, mas entramos agora em uma nova fase da crise em função doe risco real de depressão econômica. O único instrumento de ação conhecido para essa situação é a expansão vigorosa dos gastos públicos nos moldes do pensamento keynesiano tradicional. Mas não se sabe, com certeza, como realizar este movimento depois de décadas de desmontagem dos instrumentos públicos de ação sobre a economia privada. Para mim, essa é a grande fonte de incertezas que vivemos hoje e que vai marcar o inicio do mandato do presidente Obama.
O senhor acredita que o presidente Lula, o Lírico da Marolinha, se deu conta do tamanho da crise?
Nosso presidente já mostrou que tem uma intuição muito forte para identificar riscos para seu governo. Embora a crise só tenha chegado ao Brasil em outubro, as informações já disponíveis — e certamente de conhecimento de Lula — são suficientes para que ele se arrependa da imagem da marolinha. Basta ver a intensidade das ações do governo na tentativa de preservar o crédito bancário no Brasil. Não tenho dúvida de que Lula sabe hoje que a imagem inicial da marolinha foi um grande erro de comunicação. Ele está agora fazendo um movimento de opinião pública para preparar os brasileiros menos informados para uma realidade bem mais difícil. Para ele, será fundamental preservar o Natal e deixar que os dias piores na economia apareçam apenas depois da virada do ano. Minha intuição me diz, entretanto, que o governo não acordou ainda para a verdadeira dimensão das mudanças que vão ocorrer na economia brasileira em 2009. Isso vai acontecer depois de um período mais longo, talvez apenas na Quarta–Feira de Cinzas ....
A crise pega a economia brasileira com os índices no pico. O senhor acredita que as medidas tomadas pelo governo federal, seguidas por outras de São Paulo e Minas, que tentam manter elevado o consumo, são uma boa resposta para a crise? Por quê?
São medidas para amortecer no tempo os efeitos que estão chegando ao lado real da economia. Como já disse, o Natal está próximo, e o presidente já prometeu varias vezes que o brasileiro vai ter um período de festas muito favorável. É fundamental para a sua credibilidade que as empresas deixem para o inicio de 2009 o processo de ajustes — emprego e produção — que necessariamente vão ocorrer. Nesse sentido, eu diria que as medidas são eficientes e devem manter o bom momento para o consumidor por mais algum tempo. A massa salarial deve se estabilizar com os primeiros sinais de redução do emprego muito localizado em regiões como São Paulo.
Mas, na sua opinião, o país cresce, em 2009, os 4% previstos por Guido Mantega?
As medidas adotadas não vão impedir que o próximo ano seja muito menos brilhante do que o período 2006-2008. As previsões dos analistas apontam para um crescimento do PIB, em 2009, da ordem de 2,5%, sendo, que na primeira metade do ano, o número deve ser pouco inferior a 2% ao ano. Não se prevê nenhum desastre, mas apenas uma dinâmica menos brilhante.
O crédito secou. Temos sinais claros de desaceleração, mas a crise ainda não chegou às classes C e D. Vai chegar?
Inicialmente, a crise vai ser mais sentida nas classes de renda mais alta e na região Sudesete. A MB Consultores Econômicos prevê, para 2009, uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos. Para os que ganham até cinco mínimos, a renda do trabalho deve ser igual à de 2008, sem crescimento.
Esse cenário foi construído assumindo-se que a crise internacional não se aprofunde e que a economia americana já se mostre em recuperação no quarto trimestre do próximo ano. Nesse caso, o presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos. Os brasileiros de renda mais baixa devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida. O efeito maior sobre esses brasileiros virá de uma menor disponibilidade de credito e, portanto, da capacidade de consumir bens industriais.
Mas é importante ressaltar que esse cenário depende de uma recuperação da economia mundial ainda em 2009. Se isto não acontecer, poderemos ter uma situação bem menos confortável para o presidente Lula na segunda metade do próximo ano.
Até quando a China resiste como uma espécie de esperança dos emergentes?
O crescimento econômico chinês para 2009 é hoje um das questões mais importantes para o mundo emergente, principalmente para países exportadores de commodities, como é o Brasil. Foi a demanda chinesa a peça chave na melhora expressiva dos preços destes produtos entre 2002 e 2007, permitindo que o Brasil aumentasse o valor de suas exportações. Esse movimento permitiu que nossas importações tivessem um crescimento intenso ao longo do período 2006-2007. Foi essa maior disponibilidade de produtos importados que permitiu que se multiplicasse por dois a taxa de crescimento do PIB sem que voltasse a inflação do passado.
Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano.
As melhores previsões para o crescimento chinês em 2009 apontam para uma redução expressiva, algo na faixa dos 7% ao ano. Mas a China terá, no próximo ano, uma liberdade maior que outras economias para acelerar seu crescimento por intermédio dos gastos do governo. Poderemos ter, já nos últimos meses de 2009, uma volta a taxas mais elevadas de crescimento econômico. Se isso acontecer, poderemos ter uma melhora nos preços das commodities e uma folga maior em nosso comercio exterior.
Lula deverá, em 2009, fixar um olho no gato – a economia americana – e outro no peixe chinês.
http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo FHC, é hoje economista-chefe da Quest Investimentos. Dentro do governo ou fora dele — já há muitos anos —, sua capacidade de antecipar cenários, com impressionante dose de acerto, é reconhecida por admiradores e adversários. Na entrevista abaixo, concedida com exclusividade a este blog, ele diz qual é a fatia dos brasileiros que vai sentir primeiro os efeitos da crise global — que já chegou ao Brasil, incomodando bem mais do que uma simples marolinha. Com base em dados colhidos pela MB Consultores Econômicos, ele afirma que “haverá uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos”. Pois é, leitor amigo...
Uma das características de Mendonça de Barros é pensar as implicações políticas da economia. Não havendo um agravamento da crise, ele antevê: “O presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos (...). Eles devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida.”
O país crescerá os 4% antevistos pelo ministro Guido Mantega (Fazenda)? “Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano”, afirma Mendonça de Barros.
Na conversa abaixo, ele lembra que os economistas esperavam há tempos uma drástica desaceleração da economia mundial. A crise que chegou, diz, traz características que já tinham sido antevistas, mas também surpreende em muitos aspectos. Segue a entrevista:
Há alguns anos, economistas falam do risco do “The Big One” na economia, aquela que seria realmente uma crise grave, com terríveis efeitos globais. Queria que o senhor caracterizasse a crise que se esperava então.
Há muitos anos vivemos um grande desequilíbrio macroeconômico no mundo, representado pelo excesso de consumo privado nos EUA e de poupança em parte importante do mundo, principalmente na Ásia. Mais recentemente, durante a era Bush, o governo passou a incorrer também em grandes déficits fiscais. Em outras palavras: a taxa de poupança americana ficou ainda mais negativa, o que levou os EUA a ter déficits crescentes em seu comércio com o mundo exterior, como ensina qualquer livro-texto de economia.
Como os EUA emitem a moeda internacional, que é o dólar, esse desequilíbrio se transformou em uma fonte de instabilidade cambial, com um processo continuado de desvalorização da moeda americana. Criou também uma situação de excessiva liquidez no sistema bancário mundial, provocando uma expansão desordenada do crédito em vários países do mundo, principalmente nos próprios EUA, à medida que os dólares exportados voltavam para Wall Street. Essa dinâmica atingiu um estagio gravíssimo nos últimos dois anos, com um aumento brutal da liquidez financeira.
Um dos resultados deste processo de expansão do consumo americano foi o crescimento vigoroso de um grupo de economias emergentes – liderados pela China – por meio do comércio exterior e do investimento privado no setor industrial exportador. Os recursos gerados pelo crescimento de suas exportações passaram a ser reciclados para os EUA por intermédio de aplicações financeiras, fechando o ciclo de desequilíbrios e financiando o déficit externo americano. Vale dizer: governos como o chinês e os dos países exportadores de petróleo equilibravam a balança de pagamentos americana por intermédio da compra maciça de títulos emitidos por Washington.
A correção desses desequilíbrios era uma questão de tempo e viria necessariamente por uma redução do consumo nos EUA e de um aumento da poupança privada – principalmente das famílias – da ordem de 7% a 10% do PIB. A esse movimento tectônico, os economistas passaram a chamar de “The Big One”, expressão tomada emprestada do grande terremoto que se espera na região de Los Angeles.
Mas a crise parece não ter chegado por onde se esperava, não é? O que nela surpreende e o que já estava previsto?
Os defensores da inevitabilidade do The Big One econômico acreditavam que ele seria provocado por uma recusa dos investidores internacionais em continuar a financiar os EUA e receber uma moeda – o dólar – em processo acelerado de perda de valor. Seria essa recusa a origem desse grande ajuste macro na maior economia do mundo.
Mas The Big One teve seu início de forma diferente, com o colapso do sistema bancário americano em função do estouro da bolha imobiliária e da crise de confiança que se seguiu. E o resultado desse ajuste inesperado provocou uma valorização da moeda americana em relação às principais moedas do mundo, com exceção do iene japonês, movimento contrário ao das previsões.
Mas o ponto central era que, em determinado momento, a dependência do consumidor do crédito ilimitado chegaria ao fim, o que resultaria numa redução brusca do consumo e numa situação de recessão profunda na maior economia do mundo. Essa parada brusca nos EUA teria reflexos imediatos no resto do mundo, levando a uma situação de recessão mundial. E isso está realmente acontecendo.
A crise começou no mercado imobiliário, pegou os bancos, que financiavam a farra, e chegou às empresas. Ainda há espaço para surpresas?
Até agora, vivemos os efeitos do terremoto financeiro iniciado com a realização de enormes prejuízos no sistema bancário americano e europeu e uma fuga generalizada para investimentos mais seguros, principalmente títulos públicos dos governos americano e europeus. Esse clima de pânico entre os investidores espalhados pelo mundo provocou um processo brutal de venda de títulos de crédito privado e de ações, gerando uma perda incalculável de riqueza financeira ao redor do mundo.
Agora, vivemos os efeitos de um processo generalizado e profundo de queda da atividade econômica, com redução dos lucros das empresas, do emprego e do salário. O quarto trimestre deste ano deve apresentar números assustadores de crescimento, principalmente nos EUA. O PIB americano deve cair 4% em relação ao do mesmo período de 2007. Essa etapa é mais perigosa que a primeira, pois pode levar o mundo a uma situação de depressão sem paralelo nas últimas décadas.
As medidas tomadas até agora, por exemplo, pelos países do G 20 foram inúteis?
As ações mais vigorosas dos Bancos Centrais do G 20 podem ter estancado o pânico financeiro dos últimos meses, mas entramos agora em uma nova fase da crise em função doe risco real de depressão econômica. O único instrumento de ação conhecido para essa situação é a expansão vigorosa dos gastos públicos nos moldes do pensamento keynesiano tradicional. Mas não se sabe, com certeza, como realizar este movimento depois de décadas de desmontagem dos instrumentos públicos de ação sobre a economia privada. Para mim, essa é a grande fonte de incertezas que vivemos hoje e que vai marcar o inicio do mandato do presidente Obama.
O senhor acredita que o presidente Lula, o Lírico da Marolinha, se deu conta do tamanho da crise?
Nosso presidente já mostrou que tem uma intuição muito forte para identificar riscos para seu governo. Embora a crise só tenha chegado ao Brasil em outubro, as informações já disponíveis — e certamente de conhecimento de Lula — são suficientes para que ele se arrependa da imagem da marolinha. Basta ver a intensidade das ações do governo na tentativa de preservar o crédito bancário no Brasil. Não tenho dúvida de que Lula sabe hoje que a imagem inicial da marolinha foi um grande erro de comunicação. Ele está agora fazendo um movimento de opinião pública para preparar os brasileiros menos informados para uma realidade bem mais difícil. Para ele, será fundamental preservar o Natal e deixar que os dias piores na economia apareçam apenas depois da virada do ano. Minha intuição me diz, entretanto, que o governo não acordou ainda para a verdadeira dimensão das mudanças que vão ocorrer na economia brasileira em 2009. Isso vai acontecer depois de um período mais longo, talvez apenas na Quarta–Feira de Cinzas ....
A crise pega a economia brasileira com os índices no pico. O senhor acredita que as medidas tomadas pelo governo federal, seguidas por outras de São Paulo e Minas, que tentam manter elevado o consumo, são uma boa resposta para a crise? Por quê?
São medidas para amortecer no tempo os efeitos que estão chegando ao lado real da economia. Como já disse, o Natal está próximo, e o presidente já prometeu varias vezes que o brasileiro vai ter um período de festas muito favorável. É fundamental para a sua credibilidade que as empresas deixem para o inicio de 2009 o processo de ajustes — emprego e produção — que necessariamente vão ocorrer. Nesse sentido, eu diria que as medidas são eficientes e devem manter o bom momento para o consumidor por mais algum tempo. A massa salarial deve se estabilizar com os primeiros sinais de redução do emprego muito localizado em regiões como São Paulo.
Mas, na sua opinião, o país cresce, em 2009, os 4% previstos por Guido Mantega?
As medidas adotadas não vão impedir que o próximo ano seja muito menos brilhante do que o período 2006-2008. As previsões dos analistas apontam para um crescimento do PIB, em 2009, da ordem de 2,5%, sendo, que na primeira metade do ano, o número deve ser pouco inferior a 2% ao ano. Não se prevê nenhum desastre, mas apenas uma dinâmica menos brilhante.
O crédito secou. Temos sinais claros de desaceleração, mas a crise ainda não chegou às classes C e D. Vai chegar?
Inicialmente, a crise vai ser mais sentida nas classes de renda mais alta e na região Sudesete. A MB Consultores Econômicos prevê, para 2009, uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos. Para os que ganham até cinco mínimos, a renda do trabalho deve ser igual à de 2008, sem crescimento.
Esse cenário foi construído assumindo-se que a crise internacional não se aprofunde e que a economia americana já se mostre em recuperação no quarto trimestre do próximo ano. Nesse caso, o presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos. Os brasileiros de renda mais baixa devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida. O efeito maior sobre esses brasileiros virá de uma menor disponibilidade de credito e, portanto, da capacidade de consumir bens industriais.
Mas é importante ressaltar que esse cenário depende de uma recuperação da economia mundial ainda em 2009. Se isto não acontecer, poderemos ter uma situação bem menos confortável para o presidente Lula na segunda metade do próximo ano.
Até quando a China resiste como uma espécie de esperança dos emergentes?
O crescimento econômico chinês para 2009 é hoje um das questões mais importantes para o mundo emergente, principalmente para países exportadores de commodities, como é o Brasil. Foi a demanda chinesa a peça chave na melhora expressiva dos preços destes produtos entre 2002 e 2007, permitindo que o Brasil aumentasse o valor de suas exportações. Esse movimento permitiu que nossas importações tivessem um crescimento intenso ao longo do período 2006-2007. Foi essa maior disponibilidade de produtos importados que permitiu que se multiplicasse por dois a taxa de crescimento do PIB sem que voltasse a inflação do passado.
Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano.
As melhores previsões para o crescimento chinês em 2009 apontam para uma redução expressiva, algo na faixa dos 7% ao ano. Mas a China terá, no próximo ano, uma liberdade maior que outras economias para acelerar seu crescimento por intermédio dos gastos do governo. Poderemos ter, já nos últimos meses de 2009, uma volta a taxas mais elevadas de crescimento econômico. Se isso acontecer, poderemos ter uma melhora nos preços das commodities e uma folga maior em nosso comercio exterior.
Lula deverá, em 2009, fixar um olho no gato – a economia americana – e outro no peixe chinês.
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blog do Reinaldo Azevedo
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
A PETROBRAS E O BRASIL
Comentário do Dia » 14.11.08
WWW.INSTITUTOLIBERAL.ORG.BR
A Petrobras é bem um modelo reduzido do Brasil. Quando o mundo crescia a taxas extremamente elevadas e o Brasil a taxas iguais à média, Lulla ampliou de forma extraordinária o número de funcionários públicos, o número de cargos de confiança – leiam-se: petistas e sindicalistas – e aumentou os salários em generosas percentagens. O mundo mudou, a arrecadação certamente cairá, mas o Presidente, especialmente em ano eleitoral, não vai reduzir os reajustes. Obviamente vamos ter uma combinação de dois fatores:
· Aumento nos impostos e taxas
· Redução no volume de investimentos
O último balanço da Petrobras, uma caixa preta de difícil acesso, mostra que a empresa teve um aumento de mais R$2,4 bilhões em despesas operacionais no terceiro trimestre**. Tal como o País, a Petrobras pensou um mundo com preços de petróleo perto dos US$200/barril. Esta empresa que, por vários anos, destinou volumosos recursos para cobrir os déficits de seu generoso fundo de pensão, ignorando os acionistas privados, agora anuncia que vai adiar os investimentos no pré-sal.
Se tivéssemos tido menos empáfia, o Tesouro teria recebido um volume bem maior de royalties porque, àquela altura, os investidores estrangeiros iriam brigar para perfurar o pré-sal. A mudança nas regras do jogo sugeridas envolvia, até mesmo, a criação de uma empresa 100% estatal para administrar as jazidas do novo sheik do petróleo.
É preciso prudência para não criar ou elevar despesas fixas quando o negócio está indo bem. A Petrobras e o Brasil incorreram no mesmo erro: o de avaliar um negócio pelo seu melhor momento. As ações da Petrobras caíram, em um só dia, 13,75% do seu valor.
** Folha de S. Paulo / Dinheiro, p. 4B, 13.11.08.
* Presidente do Instituto Liberal
WWW.INSTITUTOLIBERAL.ORG.BR
Arthur Chagas Diniz*
A Petrobras é bem um modelo reduzido do Brasil. Quando o mundo crescia a taxas extremamente elevadas e o Brasil a taxas iguais à média, Lulla ampliou de forma extraordinária o número de funcionários públicos, o número de cargos de confiança – leiam-se: petistas e sindicalistas – e aumentou os salários em generosas percentagens. O mundo mudou, a arrecadação certamente cairá, mas o Presidente, especialmente em ano eleitoral, não vai reduzir os reajustes. Obviamente vamos ter uma combinação de dois fatores:
· Aumento nos impostos e taxas
· Redução no volume de investimentos
O último balanço da Petrobras, uma caixa preta de difícil acesso, mostra que a empresa teve um aumento de mais R$2,4 bilhões em despesas operacionais no terceiro trimestre**. Tal como o País, a Petrobras pensou um mundo com preços de petróleo perto dos US$200/barril. Esta empresa que, por vários anos, destinou volumosos recursos para cobrir os déficits de seu generoso fundo de pensão, ignorando os acionistas privados, agora anuncia que vai adiar os investimentos no pré-sal.
Se tivéssemos tido menos empáfia, o Tesouro teria recebido um volume bem maior de royalties porque, àquela altura, os investidores estrangeiros iriam brigar para perfurar o pré-sal. A mudança nas regras do jogo sugeridas envolvia, até mesmo, a criação de uma empresa 100% estatal para administrar as jazidas do novo sheik do petróleo.
É preciso prudência para não criar ou elevar despesas fixas quando o negócio está indo bem. A Petrobras e o Brasil incorreram no mesmo erro: o de avaliar um negócio pelo seu melhor momento. As ações da Petrobras caíram, em um só dia, 13,75% do seu valor.
** Folha de S. Paulo / Dinheiro, p. 4B, 13.11.08.
* Presidente do Instituto Liberal
"Big One" finalmente chegou
São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROSO
ECONOMISTAS importantes vêm há muito tempo -alguns há mais de oito anos- alertando para uma grande correção na economia norte-americana em razão de seus déficits externos crescentes. Alguns chamaram esse movimento de "The Big One", em homenagem ao grande terremoto previsto para acontecer na região de Los Angeles. Esse abalo sísmico econômico seria a conseqüência de um vigoroso e inevitável aumento na taxa de poupança do consumidor, única forma conhecida para ajustar a conta corrente norte-americana. Os medos foram crescendo nos últimos anos por causa da verdadeira orgia de crédito ocorrida nos Estados Unidos, que aumentou progressivamente a armadilha financeira. Nesse período, a relação entre o endividamento das famílias e o PIB chegou ao número incrível de 130%. Não por outra razão, o déficit na conta corrente atingiu quase US$ 800 bilhões, cerca de 6% do PIB. Esses números representam o outro lado da moeda da expansão descontrolada do crédito ao consumidor.
Muito embora o "Big One" tenha sido antecipado, sua ocorrência agora não tem nada a ver com as previsões de uns poucos iluminados. Para esses, seria a desconfiança dos mercados e dos investidores em relação ao dólar que provocaria um movimento tectônico na economia norte-americana, a partir do colapso de sua moeda. Entretanto a correção macroeconômica está ocorrendo com o dólar forte e em processo continuado de valorização em relação a todas as moedas do mundo, com exceção do iene japonês. Esqueceram de que a moeda reserva não é facilmente substituível, especialmente em um mundo em recessão. Mas o que interessa ao analista econômico de hoje não são as causas desse movimento, mas suas conseqüências sobre a economia global. E elas serão dramáticas nos próximos anos. Segundo algumas avaliações, o processo de correção do comportamento do consumidor americano só deve se estabilizar quando a taxa de poupança chegar a algo como 7% do PIB. A velocidade desse ajuste dependerá das condições do crédito bancário ao longo dos próximos meses. Até o novo equilíbrio, a redução dos gastos dos americanos deverá subtrair cerca de 4% do crescimento da maior economia do mundo.
Isso implica dizer que os Estados Unidos devem crescer a taxas menores do que 1% ao ano, se esse processo se realizar ao longo dos próximos três anos. Se ele ocorrer em prazo mais curto, devido à recuperação mais lenta do crédito, a recessão pode se espalhar por 2009 e por um bom pedaço de 2010. A política fiscal também será um elemento importante para definir o perfil do ajuste.
Essa nova dinâmica dos Estados Unidos terá repercussão muito importante no mundo emergente e principalmente no Brasil. No cenário de uma recessão mais prolongada, os preços das commodities devem permanecer deprimidos, reduzindo os termos de troca de nossa economia. Os preços das commodities já regrediram aos níveis de 2002, eliminando todos os ganhos dos últimos anos. Em outras palavras, ficamos mais pobres e perdemos a possibilidade de continuar importando bens industriais de consumo e investimentos na intensidade atual.
Essa nova situação nos obriga a repensar nossa política econômica e a deixar a euforia dos últimos anos para trás. No terceiro trimestre deste ano, a economia brasileira cresceu cerca de 6% em termos anualizados. Temos de nos preparar para números bem mais baixos para os próximos anos.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 65, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).lcmb2@terra.com.br
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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROSO
ECONOMISTAS importantes vêm há muito tempo -alguns há mais de oito anos- alertando para uma grande correção na economia norte-americana em razão de seus déficits externos crescentes. Alguns chamaram esse movimento de "The Big One", em homenagem ao grande terremoto previsto para acontecer na região de Los Angeles. Esse abalo sísmico econômico seria a conseqüência de um vigoroso e inevitável aumento na taxa de poupança do consumidor, única forma conhecida para ajustar a conta corrente norte-americana. Os medos foram crescendo nos últimos anos por causa da verdadeira orgia de crédito ocorrida nos Estados Unidos, que aumentou progressivamente a armadilha financeira. Nesse período, a relação entre o endividamento das famílias e o PIB chegou ao número incrível de 130%. Não por outra razão, o déficit na conta corrente atingiu quase US$ 800 bilhões, cerca de 6% do PIB. Esses números representam o outro lado da moeda da expansão descontrolada do crédito ao consumidor.
Muito embora o "Big One" tenha sido antecipado, sua ocorrência agora não tem nada a ver com as previsões de uns poucos iluminados. Para esses, seria a desconfiança dos mercados e dos investidores em relação ao dólar que provocaria um movimento tectônico na economia norte-americana, a partir do colapso de sua moeda. Entretanto a correção macroeconômica está ocorrendo com o dólar forte e em processo continuado de valorização em relação a todas as moedas do mundo, com exceção do iene japonês. Esqueceram de que a moeda reserva não é facilmente substituível, especialmente em um mundo em recessão. Mas o que interessa ao analista econômico de hoje não são as causas desse movimento, mas suas conseqüências sobre a economia global. E elas serão dramáticas nos próximos anos. Segundo algumas avaliações, o processo de correção do comportamento do consumidor americano só deve se estabilizar quando a taxa de poupança chegar a algo como 7% do PIB. A velocidade desse ajuste dependerá das condições do crédito bancário ao longo dos próximos meses. Até o novo equilíbrio, a redução dos gastos dos americanos deverá subtrair cerca de 4% do crescimento da maior economia do mundo.
Isso implica dizer que os Estados Unidos devem crescer a taxas menores do que 1% ao ano, se esse processo se realizar ao longo dos próximos três anos. Se ele ocorrer em prazo mais curto, devido à recuperação mais lenta do crédito, a recessão pode se espalhar por 2009 e por um bom pedaço de 2010. A política fiscal também será um elemento importante para definir o perfil do ajuste.
Essa nova dinâmica dos Estados Unidos terá repercussão muito importante no mundo emergente e principalmente no Brasil. No cenário de uma recessão mais prolongada, os preços das commodities devem permanecer deprimidos, reduzindo os termos de troca de nossa economia. Os preços das commodities já regrediram aos níveis de 2002, eliminando todos os ganhos dos últimos anos. Em outras palavras, ficamos mais pobres e perdemos a possibilidade de continuar importando bens industriais de consumo e investimentos na intensidade atual.
Essa nova situação nos obriga a repensar nossa política econômica e a deixar a euforia dos últimos anos para trás. No terceiro trimestre deste ano, a economia brasileira cresceu cerca de 6% em termos anualizados. Temos de nos preparar para números bem mais baixos para os próximos anos.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 65, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).lcmb2@terra.com.br
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
A CRISE, O ESTADO, O MERCADO E SECTARISMOS
A crise financeira global abriu as portas para o besteirol. Um leitor manda uma questão interessante. Leiam. Volto depois:
Sou assíduo leitor deste blog e confesso que o grau de concordância com suas opiniões gira em torno de 50%. Desta forma gostaria que você comentasse o texto reproduzido abaixo, extraído do livro Globalização e Socialismo, de Osvaldo Coggiola e outros autores, lançado em abril de 1977:
"A tendência ao socialismo é particularmente perceptível em períodos de crise, quando as companhias e os bancos falidos são resgatados através da sua estatização. Nessas circunstâncias, todos os princípios da economia de mercado se tornam vulneráveis e o conjunto da sociedade financia a reconstituição dos capitais atingidos pela depressão."
Luiz A. Marcolin Conceição
Comento
Caro Luiz, quando falei em "besteirol", não me referia a você, mas a essa leitura de que as medidas adotadas para conter a crise financeira têm, quando menos, parentesco com o chamado "socialismo". O texto a que você se refere, de 1977, evidencia que a bobagem não é nova. Só isso.
Comecemos pela autoria. Osvaldo Coggiola é um professor de história alinhado com o trotskismo. Se ainda não se aposentou, não pesquisei, é professor da Universidade de São Paulo, onde há mais socialistas do que em Pequim — afinal, em Pequim, as pessoas se ocupam de enriquecer, de ganhar dinheiro, você sabe... A informação é importante porque as esquerdas socialistas nunca admitiram que foram derrotadas pela história e que o modelo de economia planificada que defendem naufragou. O livro, que não conheço, conforme corrigiu um leitor, é de 1997, não 1977. Pior ainda. Há mais de 30 anos, o professor teria ao menos uma desculpa: ainda não se sonhava com o fim da União Soviética, e Coggiola alimentava um sonho duplo: a) a viabilidade do socialismo; b) a viabilidade de um socialismo não-stalinista. Sonho duplamente frustrado.
Já dá para saber que a crise que aí está é a maior desde a dos anos 1930. Se, agora, pode-se dizer que os governos demoraram para agir, há quase oito décadas, demorou-se muito mais, daí os seus efeitos dramáticos, inclusive na política. A grande depressão mundial foi fermento de regimes totalitários na Europa, por exemplo, e reforçou, na intelectualidade ocidental, a suposição de que o horror comunista poderia mesmo ser uma modelo alternativo.
Agora, o estado age bem mais cedo, não é? Mas você está atento e certamente pode me indagar: "Nem tão cedo, não é, Reinaldo? Ou não teria havido a crise". A questão tem uma lógica apenas aparente porque descolada da história. Um mercado "excessivamente regulado" — e ninguém sabe quão regulado —, sob permanente ingerência estatal, teria produzido a fantástica riqueza das últimas, sei lá, duas décadas? Quer dizer que esse modelo, de que se anuncia agora a "falência", deixou atrás de si apenas destruição, desordem e inadimplência? Ora, isso é uma mentira escandalosa. Boa parte do capital que financiou pesquisas, inovações tecnológicas e, sim, casas foi gerado por isso que chamam "especulação" — e note que, nessas horas, chama-se "especulação" nada menos do que o funcionamento do mercado.
Sim, é verdade: o socialismo não conhecia essas crises — elas são próprias do capitalismo. Como aquele modelo não tinha mercado para acusar o desequilíbrio, quando este veio para valer, liquidou o modelo. Pode parecer estranho, mas a crise, Luiz, acaba sendo uma parte do próprio jogo: ajusta o modelo e corrige falhas. Até a próxima síndrome. O regime de mercado não é o da paz perpétua. Este era o socialista, com os resultados conhecidos.
O que vai acontecer agora? Haverá um período de excesso de regulação, muito mais, certamente, do que seria o necessário, porque se vai legislar sob o peso do susto, do pânico. Até que, sei lá, se passe uma década e se perceba que é preciso voltar a correr riscos; que os riscos também são virtuosos e geram riquezas. E se fará, então, a opção da desregulação. Até a crise seguinte.
No ano 2100, haverá economistas a lembrar — e alguns críticos lastimando — que o livre mercado precisara de uma correção do estado naqueles primitivos anos 1930, 2008, 2050... E em nenhum dos casos terá havido qualquer flerte com estatismo, socialismo ou bobagem congênere. É que o estado existe e deve existir para isto mesmo: não atrapalhar os indivíduos nos tempos virtuosos e intervir quando as regras do jogo não bastam para garantir a continuidade do... jogo!
Afinal, Luiz, "nós" sustentamos o estado. E ele deve servir para alguma coisa, não é?, além de tolher a nossa liberdade e encher o nosso saco.Sei que há alguns a defender, em nome do que chamam de "fundamentos" do liberalismo, o "deixa quebrar". Será isso mesmo liberalismo? Eu não tenho nenhuma saudade intelectual (já que nasci em 1961) dos efeitos políticos da quebradeira de 1930. Tampouco gostaria de ver o país que ainda é o maior fiador da democracia ocidental mergulhado na depressão.
Coggiola certamente cobraria de "nós", os liberais, o mesmo que defendem os mal chamados "fundamentalistas" (*): "Deixa quebrar". Sua utopia, num mundo convulsionado, em depressão, lhe pareceria mais próxima...(*) Escrevo "mal chamados fundamentalistas" porque um "fundamentalista" tem de recorrer ao fundamento. E o fundamento principal é fazer funcionar a economia de mercado. Defender, pois, a quebradeira geral em nome do suposto fundamento é só uma estupidez sectária.
Post alterado às 17h41
FONTE: WWW.REINALDOAZEVEDO.COM.BR
Sou assíduo leitor deste blog e confesso que o grau de concordância com suas opiniões gira em torno de 50%. Desta forma gostaria que você comentasse o texto reproduzido abaixo, extraído do livro Globalização e Socialismo, de Osvaldo Coggiola e outros autores, lançado em abril de 1977:
"A tendência ao socialismo é particularmente perceptível em períodos de crise, quando as companhias e os bancos falidos são resgatados através da sua estatização. Nessas circunstâncias, todos os princípios da economia de mercado se tornam vulneráveis e o conjunto da sociedade financia a reconstituição dos capitais atingidos pela depressão."
Luiz A. Marcolin Conceição
Comento
Caro Luiz, quando falei em "besteirol", não me referia a você, mas a essa leitura de que as medidas adotadas para conter a crise financeira têm, quando menos, parentesco com o chamado "socialismo". O texto a que você se refere, de 1977, evidencia que a bobagem não é nova. Só isso.
Comecemos pela autoria. Osvaldo Coggiola é um professor de história alinhado com o trotskismo. Se ainda não se aposentou, não pesquisei, é professor da Universidade de São Paulo, onde há mais socialistas do que em Pequim — afinal, em Pequim, as pessoas se ocupam de enriquecer, de ganhar dinheiro, você sabe... A informação é importante porque as esquerdas socialistas nunca admitiram que foram derrotadas pela história e que o modelo de economia planificada que defendem naufragou. O livro, que não conheço, conforme corrigiu um leitor, é de 1997, não 1977. Pior ainda. Há mais de 30 anos, o professor teria ao menos uma desculpa: ainda não se sonhava com o fim da União Soviética, e Coggiola alimentava um sonho duplo: a) a viabilidade do socialismo; b) a viabilidade de um socialismo não-stalinista. Sonho duplamente frustrado.
Já dá para saber que a crise que aí está é a maior desde a dos anos 1930. Se, agora, pode-se dizer que os governos demoraram para agir, há quase oito décadas, demorou-se muito mais, daí os seus efeitos dramáticos, inclusive na política. A grande depressão mundial foi fermento de regimes totalitários na Europa, por exemplo, e reforçou, na intelectualidade ocidental, a suposição de que o horror comunista poderia mesmo ser uma modelo alternativo.
Agora, o estado age bem mais cedo, não é? Mas você está atento e certamente pode me indagar: "Nem tão cedo, não é, Reinaldo? Ou não teria havido a crise". A questão tem uma lógica apenas aparente porque descolada da história. Um mercado "excessivamente regulado" — e ninguém sabe quão regulado —, sob permanente ingerência estatal, teria produzido a fantástica riqueza das últimas, sei lá, duas décadas? Quer dizer que esse modelo, de que se anuncia agora a "falência", deixou atrás de si apenas destruição, desordem e inadimplência? Ora, isso é uma mentira escandalosa. Boa parte do capital que financiou pesquisas, inovações tecnológicas e, sim, casas foi gerado por isso que chamam "especulação" — e note que, nessas horas, chama-se "especulação" nada menos do que o funcionamento do mercado.
Sim, é verdade: o socialismo não conhecia essas crises — elas são próprias do capitalismo. Como aquele modelo não tinha mercado para acusar o desequilíbrio, quando este veio para valer, liquidou o modelo. Pode parecer estranho, mas a crise, Luiz, acaba sendo uma parte do próprio jogo: ajusta o modelo e corrige falhas. Até a próxima síndrome. O regime de mercado não é o da paz perpétua. Este era o socialista, com os resultados conhecidos.
O que vai acontecer agora? Haverá um período de excesso de regulação, muito mais, certamente, do que seria o necessário, porque se vai legislar sob o peso do susto, do pânico. Até que, sei lá, se passe uma década e se perceba que é preciso voltar a correr riscos; que os riscos também são virtuosos e geram riquezas. E se fará, então, a opção da desregulação. Até a crise seguinte.
No ano 2100, haverá economistas a lembrar — e alguns críticos lastimando — que o livre mercado precisara de uma correção do estado naqueles primitivos anos 1930, 2008, 2050... E em nenhum dos casos terá havido qualquer flerte com estatismo, socialismo ou bobagem congênere. É que o estado existe e deve existir para isto mesmo: não atrapalhar os indivíduos nos tempos virtuosos e intervir quando as regras do jogo não bastam para garantir a continuidade do... jogo!
Afinal, Luiz, "nós" sustentamos o estado. E ele deve servir para alguma coisa, não é?, além de tolher a nossa liberdade e encher o nosso saco.Sei que há alguns a defender, em nome do que chamam de "fundamentos" do liberalismo, o "deixa quebrar". Será isso mesmo liberalismo? Eu não tenho nenhuma saudade intelectual (já que nasci em 1961) dos efeitos políticos da quebradeira de 1930. Tampouco gostaria de ver o país que ainda é o maior fiador da democracia ocidental mergulhado na depressão.
Coggiola certamente cobraria de "nós", os liberais, o mesmo que defendem os mal chamados "fundamentalistas" (*): "Deixa quebrar". Sua utopia, num mundo convulsionado, em depressão, lhe pareceria mais próxima...(*) Escrevo "mal chamados fundamentalistas" porque um "fundamentalista" tem de recorrer ao fundamento. E o fundamento principal é fazer funcionar a economia de mercado. Defender, pois, a quebradeira geral em nome do suposto fundamento é só uma estupidez sectária.
Post alterado às 17h41
FONTE: WWW.REINALDOAZEVEDO.COM.BR
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sábado, 25 de outubro de 2008
Preço do petróleo caiu pela metade em um mês; entenda por quê
UOL ECONOMIA, 24/10/2008 - 08h04
Ana Carolina LourençonEm São Paulo
O preço do petróleo caiu pela metade em um mês, indo de US$ 120 para US$ 66,75 na Bolsa de Nova York. O motivo que levou a essa mudança brusca divide a opinião de especialistas.
Segundo um estudo feito pelo analista do setor de petróleo da Corretora Souza Barros Clodoir Vieira, no momento que o barril de petróleo atingiu o pico de pontuação, em torno de US$ 140 (em junho), a cada dez contratos, apenas um tinha a liquidação física realizada.
"Isto significa que na época havia uma especulação muito forte, todo mundo achava que o preço do barril iria explodir", afirma.
A opinião é compartilhada pelo analista da corretora Agora Sênior Luiz Otávio Broad.
"A subida do petróleo para US$ 140 certamente foi especulação, até porque, quando começou essa escalada, já existia um cenário de provável desaquecimento da economia e redução da demanda e mesmo assim o barril subia forte. Com o agravamento da crise, a procura passou a cair efetivamente e as posições especulativas em cima do petróleo foram desmontadas", afirma.
Mas, para o analista da consultoria Tendências Walter de Vitto, existiram outras forças maiores que levaram o petróleo do "céu ao inferno" nas últimas semanas.
"Sempre existiram pessoas apostando no petróleo, mas não dá para dizer que a disparada ou o desabamento dos preços foi uma conseqüência da especulação. Acredito que quem especula pode apenas acelerar o movimento de flutuação dos preços, para cima ou para baixo, mas não ser o causador desse fenômeno", diz.
Vitto avalia que houve dois principais fatores que contribuíram para que a cotação do barril despencasse à metade em um período de tempo tão curto.
A demanda por petróleo é muito sensível ao desempenho da economia. Como houve uma deterioração no quadro de crescimento mundial, com a escassez de crédito e queda da intenção de consumo, algumas indústrias já reduziram seus investimentos e cortaram parte da demanda por petróleo, pressionando os preços para baixo.
Na outra ponta, a valorização expressiva do dólar frente às demais moedas também contribuiu para o abrandamento nos preços do petróleo.
"O petróleo é vendido em dólar, e, quando a moeda se valoriza, o produto fica mais caro para quem opera com outras divisas e, por isso, é preciso que o barril fique mais barato para haver um equilíbrio"
Na opinião da analista da corretora Ativa Mônica Araújo, existe uma terceira causa responsável por reduzir os preços do petróleo, que é a sensação de insegurança que se proliferou entre os investidores.
"Todas as commodities têm seus negócios baseados em perspectivas de crescimento da economia. Como esse cenário hoje é uma incógnita, os investidores optam por tirar seus recursos do mercado de petróleo, no caso, para alocá-los em aplicações consideradas mais seguras em momentos de crise, como os títulos do Tesouro norte-americano", diz.
Preços
Se a recessão nos Estados Unidos se concretizar, o preço do petróleo pode cair a preços mais baixos do que os que estão sendo observados nos últimos dias, por conta de uma desaceleração mais profunda da demanda, explicam analistas do setor de energia.
Segundo Luiz Otávio Broad, os Estados Unidos correspondem a 25% da demanda total por petróleo e derivados no mundo. Portanto, qualquer problema mais grave na economia norte-americana, sobretudo uma recessão, deverá causar impactos importantes na cotação da commodity.
"Sempre diziam que o preço do petróleo era ditado pelo consumo na China. Mas a demanda chinesa equivale a apenas 10% de todo o mercado, portanto, não é tão representativa como a dos Estados Unidos e não deve ser responsável por manter um preço muito alto", afirma Broad.
"Os países emergentes devem continuar sustentando o mercado de petróleo, mas, se as economias desenvolvidas pararem de crescer como está sendo previsto, a demanda será afetada de forma incisiva e vai causar queda nos preços, porque esses países têm um peso importante", diz o analista do setor de petróleo da Consultoria Tendências, Walter de Vito.
Com a redução no nível de atividade econômica mundial,a projeção é que os preços do petróleo continuem abaixo de US$ 100, a menos que haja um problema de oferta muito grande, como uma explosão em dutos, que seja capaz de causar nova alta nos preços.
"Vejo o preço do petróleo entre US$ 70 e US$ 80 até o fim do primeiro semestre, pelo menos. Acima disso, já é caro", diz Vieira.
FONTE: UOL ECONOMIA
Ana Carolina LourençonEm São Paulo
O preço do petróleo caiu pela metade em um mês, indo de US$ 120 para US$ 66,75 na Bolsa de Nova York. O motivo que levou a essa mudança brusca divide a opinião de especialistas.
Segundo um estudo feito pelo analista do setor de petróleo da Corretora Souza Barros Clodoir Vieira, no momento que o barril de petróleo atingiu o pico de pontuação, em torno de US$ 140 (em junho), a cada dez contratos, apenas um tinha a liquidação física realizada.
"Isto significa que na época havia uma especulação muito forte, todo mundo achava que o preço do barril iria explodir", afirma.
A opinião é compartilhada pelo analista da corretora Agora Sênior Luiz Otávio Broad.
"A subida do petróleo para US$ 140 certamente foi especulação, até porque, quando começou essa escalada, já existia um cenário de provável desaquecimento da economia e redução da demanda e mesmo assim o barril subia forte. Com o agravamento da crise, a procura passou a cair efetivamente e as posições especulativas em cima do petróleo foram desmontadas", afirma.
Mas, para o analista da consultoria Tendências Walter de Vitto, existiram outras forças maiores que levaram o petróleo do "céu ao inferno" nas últimas semanas.
"Sempre existiram pessoas apostando no petróleo, mas não dá para dizer que a disparada ou o desabamento dos preços foi uma conseqüência da especulação. Acredito que quem especula pode apenas acelerar o movimento de flutuação dos preços, para cima ou para baixo, mas não ser o causador desse fenômeno", diz.
Vitto avalia que houve dois principais fatores que contribuíram para que a cotação do barril despencasse à metade em um período de tempo tão curto.
A demanda por petróleo é muito sensível ao desempenho da economia. Como houve uma deterioração no quadro de crescimento mundial, com a escassez de crédito e queda da intenção de consumo, algumas indústrias já reduziram seus investimentos e cortaram parte da demanda por petróleo, pressionando os preços para baixo.
Na outra ponta, a valorização expressiva do dólar frente às demais moedas também contribuiu para o abrandamento nos preços do petróleo.
"O petróleo é vendido em dólar, e, quando a moeda se valoriza, o produto fica mais caro para quem opera com outras divisas e, por isso, é preciso que o barril fique mais barato para haver um equilíbrio"
Na opinião da analista da corretora Ativa Mônica Araújo, existe uma terceira causa responsável por reduzir os preços do petróleo, que é a sensação de insegurança que se proliferou entre os investidores.
"Todas as commodities têm seus negócios baseados em perspectivas de crescimento da economia. Como esse cenário hoje é uma incógnita, os investidores optam por tirar seus recursos do mercado de petróleo, no caso, para alocá-los em aplicações consideradas mais seguras em momentos de crise, como os títulos do Tesouro norte-americano", diz.
Preços
Se a recessão nos Estados Unidos se concretizar, o preço do petróleo pode cair a preços mais baixos do que os que estão sendo observados nos últimos dias, por conta de uma desaceleração mais profunda da demanda, explicam analistas do setor de energia.
Segundo Luiz Otávio Broad, os Estados Unidos correspondem a 25% da demanda total por petróleo e derivados no mundo. Portanto, qualquer problema mais grave na economia norte-americana, sobretudo uma recessão, deverá causar impactos importantes na cotação da commodity.
"Sempre diziam que o preço do petróleo era ditado pelo consumo na China. Mas a demanda chinesa equivale a apenas 10% de todo o mercado, portanto, não é tão representativa como a dos Estados Unidos e não deve ser responsável por manter um preço muito alto", afirma Broad.
"Os países emergentes devem continuar sustentando o mercado de petróleo, mas, se as economias desenvolvidas pararem de crescer como está sendo previsto, a demanda será afetada de forma incisiva e vai causar queda nos preços, porque esses países têm um peso importante", diz o analista do setor de petróleo da Consultoria Tendências, Walter de Vito.
Com a redução no nível de atividade econômica mundial,a projeção é que os preços do petróleo continuem abaixo de US$ 100, a menos que haja um problema de oferta muito grande, como uma explosão em dutos, que seja capaz de causar nova alta nos preços.
"Vejo o preço do petróleo entre US$ 70 e US$ 80 até o fim do primeiro semestre, pelo menos. Acima disso, já é caro", diz Vieira.
FONTE: UOL ECONOMIA
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